Quarta, 10 de fevereiro de 2021

(Gn 2,4-9.15-17; Sl 103[104]; Mc 7,14-23) 

5ª Semana do Tempo Comum.

“O que torna impuro o homem não é o que entra nele, vindo de fora, mas o que sai do seu interior”

Mc 7,15.

“O formalismo, que é uma praga em inúmeros setores da vida, na religião se supera, como praga, evidentemente. Vem, por exemplo, Jesus a pregar o arrependimento, conversão, fé, amor, liberdade – e o velho formalismo logo arma seu guarda-chuva de porco-espinho e contra-ataca: ‘Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos? Pois não lavam as mãos quando comem pão’ (Mt 15,2). A esse formalismo, que poderíamos interpretar erradamente como noções de higiene, Jesus responde com energia: ‘O que mancha o homem é o que sai do homem’. Com isso ele mostra que o mal não está nas coisas (alimentos, por exemplo) nem na falta de rituais (lavar as mãos), mas, sim, no íntimo de cada ser. Por que, então, o formalismo resiste tanto em nossas igrejas e, principalmente, em nossa vivência religiosa pessoal? Há, pelo menos, quatro motivos: 1º) reduz o problema do mal a simples regrinhas; 2º) reduz a prática do bem ao cumprimento dessas mesmas regrinhas, o que nos livra de nos envolvermos com as dores e carências do próximo; 3º) dá-nos a alegre sensação do dever cumprido; 4º) coloca-nos em plano de superioridade em relação àqueles que não cumprem. Com esse coquetel, facilmente nos embriagamos. O tapa das palavras de Cristo, no entanto, nos acorda e muda nossas concepções e ações. E não poderia ser de outro modo, pois, se Deus nos perdoa por sua misericórdia, são obras de misericórdia plena que ele quer de nós e não artifícios do oco formalismo. – Senhor Jesus, facilmente minha fé se esquece das formas do teu amor e se esclerosa nas rígidas formas de egoísmo e hipocrisia. Dá-me, pelo poder do teu Espírito, a fé que não esconde culpa nem procura desculpa, mas que vê o mal e provê o bem. Amém (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffman – Graças a Deus [1995] – Vozes).

  Pe. João Bosco Vieira Leite