(Gn 2,4-9.15-17; Sl 103[104]; Mc 7,14-23)
5ª Semana do Tempo Comum.
“O que torna impuro o homem não é
o que entra nele, vindo de fora, mas o que sai do seu interior”
Mc 7,15.
“O formalismo, que é uma praga em
inúmeros setores da vida, na religião se supera, como praga, evidentemente.
Vem, por exemplo, Jesus a pregar o arrependimento, conversão, fé, amor,
liberdade – e o velho formalismo logo arma seu guarda-chuva de porco-espinho e
contra-ataca: ‘Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos?
Pois não lavam as mãos quando comem pão’ (Mt 15,2). A esse formalismo, que
poderíamos interpretar erradamente como noções de higiene, Jesus responde com
energia: ‘O que mancha o homem é o que sai do homem’. Com isso ele mostra que o
mal não está nas coisas (alimentos, por exemplo) nem na falta de rituais (lavar
as mãos), mas, sim, no íntimo de cada ser. Por que, então, o formalismo resiste
tanto em nossas igrejas e, principalmente, em nossa vivência religiosa pessoal?
Há, pelo menos, quatro motivos: 1º) reduz o problema do mal a simples
regrinhas; 2º) reduz a prática do bem ao cumprimento dessas mesmas regrinhas, o
que nos livra de nos envolvermos com as dores e carências do próximo; 3º)
dá-nos a alegre sensação do dever cumprido; 4º) coloca-nos em plano de
superioridade em relação àqueles que não cumprem. Com esse coquetel, facilmente
nos embriagamos. O tapa das palavras de Cristo, no entanto, nos acorda e muda
nossas concepções e ações. E não poderia ser de outro modo, pois, se Deus nos
perdoa por sua misericórdia, são obras de misericórdia plena que ele quer de
nós e não artifícios do oco formalismo. – Senhor Jesus, facilmente
minha fé se esquece das formas do teu amor e se esclerosa nas rígidas formas de
egoísmo e hipocrisia. Dá-me, pelo poder do teu Espírito, a fé que não esconde
culpa nem procura desculpa, mas que vê o mal e provê o bem. Amém” (Martinho Lutero e Iracy
Dourado Hoffman – Graças a Deus [1995] – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite