Quinta, 06 de junho de 2019


(At 22,30; 23,6-11; Sl 15[16]; Jo 17,20-26) 
7ª Semana da Páscoa.

“Pai santo, eu não te rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pela sua palavra; para que todos sejam um, como tu, Pai estás em mim e eu em ti, e para que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que me enviaste” Jo 17,20-21.

“Ao final da oração sacerdotal, Jesus não reza apenas pelo grupo de seus discípulos, mas também pela comunidade eclesial de todos os tempos. E a causa que mais preocupa é a da unidade. Nem mesmo nos primórdios da Igreja a unidade era uma característica indiscutível entre os discípulos de Jesus. Desde o início se registraram divergências e conflitos. E sempre houve dissidências. Jesus dá tanta importância à unidade porque nela se manifesta a glória de Deus. A nova convivência é a expressão do amor de Deus nesse mundo. Com a sua morte de cruz, Jesus dirige a todos os cristãos o seu pedido insistente para que deixem de lado os próprios interesses de poder formando um só no amor de Jesus, para que Deus seja glorificado também por meio deles. Mas além da Igreja, João visa com esse pedido pela unidade também o indivíduo. Os gregos tinham uma filosofia própria da unidade. A aspiração fundamental dos gregos dirigia-se ao ‘to hen’, pois em sua condição humana sentiam-se dilacerados pelas emoções, divididos entre o espírito e os impulsos, entre a solidão e a comunhão, entre o céu e a terra. A cruz, símbolo genuíno da unidade e de todos os antagonismos, quer ser o sinal de esperança para os homens divididos, suspendendo no amor de Jesus todas as desavenças e intransigências. Jesus, em que Deus se fez carne, é o símbolo dessa unidade. Nele se realizou a unidade entre o divino e o humano, entre a luz e as trevas, entre o espírito e a matéria. Jesus nos mostra o caminho da unificação. Devemos ser um como o Pai e o Filho são um. Descendo à terra, Jesus elevou tudo o que está disperso, integrando-o na unidade de Deus. Como Jesus, também nós devemos descer nos abismos de nossa alma para elevar a Deus tudo o que é treva, caos, doença e desventura. Quando tudo o que está dentro de nós for penetrado pela luz e pelo amor de Deus, brilhará em nós a glória de Deus e tudo será uma coisa só com Deus. Para João, encarnação significa descer com Jesus ao pó da terra e levar toda a sujeira e poeira para a união com Deus. Então não haverá mais nada que não seja manifestação da glória de Deus, e Deus será glorificado em tudo. Clemente de Alexandria afirma que o ser humano se transforma em unidade ‘quando é deificado num estado puro, livre de toda paixão’. A unidade é a meta do caminho que nos leva a sermos nós mesmos. Não podemos atingir essa meta por nossas próprias forças; é necessário que Deus unifique tudo dentro de nós” (Anselm Grun – Jesus: porta para a vida– Loyola). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite