(At 22,30; 23,6-11; Sl 15[16]; Jo 17,20-26)
7ª Semana da Páscoa.
“Pai santo, eu não te
rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pela sua
palavra; para que todos sejam um, como tu, Pai estás em mim e eu em ti, e para
que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que me enviaste” Jo 17,20-21.
“Ao final da oração
sacerdotal, Jesus não reza apenas pelo grupo de seus discípulos, mas também
pela comunidade eclesial de todos os tempos. E a causa que mais preocupa é a da
unidade. Nem mesmo nos primórdios da Igreja a unidade era uma característica
indiscutível entre os discípulos de Jesus. Desde o início se registraram
divergências e conflitos. E sempre houve dissidências. Jesus dá tanta
importância à unidade porque nela se manifesta a glória de Deus. A nova
convivência é a expressão do amor de Deus nesse mundo. Com a sua morte de cruz,
Jesus dirige a todos os cristãos o seu pedido insistente para que deixem de lado
os próprios interesses de poder formando um só no amor de Jesus, para que Deus
seja glorificado também por meio deles. Mas além da Igreja, João visa com esse
pedido pela unidade também o indivíduo. Os gregos tinham uma filosofia própria
da unidade. A aspiração fundamental dos gregos dirigia-se ao ‘to hen’, pois em
sua condição humana sentiam-se dilacerados pelas emoções, divididos entre o
espírito e os impulsos, entre a solidão e a comunhão, entre o céu e a terra. A
cruz, símbolo genuíno da unidade e de todos os antagonismos, quer ser o sinal
de esperança para os homens divididos, suspendendo no amor de Jesus todas as
desavenças e intransigências. Jesus, em que Deus se fez carne, é o símbolo
dessa unidade. Nele se realizou a unidade entre o divino e o humano, entre a
luz e as trevas, entre o espírito e a matéria. Jesus nos mostra o caminho da
unificação. Devemos ser um como o Pai e o Filho são um. Descendo à terra, Jesus
elevou tudo o que está disperso, integrando-o na unidade de Deus. Como Jesus,
também nós devemos descer nos abismos de nossa alma para elevar a Deus tudo o
que é treva, caos, doença e desventura. Quando tudo o que está dentro de nós
for penetrado pela luz e pelo amor de Deus, brilhará em nós a glória de Deus e
tudo será uma coisa só com Deus. Para João, encarnação significa descer com
Jesus ao pó da terra e levar toda a sujeira e poeira para a união com Deus.
Então não haverá mais nada que não seja manifestação da glória de Deus, e Deus
será glorificado em tudo. Clemente de Alexandria afirma que o ser humano se
transforma em unidade ‘quando é deificado num estado puro, livre de toda
paixão’. A unidade é a meta do caminho que nos leva a sermos nós mesmos. Não
podemos atingir essa meta por nossas próprias forças; é necessário que Deus
unifique tudo dentro de nós” (Anselm Grun – Jesus:
porta para a vida– Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite