Terça, 22 de janeiro de 2019


(Hb 6,10-20; Sl 110[111]; Mc 2,23-28) 
2ª Semana do Tempo Comum.

“E acrescentou: ‘O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado. Portanto, o Filho do homem é o senhor também do sábado’” Mc 2,27-28.

“A controvérsia com os fariseus continua na questão do preceito da observância do sábado. Deus deu aos homens o sábado para que nesse dia possam descansar de seu trabalho, participando assim do descanso do próprio Deus. O sábado é um benefício para os seres humanos. Os fariseus procuram proteger o sábado por meio de prescrições. Sua intenção era certamente favorável aos homens. Queriam que as pessoas descansassem realmente. Mas eles exageraram na dose. O que se destinava originalmente à fruição do descanso transformou-se em empecilho da liberdade humana. A letra tornou-se mais importante que o sentido dela. Claro, havia também os fariseus mais liberais, como por exemplo os da escola de Hilel, que pensavam mais ou menos como Jesus. Jesus não se opõe radicalmente à tradição judaica e aos fariseus. Ele apenas exige o direito de interpretar as leis à sua maneira. Para tanto, ele não apela para outras escolas de interpretação, mas confia na sua própria sensibilidade a respeito de Deus e dos homens. Para os fariseus da observância estrita, arrancar espigas ao caminhar equivalia a trabalho de colheita. Nos dias úteis era perfeitamente admissível arrancar espigas, mesmo que fosse de plantações alheias, contanto que estivessem com fome. Mas no sábado tal prática era proibida. Jesus argumenta com um exemplo de David, que certa vez entrou na casa de Deus e consumiu os pães sagrados. É um relato livre de 1Sm 21,1-10, em que se diz que David chegou à casa do sacerdote Abimélek para lhe pedir cinco pães. Como o sacerdote não tivesse pão comum, deu-lhes os pães consagrados. Como David, Jesus também se sente livre para permitir a seus discípulos infringir o mandamento de observar o sábado quando estão com fome. E ele justifica essa liberdade com uma referência à vontade original de Deus: ‘O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado’ (2,27). Jesus declara assim conhecer a vontade de Deus. E ela remonta à criação do mundo. Ao pé da letra, Jesus diz o seguinte: ‘O sábado foi criado para o homem (por causa do homem), e não o homem para o sábado’. Com essa afirmação, ele não se coloca fora da tradição judaica. Por volta do ano 180 a.C., o rabi Shimeon formulara essa ideia de maneira semelhante: ‘O sábado foi entregue a vós, não vós fostes entregues ao sábado’ (Gnilka, 123). Na verdade, o rabi Shimeon só estava se referindo a uma situação aguda de perigo de vida. Jesus pronuncia essas palavras com muita liberdade. Até mesmo a fome de seus discípulos é motivo suficiente para não obedecer às normas legalistas que regem a observância do sábado. O que importa é sempre o sentido das leis e não a rigidez da letra”(Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite