Segunda, 14 de janeiro de 2019


(Hb 1,1-6; Sl 96[97]; Mc 1,14-20) 
1ª Semana do Tempo Comum.

“O tempo já se completou e o reino de Deus está próximo. Converte-vos e crede no evangelho!” Mc 1,15.

“A religião farisaica fazia-se sentir como peso opressor sobre o povo. Os chefes interpretavam a lei de Javé de modo tão rígido e exagerado, que era carga pesada demais. Este fardo punham-no sobre os outros e eles mesmos não colocavam a ponta do dedo para ajudar a carregá-lo (Mt 23,4). A prática da lei fundamental do amor a Javé e ao próximo foi traduzida em tantas pequenas e minuciosas prescrições, que o pobre povo judeu tinha perdido a perspectiva do essencial e se sentia esmagado sob o peso de tão numerosos preceitos. E como não podiam observá-los, tinham o complexo de pecadores, enquanto os fariseus eram santos. A parábola do publicano e fariseu é retrato da época. Se o povo simples tivesse de responder à pergunta de Jesus, de quem voltou para casa justificado, teria dito sem hesitar: o fariseu. Mas Jesus respondeu o contrário. Era uma revolução no mundo de valor daquele povo. O povo, no juízo dos fariseus, e também no seu pobre e humilde juízo, era nascido todo no pecado, enquanto eles, os fariseus, sabiam a lei do Senhor. A renovação de Jesus veio pôr fim a este estado: ‘Esgotou-se o prazo! O reino de Deus está aí. Mudem de vida! Acreditem nesta boa notícia’ (Mc 1,15). As palavras e atitudes de Jesus vão inverter todo o sistema construído pelos fariseus. Por que? Porque ele colocará os valores dentro da pessoa, valorizará o homem e ajudá-lo-á a crescer quebrando a segurança vinda de uma observância formal, de uma distinção de bons e maus conforme seu grau de observância externa da lei. A lei é para libertar o homem e não oprimi-lo. O seu objetivo é abrir o homem para Deus e seu irmão, e não torna-lo impiedoso, severo, rígido, acusador de seu irmão. Cristo revolucionou o mundo religioso de Israel, e com isto todo o seu mundo, já que o religioso era o elemento dominador. Jesus, libertando o judeu da escravidão da lei, interpretada pelos judeus, dando-lhe verdadeiro sentido, fez grande obra libertadora. Ele repetiu o êxodo. O novo Egito era o formalismo. Portanto, dele devia Cristo libertar o povo. O evangelho repete o êxodo. Esta tese de C. Mesters toca de fato no cerne da questão do evangelho, como privatizante ou político. Ele não é libertação puramente individual, particular. Ele tem força tremenda de libertar os homens das opressões que verdadeiramente subjugam. O perigo de ideologizá-lo consiste, pois, em querer fazer dele bandeira guerreira, ou opressora. O evangelho não permite tal ideologização. Faz explodir toda opressão, todo uso interessado dele. Jesus teria fracassado na sua missão, se tivesse libertado o judeu da opressão farisaica ou romana, para colocar sob outra opressão. Portanto, o sentido da salvação que Cristo nos trouxe vai numa linha de libertação das forças opressoras do homem” (J. B. Libânio – Vida religiosa e testemunho público – Conferência dos religiosos do Brasil).

 Pe. João Bosco Vieira Leite