(Hb 1,1-6; Sl 96[97]; Mc 1,14-20)
1ª Semana do Tempo Comum.
“O tempo já se
completou e o reino de Deus está próximo. Converte-vos e crede no evangelho!” Mc 1,15.
“A religião farisaica
fazia-se sentir como peso opressor sobre o povo. Os chefes interpretavam a lei
de Javé de modo tão rígido e exagerado, que era carga pesada demais. Este fardo
punham-no sobre os outros e eles mesmos não colocavam a ponta do dedo para
ajudar a carregá-lo (Mt 23,4). A prática da lei fundamental do amor a Javé e ao
próximo foi traduzida em tantas pequenas e minuciosas prescrições, que o pobre
povo judeu tinha perdido a perspectiva do essencial e se sentia esmagado sob o
peso de tão numerosos preceitos. E como não podiam observá-los, tinham o
complexo de pecadores, enquanto os fariseus eram santos. A parábola do
publicano e fariseu é retrato da época. Se o povo simples tivesse de responder
à pergunta de Jesus, de quem voltou para casa justificado, teria dito sem
hesitar: o fariseu. Mas Jesus respondeu o contrário. Era uma revolução no mundo
de valor daquele povo. O povo, no juízo dos fariseus, e também no seu pobre e
humilde juízo, era nascido todo no pecado, enquanto eles, os fariseus, sabiam a
lei do Senhor. A renovação de Jesus veio pôr fim a este estado: ‘Esgotou-se o
prazo! O reino de Deus está aí. Mudem de vida! Acreditem nesta boa notícia’ (Mc
1,15). As palavras e atitudes de Jesus vão inverter todo o sistema construído
pelos fariseus. Por que? Porque ele colocará os valores dentro da pessoa,
valorizará o homem e ajudá-lo-á a crescer quebrando a segurança vinda de uma
observância formal, de uma distinção de bons e maus conforme seu grau de
observância externa da lei. A lei é para libertar o homem e não oprimi-lo. O
seu objetivo é abrir o homem para Deus e seu irmão, e não torna-lo impiedoso,
severo, rígido, acusador de seu irmão. Cristo revolucionou o mundo religioso de
Israel, e com isto todo o seu mundo, já que o religioso era o elemento
dominador. Jesus, libertando o judeu da escravidão da lei, interpretada pelos
judeus, dando-lhe verdadeiro sentido, fez grande obra libertadora. Ele repetiu
o êxodo. O novo Egito era o formalismo. Portanto, dele devia Cristo libertar o
povo. O evangelho repete o êxodo. Esta tese de C. Mesters toca de fato no cerne
da questão do evangelho, como privatizante ou político. Ele não é libertação
puramente individual, particular. Ele tem força tremenda de libertar os homens
das opressões que verdadeiramente subjugam. O perigo de ideologizá-lo consiste,
pois, em querer fazer dele bandeira guerreira, ou opressora. O evangelho não
permite tal ideologização. Faz explodir toda opressão, todo uso interessado
dele. Jesus teria fracassado na sua missão, se tivesse libertado o judeu da
opressão farisaica ou romana, para colocar sob outra opressão. Portanto, o
sentido da salvação que Cristo nos trouxe vai numa linha de libertação das
forças opressoras do homem” (J. B. Libânio – Vida religiosa e
testemunho público – Conferência dos religiosos do Brasil).
Pe. João Bosco Vieira Leite