Segunda, 28 de janeiro de 2018


(Hb 9,15.24-28; Sl 97[98]; Mc 3,22-30) 
3ª Semana do Tempo Comum.

“Os mestres da lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava possuído por Belzebu e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os demônios” Mc 3,22.

“A estrutura de ‘sanduiche’ (em que duas narrativas são encaixadas de tal maneira que uma serve de moldura à outra), que é típica para o Evangelho de Marcos, estabelece uma ligação entre as duas visitas dos parentes de Jesus e as acusações dos escribas de que Jesus era possuído por Belzebu. Marcos aproveita essa composição do texto para expressar uma verdade teológica: até os parentes mais próximos de Jesus correm o risco de demonizar Jesus. É a forma mais sutil de rejeição: recorrer à patologização do adversário. O outro é apresentado como doente psíquico, como possuído pelo demônio. Essa atitude dispensa maiores atenções e análises. [...] Estes acusam Jesus de estar possuído por Belzebu e de expulsar os demônios com a ajuda do chefe dos demônios. Os exegetas não são unânimes quanto ao significado da palavra Belzebu. É provável que signifique ‘senhor da casa’, o seja, o chefe dos demônios que comanda a casa dos demônios. Como os familiares de Jesus, os fariseus também se recusam a analisar seriamente a mensagem de Jesus. Preferem falar mal dele, acusando-o de estar mancomunado com os demônios. Até hoje é esse o método usual para manter opiniões divergentes a distância. Estas são qualificadas de produtos de alguma doença psíquica, de modo que dispensam qualquer envolvimento mais sério com as respectivas palavras ou atos. Tudo não passa de manifestação dessa doença. Jesus não aceita esse papel de doente mental possuído pelo demônio. Ele refuta seus adversários contando uma parábola: ‘Como é que Satanás pode expulsar Satanás? Se um reino está dividido contra si mesmo, esse reino não pode se manter’ (3,23-24). Assim ele mostra que as acusações dos escribas são absurdas. Porque, nesse caso, os demônios já não possuiriam poder nenhum. Mas o que vale para a casa dos demônios aplica-se também à família. Uma família dividida contra si mesma não poderá subsistir (3,25). Trata-se de uma advertência dirigida à comunidade cristã. Para Marcos, essa associação das duas visitas da família com a acusação da possessão demoníaca vai além do confronto de Jesus com sua família original. Ele visa sobretudo o perigo que ronda a comunidade cristã: a divisão. O risco maior vem do fungo esquizogênico disseminado pela acusação de que membros da comunidade estariam mancomunados com os demônios, de que sua pregação e seu comportamento obedeceriam a ordens vindas dos demônios. Jesus chama essa atitude dos escribas de pecado contra o Espírito Santo. Quem afirma a respeito de um outro, que o deixa inseguro, que é possuído por um espírito impuro peca contra o Espírito Santo que fala por intermédio dele. Uma pessoa dessa age contra sua consciência, pois em seu íntimo sabe bem que o outro tem uma mensagem importante que precisa ser encarada. Mas ela se nega a enfrentar o desafio representado pelo outro. Prefere taxá-lo de doente mental” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).

  Pe. João Bosco Vieira Leite