Batismo do Senhor – Ano C


(Is 42,1-4.6-7; Sl 28[29]; At 10,34-38; Lc 3,15-16.21-22).

“Acabamos de celebrar as festas ligadas à Natividade do Salvador. Seguimos a estrela, adoramos com os Magos, penetramos na luz com os pastores, cantamos com os anjos Glória. Hoje o Cristo irradia luz, participemos do seu novo esplendor. O Cristo é batizado; mergulhemos com ele no banho para com Ele ressuscitarmos.
Jesus é batizado. Vejamos mais longe, observemos todos os detalhes. Quem é batizado? Quem é o ministro? Qual o momento escolhido? Não é a própria santidade Aquele que se deixa batizar por João, ao entra na vida apostólica? Encontramos nessa passagem uma revelação e um ensinamento: primeiramente uma exigência de pureza, de humildade, de maturidade física e espiritual para aquele que deseja entregar-se ao ministério. Ousareis desprezar a purificação à vista de Jesus que acaba de sujeitar-se a ela? Ele recorre a João. E vós, ergueis a cabeça contra vosso mestre? Jesus espera a idade de trinta anos. E vós, ainda meninos, pretendeis ensinar?
João batizava. Jesus se lhe apresenta talvez para santificar aquele que ia batizá-lo e certamente para sepultar de todo, nas águas do rio, o velho Adão. Antes, porém, de tudo isso, pretendia consagrar as águas do Jordão. Ele que era espírito e carne, queria restaurar o homem no Espírito, mas pela água.
O Batista se recusa. Jesus insiste. ‘Eu devo ser batizado por ti’, diz a lâmpada ao Sol, a voz ao Verbo, o amigo ao Esposo, o maior dos filhos de mulher ao primogênito de toda a criação.
Jesus retorna da água, elevando consigo o mundo inteiro. Então, ele vê os céus abertos, os céus que Adão fechara para si e sua descendência, como que interditando com uma espada de fogo a entrada do Paraíso. O Espírito vem unir-se ao seu igual, como penhor da divindade. Desce do céu uma voz como testemunho Àquele que viera do céu. Aprece aos olhos humanos a figura de uma pomba para honrar, dessa maneira, a carne que se diviniza, que se identifica a Deus.
Consagremos, pois, este dia, ao batismo de Cristo, festejando-o como convém, não nas delícias da mesa, mas na alegria do Espírito. De que maneira festejaremos? ‘Lavai-vos, purificai-vos! Se vossos pecados forem escarlates, tornar-se-ão brancos como a neve’. Ainda que sejais vermelhos como a púrpura ou o sangue, ‘tornai-vos brancos como a lã’. Purificai-vos, sede santos! Coisa alguma alegra tanto a Deus como a regeneração e a salvação do homem, desse homem que recebe a palavra divina e aceita os misteriosos desígnios do Senhor”. (Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo – Ofício de Leituras – Liturgia das Horas  Volume I)
* A tradução é dos anos 70, antes da reforma da atual Liturgia das Horas no Brasil. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite