(Hb 7,1-3.15-17; Sl 109[110]; Mc 3,1-6)
2ª Semana do Tempo Comum.
“Jesus entrou de novo
na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca” Mc 3,1.
“Durante o culto na
sinagoga, Jesus repara num homem com a mão paralisada. Posso imaginar o que
tenha sido o problema desse homem: é com a mão que damos forma à nossa vida, e
costuma-se dizer que ‘pomos mão à obra’. Tomamos a vida em nossas mãos. Tomamos
o que precisamos e damos o que temos para dar. Damos a mão uns aos outros,
tocamo-nos com a mão. Entramos em contato. Damos apoio. Com a mão exprimimos
carinho e amor. A mão paralisada revela um ser humano que se conformou, que se
retraiu. Não quer queimar os dedos, não quer sujar as mãos. Ele se retirou da
luta pela existência, contentando-se com o papel de espectador. De tanto
conformar-se, perdeu a força. Não se espera mais nada dele. Já não pode tomar
nada em suas mãos, já não pode formar e transformar nada. Tornou-se incapaz de
agir. Era sábado. No sábado era proibido curar. Só quando a vida corria perigo,
os fariseus podiam curar alguém. Eles davam mais valor à observância do sábado
do que à cura dos homens. Assim deturparam o sentido original do sábado. Mas
Jesus não se deixa tolher pelos fariseus. Ordena ao homem que tem a mão
paralisada: ‘Levanta-te! Vem para o meio’ (3,3). Este, acostumado a
encolher-se, a observar tudo a distância. A atirar da segunda linha em vez de
assumir a responsabilidade, vê-se na contingência de ter de ocupar o centro, de
colocar-se na frente dos outros. Com essa ordem, Jesus parece dizer: ‘Tu és
importante. O centro é o lugar para ti’. E para nós ele diz: ‘Levanta-te!
Ergue-te nas próprias pernas. Fica no centro. Saíste do teu próprio meio’. É um
desafio e tanto para o homem da mão paralisada. Ele precisa abandonar sua
posição cômoda de espectador. Precisa enfrentar a atenção dos outros. No
centro, ele se vê observado por todos. Acontece-lhe justamente aquilo que ele
queria evitar a todo custo. Ele é o centro das atenções. Já não pode
esconder-se. Precisa assumir sua realidade. Jesus se volta, então aos outros.
Pela observação final em 3,6 sabemos que se trata de fariseus. Mas é provável
que tenha havido mais pessoas, ciosas da lei, que queriam ver se Jesus
respeitava as regras do sábado. Jesus parece estar sozinho diante de um muro de
silêncio e hostilidade. Mas ele está seguro de si, tem consciência do que faz.
Quando Jesus aparece, trata-se sempre de uma presença total. Sua vitalidade faz
que ninguém possa esquivar-se dele. Não há como desconhecê-lo, porque seu
carisma é muito forte. É necessário tomar posição. “Diante dele aflora nosso
íntimo”(Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade –
Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite