Sexta, 07 de dezembro de 2018


(Is 29,17-24; Sl 26[27]; Mt 9,27-31) 
1ª Semana do Advento.

“Então Jesus tocou nos olhos deles dizendo: ‘faça-se conforme a vossa fé’ Mt 9,29.

“Dois homens são curados, os dois por contato. A cura não é imediata, mas só depois de um novo pedido. E antes de dar-se a cura, há uma conversa inusitada entre os dois homens. A conversação entre Jesus e o cego se torna o elemento central. O tema da fé salvadora, implícita desde o começo, no fim emerge explicitamente por meio da introdução à afirmação em 9,29 ‘tua fé merece isto, assim será feito para ti’, uma a firmação que não aparece em Mt 20 ou nos paralelos de Marcos e Lucas. Por meio de uma série de inspiradas adaptações Mateus mudou uma narração descritiva de um milagre, para características altamente individualistas, em uma cena ideal, uma espécie de paradigma, ilustrando a ligação entre fé e milagre. Mesmo uma leitura superficial das histórias-milagres em Mateus mostra que a fé é sempre anterior e não consequente do milagre. O milagre não suscita a fé ou lhe serve de base. O milagre não é explorado como propaganda. As histórias-milagres podem ter sido usadas na pregação cristã primitiva como meio de conversão do descrente, mas isso não está refletido no primeiro Evangelho. A ligação entre fé e milagre não pode ser explicada exclusivamente em termos psicológicos, como se a fé fosse simplesmente uma suscetibilidade psíquica. Algumas vezes, por exemplo, a fé em questão não é da pessoa doente, mas a de parentes ou amigos (cf. o servo do centurião, o paralítico, a filha do oficial). Também não se dirá que essa fé é simples confiança no poder milagroso de Jesus. Nas histórias de milagres, a fé sugere, não uma disposição interior, mas a manifestação dessa disposição. Em Mateus 9,2 Jesus ‘vê’ a fé dos amigos do paralítico. Essa fé aparece na ação que promove um encontro com Jesus. É bem definida por Held como ‘uma enérgica e importuna procura do auxílio de Deus’. Na maioria dos casos esta fé ativa precisa de desenvolver e alcançar seu fim em face de dificuldades especiais. Nem as diferenças nacionais (centurião) nem as multidões que atropelam (o paralítico) podem impedi-la. O milagre é sempre uma resposta a esta fé. É sempre apresentado como a realização de um desejo manifestado. Assim, não há conexão causal entre fé e milagre, mágica ou psicológica, exceto no sentido que uma pergunta pode ser causa de uma resposta. Mateus muitas vezes traz à tona a conexão íntima entre pedido e resposta, mas nunca sugere que o pedido necessita resposta. Podemos ver por outro ângulo a relação entre fé e milagre. Os milagres de Jesus eram ambivalentes. Nunca eram provas que necessitassem do consentimento da sua audiência. Eram sinais que podiam ser interpretados de modos diversos. Tanto podiam ser aceitos como recusados. De outra maneira é impossível explicar as hesitações dos discípulos, cuja fé variável é perceptível até a Ressurreição. Não temos o direito de assumir que a fé era fácil em qualquer tempo – menos ainda durante o ministério de Jesus” (J. Murphy e Ó Connor – Milagres em Mateus – Paulinas).  

Pe. João Bosco Vieira Leite