Quarta, 12 de dezembro de 2018

(Gl 4,4-7; Sl 95[96]; Lc 1,39-47) 
N. Sra. De Guadalupe.

“Então Maria disse: ‘A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador’” Lc 1,46-47.

“Numa época em que as mulheres não tinham acesso à cultura, nem mesmo podiam falar nas assembleias litúrgicas, a Bíblia nos apresenta uma bela plêiade de poetisas: Maria, irmã de Moisés; Débora; Ana, mãe de Samuel; Judite, e Maria, mãe de Jesus. Diziam os antigos: ‘Orat fit, poeta nascitur’ (o orador se faz, o poeta nasce). Em cada uma delas a poesia brotou como uma imperiosa necessidade de cantar as maravilhas do Senhor. O hino deveria explodir como uma erupção vulcânica, dando vazão a uma verdadeira enxurrada de sentimentos e emoções, impossíveis de serem abafados. Assim foi o cântico de Maria: ele irrompeu das profundezas de um vasto interior, onde se aninhavam os mais autênticos sentimentos de ação de graças. Ele tem raízes no passado; salta da garganta da cantora, libertando consigo uma revoada de evocações vetero testamentárias. Ao mesmo tempo, é a caixa de ressonância do momento histórico presente, onde palpitam as esperanças e os anseios de libertação de todo um povo. Mas é, acima de tudo, um cântico do futuro: ‘O cântico de Maria é o mais velho cântico de Advento. Ao mesmo tempo, é o cântico de Advento mais apaixonado, mais selvagem; quase diríamos: o mais revolucionário que já foi cantado. Nele não transparece aquela Maria doce e sonhadora das imagens correntes, mas uma Maria apaixonada, comprometida, entusiasta e audaz. Nada daqueles acordes melífluos e melancólicos de muitos cânticos natalinos; porém um cântico do poder de Deus e da impotência dos homens’ (D. Bonhoeffer)” – Senhor, dai-nos a graça de estar sempre em sintonia com o passado, o presente e o futuro do nosso povo. Que seus anseios e suas angústias possam repercutir em todas as fibras do nosso ser. Amém” (Geraldo Araújo Lima – Graças a Deus (1995) – Vozes).

 Pe. João Bosco Vieira Leite