N. Sra. De Guadalupe.
“Então Maria disse:
‘A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu
Salvador’” Lc 1,46-47.
“Numa época em que as
mulheres não tinham acesso à cultura, nem mesmo podiam falar nas assembleias
litúrgicas, a Bíblia nos apresenta uma bela plêiade de poetisas: Maria, irmã de
Moisés; Débora; Ana, mãe de Samuel; Judite, e Maria, mãe de Jesus. Diziam os
antigos: ‘Orat fit, poeta nascitur’ (o orador se faz, o poeta nasce). Em cada
uma delas a poesia brotou como uma imperiosa necessidade de cantar as
maravilhas do Senhor. O hino deveria explodir como uma erupção vulcânica, dando
vazão a uma verdadeira enxurrada de sentimentos e emoções, impossíveis de serem
abafados. Assim foi o cântico de Maria: ele irrompeu das profundezas de um
vasto interior, onde se aninhavam os mais autênticos sentimentos de ação de
graças. Ele tem raízes no passado; salta da garganta da cantora, libertando
consigo uma revoada de evocações vetero testamentárias. Ao mesmo tempo, é a
caixa de ressonância do momento histórico presente, onde palpitam as esperanças
e os anseios de libertação de todo um povo. Mas é, acima de tudo, um cântico do
futuro: ‘O cântico de Maria é o mais velho cântico de Advento. Ao mesmo tempo,
é o cântico de Advento mais apaixonado, mais selvagem; quase diríamos: o mais
revolucionário que já foi cantado. Nele não transparece aquela Maria doce e
sonhadora das imagens correntes, mas uma Maria apaixonada, comprometida,
entusiasta e audaz. Nada daqueles acordes melífluos e melancólicos de muitos
cânticos natalinos; porém um cântico do poder de Deus e da impotência dos
homens’ (D. Bonhoeffer)” – Senhor, dai-nos a graça de estar sempre em
sintonia com o passado, o presente e o futuro do nosso povo. Que seus anseios e
suas angústias possam repercutir em todas as fibras do nosso ser. Amém” (Geraldo Araújo
Lima – Graças a Deus (1995) – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite