(Is 49,1-6; Sl 138[139]; At 13,22-26; Lc 1,57-66.80).
1. A liturgia da Palavra para a
solenidade de João Batista vai buscar no Antigo Testamento o texto que fala da
vocação do ‘Servo do Senhor’ ou ‘Servo Sofredor’, aplicado no tempo quaresmal a
Jesus e aqui àquele que foi escolhido desde o ventre materno para preparar os
caminhos do Senhor.
2. Sabemos que a missão de João não foi
fácil e não será para ninguém que leve a sério o compromisso de viver o seu
batismo na consciência de que também nós, de alguma forma, preparamos os
caminhos do Senhor pelo nosso testemunho na vivência da fé.
3. O salmo 139, que bem conhecemos, nos
fala dessa experiência de um Deus não apenas onisciente, mas também
onipresente. Para qualquer coisa que vivamos, de bom ou de ruim, tudo está na
presença de Deus. Nunca nos perdemos e nunca nos separamos dele. Rezamos e
cantamos para compartilhar essa experiência de fé de Davi, do Batista e de
tantos outros que viveram uma plena entrega de sua vida a Deus e buscaram viver
na Sua presença.
4. É Paulo que melhor ilumina a vocação
específica de João e o insere na história maior do povo de Deus, apresentando-o
como o último dos profetas. É a última etapa da história salvífica que João
apresenta, reconhecendo que Quem vem é muito maior que ele.
5. Paulo recorda que sua missão como
pregador, sua humildade, ensinando a fixar o olhar em Jesus. A pregação de
Jesus também o surpreendeu, teve seus momentos de dúvida. O caminho da fé não
lhe foi fácil, pois também teve que se converter à novidade sobre Deus que
brotava dos lábios de Jesus. Também para nós nem sempre é fácil acolher Aquele
que vem como resposta definitiva para caminho que fazemos.
6. Mais concretamente somos lançados à
cena do seu nascimento, motivo da festa de hoje e exclusividade de são João e
da Virgem Maria, fora do nascimento de Cristo. Seu nascimento é a aurora de um
novo tempo, muitas promessas não muito claras dos profetas anteriores se
consolidarão com Aquele que João tem a nobre missão de preparar os caminhos.
7. Se tal nascimento é visto como um
ato de misericórdia de Deus para com Isabel, imagine quanto mais para com toda
a humanidade. Não é atoa que Lucas enche de alegria esse ambiente do
nascimento. Lucas não parece seguir a risca as tradições com relação a
imposição do nome da criança e sua circuncisão, fazendo tudo acontecer num
único momento.
8. O menino faz parte do povo de Deus,
pelo sinal de circuncisão, mas seu nome aponta para outro significado, que não
é uma mera continuidade, João traz em seu nome o sentido da manifestação da
bondade de Deus, de sua benevolência para conosco.
9. Nosso texto omite o canto entoado
por Zacarias, um modo como Lucas traduz teologicamente o nascimento do menino,
colocando-o nos lábios do seu pai. Rapidamente sabemos que ele faz um caminho
de memória do seu povo com relação ao deserto, e ali se prepara para sua
missão.
10. Numa alegria contemplativa,
celebramos o nascimento do maior entre os nascidos de mulher, mas ao mesmo
tempo o menor no Reino dos céus, pois para cada tempo, outros nascem e são
chamados também a viverem sua vocação numa fidelidade À Palavra de Deus. Outros
santos e santas são forjados a cada tempo. Que de alguma forma, a vida de João
nos sirva de inspiração, na alegre resposta ao chamado divino.
Pe. João Bosco Vieira Leite