(Dt 5,12-15; Sl 80[81]; 2Cor 4,6-11; Mc 2,23—3,6)
1. No amplo horizonte da liturgia da
Palavra desse domingo está a questão do sábado como dia sagrado para o povo
judeu e onde se encontram as raízes do nosso domingo como dia do Senhor. O que
aparece na tradição de Israel como um mandamento, na realidade já existia entre
os povos do Oriente Médio, que consideravam, na sua divisão do calendário entre
meses e semanas, o sétimo dia como elemento sagrado.
2. O sábado tornou-se um dia a ser
santificado, trazendo consigo razões sociais, religiosas e cultuais. Por trás
de toda essa rigidez em observá-lo estava a tentativa de proteger o ser humano
da exploração, pois até os animais têm direito ao descanso.
3. Não somos observadores do sábado,
mas temos o domingo como dinâmica da vida nova em Cristo. Como o vivemos? Será
que conseguimos elevar o nosso olhar um pouco acima das realidades que nos
cercam para pensar em Deus? Nos ocupamos dos outros, da família ou nos
entregamos, sem nos darmos conta, a outras formas de escravidão?
4. Fora dessa discussão sabática temos
esse belo texto de Paulo. Paulo vem sendo acusado de ter poucos seguidores ou
força de convencimento, a isso ele responde deixando claro que não falseia a
mensagem de Cristo para atrair pessoas, um recurso muito comum em nossos
tempos, dentro e fora da Igreja.
5. Se ele não atrai multidões, melhor
assim, pois sabe que Deus se serve do que é frágil para mostrar a Sua força.
Paulo contempla as dificuldades que tem atravessado sem esquecer a sua própria
fragilidade, falhas e limitações humanas, mas sabe que o que Deus lhe confiou é
o verdadeiro tesouro. Assim as pessoas não se iludem com o exterior e prestam
mais atenção ao conteúdo. Um convite a não inverter as coisas e como diz a
canção, ‘as aparências enganam aos que odeiam e aos que amam’.
6. Jesus teve que enfrentar muitas
vezes as autoridades religiosas do seu tempo quanto à observância cega do
sábado, cheio de prescrições. Longe de ser um dia para não se fazer nada, a
proposta divina seria fazer o bem, particularmente aos menos favorecidos,
quando necessário e sempre que possível como sinal do alegre reconhecimento da
libertação realizada por Deus.
7. A transgressão dos discípulos não
está tanto em comer, mas no simples ato de colher as espigas. Mas Jesus conduz
a discussão para um sentido mais profundo: que se observe o sábado, mas as
necessidades humanas devem estar em 1º lugar, pois foi para o bem humano que
ele foi instituído.
8. Isso fica claro no segundo episódio.
O grande momento do sábado era a reunião na sinagoga para a escuta da Palavra,
como fazemos nós aos domingos. Jesus deixa claro sua compreensão do sábado
colocando esse desconhecido no centro: um ser humano e suas limitações e
desafia a assembleia.
9. Marcos salienta esse olhar de ira e
tristeza para os duros corações. Cura o homem para recordar-lhes que por mais
sagradas que sejam as leis, é o bem do ser humano que conta. E assim somos
obrigados a olhar para a ‘santificação’ do nosso domingo. Entre o tempo de Deus
e o nosso existe também os outros, nas relações que construímos e precisam ser
alimentadas, não só num bom almoço, mas na escuta dos nossos, na visita a
alguém que esteja só por alguma razão, ou mesmo na recuperação de nossas
energias. Como dizia Dom Bosco, ‘férias não é não fazer nada, mas mudança de
atividade’.
Pe. João Bosco Vieira Leite