(Rm 9,1-5; Sl 147[147B]; Lc 14,1-6) 30ª Semana do Tempo Comum.
“Tomando a palavra, Jesus falou aos mestres da Lei e aos fariseus: ‘A Lei permite curar em dia de sábado
ou não?’” Lc 14,3.
“Com essa pergunta, Jesus busca a interpretação correta do sábado e da cura. O que é essencial ao sábado? E em que consiste o curar? Para Jesus, o sábado é ‘o dia de realizar obras de acordo com a imagem das obras de Deus’ (Bovon, p. 474). E curar é obra divina, não trabalho humano. Quando os fariseus, depois da pergunta de Jesus, ficam calados, ele age no sentido de Deus: ‘Ele deu-lhe a mão, curou-o e despediu-o’ (Lc 14,4). Jesus pega na mão do doente, apieda-se dele, a fim de ajudá-lo. Lucas coloca aqui a palavra essencial para a obra sanadora de Jesus: ‘iasato’, ‘ele curou’. Lucas emprega essa palavra quinze vezes. Jesus é o médico que restabelece o ser humano de acordo com a maneira como Deus havia planejado. Ele é o terapeuta que conserta quem perdeu o equilíbrio. A terceira palavra para a ação de curar é ‘apolyo’, ‘libertar’, ‘desamarrar’, ‘soltar’. Lucas já usou essa palavra na cura da mulher curvada. Curar é libertar o ser humano, e soltá-lo dos liames da doença e dos grilhões dos demônios. Aqui a palavra significa ‘dar alta’. Jesus dá alta ao doente. Agora ele poderá seguir seu próprio. Mas Lucas gosta do duplo sentido das palavras. Para ele trata-se, sem dúvida, também do sentido de ‘soltar’ e ‘libertar’. A pessoa curada sempre é também uma pessoa liberta, solta e salva de todos os bloqueios. Estar doente é estar amarrado. Todo o estar amarrado a padrões de vida, hábitos e compulsões, e também todo o estar preso a outras pessoas, produz dentro de nós uma energia negativa, contra nós mesmos e contra os outros. Cura significa a libertação de todos os laços e, com isso, a solução da negatividade interna. Esse ficar livre de amarras nos torna capazes de estabelecer comunhão, boas relações, amizade. A aptidão para nos relacionar, para estarmos ligados aos outros de uma maneira boa, pertence essencialmente à boa saúde. E, para os gregos, exatamente essa capacitação para a amizade era essencial para a sua imagem do ser humano belo e bom” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite