29º Domingo do Tempo Comum – Ano C

 (Ex 17,8-13; Sl 120[121]; 2Tm 3,14—4,2; Lc 18,1-8)*

1. Há muito o ser humano vem prescrutando o universo em busca de mensagens proveniente de outros planetas, ou mesmo enviando mensagens ao cosmo com seus grandes radiotelescópios, seja em Porto Rico, Rússia e temos um desenvolvimento aqui na Paraíba.

2. Até o momento não temos nenhum resultado positivo, nenhum sinal de vida em outros mundos. Ainda que hipoteticamente conseguíssemos estabelecer contato com outros seres inteligentes no cosmo, um diálogo seria impossível porque entre a pergunta e a resposta teríamos um espaço de séculos...

3. A palavra de Deus deste domingo nos ensina a como ter êxito nessa tarefa humanamente desesperada. Acompanhamos a parábola da viúva e do juiz injusto que dá continuidade ao tema da oração já presente na 1ª leitura com a figura de Moisés com seus braços erguidos por uma vitória do seu povo.

4. O ser humano prescruta o universo para captar mensagens de outros mundos e não se dá conta daqueles que os alcançam colocando-se de joelhos e levantando os braços aos céus, como Moisés.

5. A oração é o segredo para entrar em contato com outros mundos! O orante é aquele que um dia captou um sinal inconfundível proveniente de “um outro mundo” e que não pode fazer mais que buscá-lo novamente, se o perde.

6. Ilusão? Antes de chegarmos a uma conclusão rápida demais, pensemos naqueles que fizeram desse “contato” a razão de sua vida. Uma existência plena, ativa, fecunda e que enriqueceu o mundo. É suficiente recordamos alguns deles: Moisés, Jesus Cristo, Francisco de Assis, Teresa Dávila, e outros até mesmo fora do nosso âmbito eclesiástico.  

7. A oração é aquilo que pode dar alma à nossa civilização tecnológica e impedir que nossas cidades se transformem em desertos humanos.

8. A oração é entrar em diálogo com um mundo acima de nós. Não simplesmente ‘com outros seres inteligentes’, mas com o criador de tudo, o Pai que nos conhece, que nos ama e nos quer ajudar. Um diálogo, onde entre a pergunta e a resposta não transcorrem séculos. Ela vem logo. Ou melhor: a pergunta já é conhecida antes mesmo de ser formulada. Na definição clássica, a oração é “uma piedosa conversa com Deus”.

9. São muitas as definições sobre a oração provinda de experiências várias, mas a Bíblia se expressa com o termo ‘elevar’, que encontramos em vários salmos. O sentido da oração está em si mesma, não vem de uma demonstração, do externo; o gosto da oração vem do próprio ato de rezar.

10. Rezando, se compreende que essa não é uma ficção ou ilusão. Nos damos conta que se estabelece um verdadeiro diálogo com Deus, de um modo misterioso e intraduzível em linguagem humana. Não é um eco que nos manda de volta a mesma palavra; aqui se trata de algo novo, palavras novas, não pensadas ou imaginadas, palavras que provocam reviravoltas na própria existência.

11. Mas há quem coloque sua objeção: Deus conhece e já decidiu para sempre o curso dos eventos: como pode, portanto, a criatura pensar em mudar, com a sua oração, uma decisão eterna de Deus? Diz São Tomás de Aquino: “Não rezamos para mudar a decisão de Deus, mas para obter aquilo que Deus, desde sempre, decidiu dar-nos em resposta à nossa oração”.

12. Rezar significa administrar, do modo mais profundo e autêntico, o próprio destino e a própria liberdade. Mais que uma obrigação, é um privilégio, uma concessão. Por vezes é preciso encontrar-se numa situação extrema para que se descubra o simples fato de que lhe é consentido rezar.

13. Ao final do Evangelho há algo que nos deixa inquieto. Se fala de uma pronta resposta ao tempo que fazemos a experiências das muitas de nossas preces que repousam num silêncio. Um problema para o crente, e que não tem uma resposta fácil e simples.

14. Jesus sabe que as coisas não se dão assim de modo simples, mas é preciso rezar sempre, e nunca desistir, nos diz a parábola. Se não podemos entender porque Deus não escuta certas preces, podemos ao menos entender que desastre seria... se Ele escutasse tudo e sempre. Quem não já agradeceu a Deus de não tê-lo escutado quando pediu certa coisa... Não à toa, diz em outra ocasião, Ele dará o Espírito Santo, a quem o pedir, para o discernimento...   

Pe. João Bosco Vieira Leite