27º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Hab 1,2-3; 2,2-4; Sl 94[95]; 2Tm 1,6-8.13-14; Lc 17,5-10)*

1. O Evangelho de hoje se abre com esse pedido dos apóstolos a Jesus: “Aumenta a nossa fé”. Mais que satisfazer ao desejo dos mesmos, Jesus parece querer aguçar neles a compreensão da mesma. E assim temos a fé como tema dominante de nossa liturgia.

2. A 1ª leitura lembra um tema recordado também por Paulo: “O justo vive da fé”. A fé tem uma gama de significados e já abordamos vários de seus aspectos, mas hoje vamos nos situar naquilo que é o mais comum e mais elementar que é a fé em Deus.

3. E para falar da fé a um nível universal, que diz respeito a todo ser humano, independente da religião ou cultura a que pertença, não podemos basear-nos somente na Bíblia, pois esta tem valor para nós cristãos e, em parte, para os judeus, não para os demais.

4. Para além da Bíblia, temos a criação como 1ª manifestação de Deus, nos lembra o catecismo, o livro acessível a todos. É claro que não podemos pensar nela sem nos darmos conta de como a ciência se debruça para desvendar o mistério do que nos envolve.

5. Em um certo sentido, a ciência se coloca hoje mais próxima à fé num criador que no passado. Mesmo acolhendo a teoria que explica a origem do universo com o Big Bang, ou a grande explosão inicial, se coloca a pergunta sobre o que havia antes desse instante.

6. Ainda que não se possa exigir da ciência que se pronuncie sobre esse ‘antes’, ela não deveria fechar-se sobre o assunto dando a crer que tudo está resolvido. Se explica quase sempre o ‘como’ se dá tal fenômeno, mas quase nunca o ‘porque’; e nunca o ‘porque’ último.

7. É um argumento que, se não pode suscitar a fé, ao menos predispõe a essa, sobre o que ou quem dá harmonia e ordem ao cosmo. É como pensar em nosso tráfego aéreo, esse não seria possível sem que antes houvesse um acordo, planos e regras. O que é isto em comparação com os vários corpos celestes no cosmo?

8. Não é possível ‘provar’ ou demonstrar a existência de Deus, no sentido que comumente damos a essa palavra. Não podemos nem vê-lo de forma clara, nos lembra Paulo. Quando um raio de sol entra num quarto, o que se vê não é a luz mesma, mas a dança da poeira que recebe e revela a luz.

9. Assim é Deus: não o vemos diretamente, mas como de reflexo, na dança das coisas. Isto para dizer que a Deus não se chega se não fazendo o ‘salto’ da fé. A ciência não nos afasta da fé, muitos cientistas eram pessoas que acreditavam em Deus ou se aproximaram de Deus por causa de suas descobertas.

10. Einstein dizia que nas leis da natureza: “se revela uma Mente assim excelsa, que diante dela, todo pensamento humano não é mais que um palidíssimo reflexo”. Poderíamos dizer que um pouco da ciência, leva efetivamente, para longe da fé, mas que muita ciência reconduz a ela. Pena que muitos as contraponham.

11. Se a fé não pode unir a todos diante da criação, ao menos a admiração, o espanto poderia fazê-lo. Se é verdade que o maravilhar-se é um pressuposto da fé (e do amor), talvez seja por isso que o ser humano moderno tenha tanta dificuldade em crer. Que São Francisco de Assis nos obtenha a graça de saber olhar a criação com os mesmos olhos plenos de extasiado maravilhar-se com que ele contemplava a tudo!

* com base em texto de Raniero Cantalamessa


Pe. João Bosco Vieira Leite