(Ne 8,2-6.8-10; Sl 18B[19]; 1Cor 12,12-30; Lc 1,1-4;4,14-21)
1.
Os domingos do Tempo Comum acompanham a vida pública de Jesus. No domingo
passado estivemos com Ele, seus discípulos e Maria, em Caná numa festa de casamento,
que João, o evangelista, se serve para falar-nos do Deus que vem amar e alegrar
seu povo como um esposo a sua esposa. Seu 1º sinal.
2.
O episódio do nosso Evangelho de hoje é também marcado por esse caráter de
início da obra de Jesus, seria o prólogo de Lucas: estamos em Nazaré, onde
Jesus, casual ou providencialmente, faz a leitura e o comentário ao texto do
profeta Isaías.
3.
Nosso evangelho é iluminado pela 1ª leitura onde temos a instituição judaica da
leitura pública dos textos sagrados e sua explicação. É desse modelo judaico
das sinagogas que herdamos a nossa liturgia da Palavra. O termo sinagoga
significa reunião ou assembleia, e é praticamente sinônimo de ‘ekklesia’, que
em português virou ‘igreja’.
4.
O Salmo que se segue canta o valor e beleza dessa Palavra. O termo Lei que aqui
aparece nos recorda a leitura retirada dos 5 primeiros livros da Bíblia,
seguida de um texto profético. Um salmo que casa bem com esse Domingo da
Palavra de Deus, instituído pelo Papa Francisco em 2019.
5.
Para nós, esse ano, esse texto do profeta Isaías lido por Jesus tem particular
ressonância, pois tem sua origem no jubileu celebrado pelos judeus. Somos
também chamados a viver esse ano Jubilar da vinda de Cristo entre nós e da
esperança que Sua palavra nos traz.
6.
Peregrinamos em meio a muitas realidades e a vida precisa de momentos fortes
para nutrir e robustecer a esperança, insubstituível companheira que permite
vislumbrar a meta: o encontro com o Senhor Jesus. E é claro sem esquecer a sua
companheira necessária que se chama paciência.
7.
Jesus surpreende a multidão que o escuta com esse ‘hoje’ que aponta n’Ele a
presença do Espírito, como cumprimento de uma longa espera. Mas não basta que o
Messias apareça. É preciso entrar, abraçar o seu projeto de vida, a sua Boa
Nova, para que esse se concretize. Para isso Ele nos dá o Seu Espírito.
8.
Na 2ª leitura, é Paulo que nos fala, como consequência desse abraçar o projeto
de Jesus, o que significa viver essa vida em comunidade. Se para os judeus a
Palavra vinha através da Lei e dos Profetas, para os cristãos, a Palavra vem
através de Jesus e deve criar raízes e produzir frutos em nós pela força do
Espírito.
9.
Seguimos, assim, na escuta e leitura da 1ª Carta aos Coríntios. Aqui Paulo
expressa sua preocupação pela unidade da comunidade eclesial, tão
diversificadas em vários aspectos. Paulo recorre à imagem do ‘corpo social’, do
discurso político, para lembrar essa dependência que temos uns dos outros para
que este corpo eclesial funcione.
10.
Paulo descreve as diversas vocações dos membros desse corpo como dons de Deus
(ou do Espírito), ‘carismas’, que servem para manter viva a unidade. As frases
finais sugerem que se respeite as diferenças e que se escute o que os outros
nos ensinam. A unidade não é uniformidade, mas o fruto da respeitosa escuta do
outro.
Pe.
João Bosco Vieira Leite