(1Jo 4,7-10; Sl 71[72]; Mc 6,34-44) Semana da Epifania.
“Jesus viu uma numerosa multidão e teve
compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor.
Começou, pois, a ensinar-lhes muitas
coisas” Mc 6,34.
“Uma
breve introdução apresenta Jesus como o pastor de um rebanho esfomeado (v.
34a). Capaz de o guiar para pastagens abundantes em erva, nutre-o antes de mais
com a Sua palavra (v. 34b) e depois com o pão multiplicado para todos. (vv.
35-41). O quadro final (vv. 42-44) retrata Jesus como o profeta esperado há
muito tempo que inaugura os tempos messiânicos. [Compreender a Palavra:] A
multiplicação dos pães é um episódio característico na atividade taumatúrgica
de Jesus. Presente em todos os evangelhos, deve ser tido em séria consideração,
mas pela sua mensagem do que pelos pormenores históricos, os quais não são
conhecidos nalguns aspectos. São três os pontos de referência da nossa
compreensão. Antes de mais, o fato narrativo: apresentado como uma só multiplicação
por São Lucas e por São João, o episódio é de novo narrado numa dupla versão
por São Marcos e por São Mateus, no interior da chamada ‘seção dos pães’ (Mc
6,30—8,21; Mt 14,13—16,12). Em segundo lugar, as tradições do Antigo
Testamento: o alimento fornecido milagrosamente e com abundância remete para a
ação de Deus que sacia o Seu povo no deserto e para a multiplicação dos pães
para cem pessoas pelo profeta Eliseu. Faz parte desta herança também a tradição
rabínica que descreve a espera do Messias como a espera de um novo Moisés ou do
‘Profeta’ capaz de repetir os milagres do Êxodo num modo surpreendente.
Finalmente, é preciso não esquecer a influência exercida sobre os evangelhos
pela praxe litúrgica que manda repetir alguns gestos – abençoar, partir o pão,
dispor-se numa certa ordem – com termos específicos quer pela liturgia de
Jerusalém quer pela de Antióquia. São Marcos e seus leitores liam o episódio
com antecipação da Última Ceia e do baquete messiânico: duas realidades muito
sentidas nas celebrações eucarísticas da comunidade. O valor querigmático da
narração pode ser entendido na dificuldade dos discípulos em entenderem as
intenções do Senhor. Na inteira seção dos pães este aspecto está unido ao tema
do endurecimento do coração: é demasiado grande para os discípulos aquilo que o
Senhor está revelando” (Giuseppe
Casarin – Lecionário Comentado [Advento - Natal] – Paulus).
Pe.
João Bosco Vieira Leite