2º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Is 62,1-5; Sl 95[96]; 1Cor 12,4-11; Jo 2,1-11)

1. O evangelho de hoje nos informa que um dia, em Caná da Galileia, se celebrava um casamento e que também haviam sido convidados Jesus, sua mãe e seus discípulos e que, ao fim da festa, vindo a faltar o vinho, Jesus, a pedido de Maria, transforma a água em vinho.

2. A narrativa se conclui com esta nota: “Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia”. Pode não parecer, mas esta nota nos oferece a chave de leitura de todo o episódio e nos introduz um elemento de grande valor espiritual.

3. Devido ao seu valor simbólico, as núpcias em Caná pretende anunciar ao mundo que com a vinda de Jesus inicia o tempo em que Deus celebra com a humanidade uma aliança de caráter esponsal. Esta realidade já havia sido contemplada pelos profetas:

4. (Diz o Senhor) “Eu noivarei contigo para sempre, eu noivarei contigo, pela justiça e pelo direito, pelo amor e pela ternura” (Os 2,21) e mesmo Is na 1ª leitura: “... pois o Senhor agradou-se de ti e tua terra será desposada... e como a noiva é a alegria do noivo, assim também tu és a alegria de teu Deus” (62,4b.5b).  

5. Tomando esse significado das núpcias de Caná, penso que não nos é difícil perceber uma certa chamada de atenção a esses cristãos que vivem sua religiosidade em clima de asfixia espiritual, de frieza, de medo e de oprimente ascetismo.

6. Desde o momento em que Deus julgou oportuno fazer-se esposo de nossa alma e estabelecer uma relação de amor, levar adiante o próprio caminho de fé numa atmosfera de tristeza ou mesmo de angústia, é um contrassenso.

7. É certo que a vida é estressante, cheia de incógnitas e, em algumas ocasiões, até mesmo dramática. Mas é justamente porque às vezes podemos nos encontrar sós e abandonados, é que Deus quer colocar-se ao nosso lado e nos sustentar com a força do seu amor.

8. E se ao teu lado está Ele, o Senhor enamorado de ti, por que atormentar-se, entristecer-se? Ao invés de afligir-se e de te deixares levar pelo desencorajamento, volta para Ele o teu coração e tem presente que nem sempre lhe agrada rostos tristes, melancólicos, sempre abatidos, enlutados.

9. Se por um acaso, te sentires propenso a imaginar o Senhor com um rosto zangado de juiz ou policial, quero lhe oferecer esta delicada confidência que o místico hindu dirige a seu deus:

10. “Aonde quer que eu vá, Tu és o meu companheiro – que me toma pela mão e me conduz. Na estrada em que caminho – Tu és o solo em que firmo meus pés. Ao meu lado Tu carregas o meu fardo. Se ao longo da estrada eu me perco, Tu, ó deus, me redireciona – E me impulsiona a seguir adiante. Agora a tua alegria me penetra, me circunda – E eu sou como uma criança – Que brinca em dia de festa”.  

Pe. João Bosco Vieira Leite