Quinta, 09 de janeiro de 2024

(1Jo 4,19—5,4; Sl 71[72]; Lc 4,14-22) Semana da Epifania.

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção

para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos

e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos” Lc 4,18.

“Nestas palavras do profeta Isaías, Jesus formula seu próprio programa. É interessante que Lucas combina dois textos: o texto messiânico de Isaías 61, 1s e a frase ‘para pôr em liberdade os oprimidos’, de Isaías 58,6. Neste último texto trata-se do verdadeiro jejum, do jejum que agrada a Deus. Não foi por acaso que Lucas ajuntou esses textos. Jesus cumpre as tarefas do Messias. Ele é o homem que, na sua piedade, agrada a Deus. E com essa combinação de dois textos Lucas sugere que nós, como discípulos de Jesus, temos a incumbência de pôr em liberdade os humilhados, de aplanar o caminho da liberdade para os que estão machucados, abatidos, oprimidos, esgotados. Jesus entende a si mesmo como cheio do Espírito Santo. E considera sua tarefa anunciar uma boa nova aos pobres. Esses pobres são, por um lado, os economicamente fracos, os sem diretos sociais, mas, de outro, também os presos, os cegos e os aflitos. Quando Jesus cura alguém, Lucas vê isso como a libertação de grilhões que o mantinham preso. Como exemplo da cura de doentes, Lucas coloca aqui apenas os cegos. A eles Jesus quer dar o ‘poder enxergar novamente’, ou, como é dito literalmente: ‘poder levantar os olhos’. Aqueles que tinham fechado seus olhos diante da realidade deverão ‘levantar de novo os olhos’, descobrir, com seus próprios olhos, a beleza do mundo. É curioso que Lucas aqui insiste somente nos olhos. Mas o olhar era para os gregos o sentido mais importante. Para os gregos, Deus é aquele que é contemplado (Theos, ‘Deus’, vem de ‘theastai’, ‘ser contemplado’). O ser humano vive a sua dignidade ao contemplar. Muitas vezes, porém, a sua vista é nebulosa. Ele vê a realidade através dos óculos embaçados de suas projeções ou de seus padrões neuróticos. Seu olhar é desfigurado pelas ilusões que ele cria sobre o mundo. Quando é capaz de enxergar o que é real, de levantar os olhos, de olhar livremente ao redor, então ele é realmente um ser humano” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite