(1Jo 4,19—5,4; Sl 71[72]; Lc 4,14-22) Semana da Epifania.
“O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque ele me consagrou com a unção
para anunciar a Boa-nova aos pobres;
enviou-me a proclamar a libertação aos cativos
e aos cegos a recuperação da vista; para
libertar os oprimidos” Lc
4,18.
“Nestas
palavras do profeta Isaías, Jesus formula seu próprio programa. É interessante
que Lucas combina dois textos: o texto messiânico de Isaías 61, 1s e a frase
‘para pôr em liberdade os oprimidos’, de Isaías 58,6. Neste último texto
trata-se do verdadeiro jejum, do jejum que agrada a Deus. Não foi por acaso que
Lucas ajuntou esses textos. Jesus cumpre as tarefas do Messias. Ele é o homem
que, na sua piedade, agrada a Deus. E com essa combinação de dois textos Lucas
sugere que nós, como discípulos de Jesus, temos a incumbência de pôr em
liberdade os humilhados, de aplanar o caminho da liberdade para os que estão
machucados, abatidos, oprimidos, esgotados. Jesus entende a si mesmo como cheio
do Espírito Santo. E considera sua tarefa anunciar uma boa nova aos pobres.
Esses pobres são, por um lado, os economicamente fracos, os sem diretos
sociais, mas, de outro, também os presos, os cegos e os aflitos. Quando Jesus
cura alguém, Lucas vê isso como a libertação de grilhões que o mantinham preso.
Como exemplo da cura de doentes, Lucas coloca aqui apenas os cegos. A eles
Jesus quer dar o ‘poder enxergar novamente’, ou, como é dito literalmente:
‘poder levantar os olhos’. Aqueles que tinham fechado seus olhos diante da
realidade deverão ‘levantar de novo os olhos’, descobrir, com seus próprios
olhos, a beleza do mundo. É curioso que Lucas aqui insiste somente nos olhos.
Mas o olhar era para os gregos o sentido mais importante. Para os gregos, Deus é
aquele que é contemplado (Theos, ‘Deus’, vem de ‘theastai’, ‘ser contemplado’).
O ser humano vive a sua dignidade ao contemplar. Muitas vezes, porém, a sua
vista é nebulosa. Ele vê a realidade através dos óculos embaçados de suas
projeções ou de seus padrões neuróticos. Seu olhar é desfigurado pelas ilusões
que ele cria sobre o mundo. Quando é capaz de enxergar o que é real, de
levantar os olhos, de olhar livremente ao redor, então ele é realmente um ser
humano” (Anselm
Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).
Pe.
João Bosco Vieira Leite