22º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Dt 4,1-2.6-8; Sl 14[15]; Tg 1,17-18.21-22.27; Mc 7,1-8.14-15.21-23)*

1. Estamos retomando o evangelho de Marcos com essa informação sobre as tradições judaicas que parecem normas de higiene, mas estão relacionadas a pureza ritual, ou exterior, como expressão ou busca de santidade diante de Deus.

2. Os fariseus e mestres da Lei observaram que os discípulos de Jesus não seguiam tais ritos, chamando a atenção de Jesus para tal situação, é quando Jesus aproveita a ocasião para trazer algum ensinamento, provocando a maneira de viver o externo, esquecendo do interno.

3. Brota aqui um ensinamento para todos os tempos que quer chamar a atenção daqueles que dão mais importância aos gestos e aos ritos exteriores do que a disposição do coração, particularmente no campo religioso. Mais preocupados em aparecer que ser. Em síntese: a hipocrisia, o ‘farisaísmo’, o formalismo.       

4. Estamos demasiadamente preocupados com a poluição exterior e física da atmosfera, da água, e de tantos outros fenômenos em nosso planeta, enquanto assistimos a um silêncio quase absoluto da poluição interior e moral.

5. Hoje se faz um escarcéu porque alguém agrediu um animal, e muito pouco ou quase nada por um ser humano agredido injustamente ou fazemos de conta de não perceber o quanto muitas crianças são precocemente viciadas ou despertadas por uma camada de malícia que se estende em toda a sociedade.

6. Se hoje nos preocupamos tanto com a questão da qualidade do que comemos, do que ‘entra’, não temos a mesma preocupação do que sai da nossa boca: palavras afiadas, violentas ou mesmo falsas. Não mereceríamos de Cristo o título de ‘hipócritas’?

7. Não se trata aqui de opor uma coisa a outra. Tudo tem sua devida importância. Jesus não disse que eles estavam errados quanto ao que observavam. Disse apenas que isto só não basta; não se chega à raiz do mal. Para reconstruir a causa de um incêndio, se busca individualizar o lugar onde começou a chama...

8. A busca, neste caso, nos leva invariavelmente a um ponto preciso: o coração humano, seu egoísmo, sua cobiça, inveja, ou ao menos a sua desatenção e negligência. Jesus propõe curar o coração, que é a fonte de tudo.

9. Na criação não há nada, em si, de ‘mau’, de ‘pecaminoso’. Os animais ferozes, os fenômenos naturais podem ser nocivos, mas nunca maus. A maldade é só do ser humano que possui a liberdade. Diz o autor do Gênesis que antes de Adão pecar, ‘tudo era bom’.

10. Assim nos resta uma atenção para conosco mesmo, nossa família. Jesus aponta aquelas coisas que não nos ajudam e que deveríamos remover de nosso coração. Isso se conquista pelo exercício das virtudes. Numa luta pessoal que exige também um constante exame de consciência.

11. Na relação com os outros, no âmbito familiar, onde fragilidades e defeitos se revelam facilmente, é preciso saber desculpar e saber esperar, trazer à luz mais o positivo que o negativo, na espera que a pessoa descubra o que não está bem em suas atitudes.

12. Isso não exclui o diálogo e a correção fraterna feita com amor. O desculpar-se deve ser recíproco para infundir confiança e coragem. Ajuda a recomeçar. Existem casais que não aprenderam a pedir desculpa a partir do coração. Pensemos no que nos diz Jesus: “O que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior”. Puro ou impuro, cabe a nós o que queremos ser...

* Com base em texto de Raniero Cantalamessa.        

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 31 de agosto de 2024

(1Cor 1,26-31; Sl 32[34]; Mt 25,14-30) 21ª Semana do Tempo Comum.

“O patrão lhe respondeu: ‘Servo mau e preguiçoso! Tu sabias que eu colho onde não plantei

e que ceifo onde não semeei?’” Mt 25,26.

“O Senhor chama esse servo de ‘mau e temeroso’, não de ‘preguiçoso’, como se diz em algumas traduções. O servo não se empenhou porque estava com medo. Trata-se de uma pessoa insegura que não tem coragem de tomar uma decisão. O senhor o repreende porque poderia ter agido de outra maneira em vista da imagem de severo que fazia do seu senhor. Pelo menos poderia ter levado o dinheiro ao banco, onde teria rendido juros. Naquela época, a taxa de juros podia ser de no máximo doze por cento. Portanto, teria sido um rendimento modesto. Mas o servo mostrou que não sabe lidar com o dinheiro. Por isso vão lhe tirar o talento e entregá-lo a outrem. Esse procedimento deixa os ouvintes indignados. Quantas vezes escuto a reação: ‘Isso é injusto. O servo já fora prejudicado. Ele não tem culpa. E agora lhe tiram tudo!’. Prevendo essa reação, Jesus quer chamara a atenção dos ouvintes para as consequências de um pensamento que só procura o que é seguro. Quem vive tão temeroso como o terceiro servo destrói-se a si mesmo, subtrai-se a própria vida, nega a si mesmo a vida” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Sexta, 30 de agosto de 2024

(1Cor 1,17-25; Sl 32[33]; Mt 25,1-13) 21ª Semana do Tempo Comum.

“O Reino dos Céus é como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo

e saíram ao encontro do noivo” Mt 25,1.

“O fato de Jesus contar a sua parábola usando como pano de fundo os costumes nupciais judaicos certamente faz com que os ouvintes fiquem especialmente atentos, porque uma história de casamento, Jesus prende primeiro a atenção dos presentes. Mas depois cria um clima de estranhamento que provoca os ouvintes. As pessoas ficam desconfiadas, irritadas até quando as virgens prudentes se recusam a dividir o azeite com as insensatas. Ainda hoje, muitos ouvintes reagem a essa atitude das virgens prudentes com uma reprovação moral. Por que as virgens prudentes não repartem o seu azeite com as insensatas? Isso é puro egoísmo. Por que não dividir a própria alegria com as outras? Mas Jesus não julga o comportamento das virgens prudentes. Ele o aceita como um fato. Jesus usa a parábola para avisar os ouvintes: ‘No momento decisivo, vocês não podem confiar simplesmente nos outros. Se vocês preferem viver alienados, não podem reclamar do fato de os outros lhes abrirem os olhos”. Trata-se de uma parábola de advertência que deve ser interpretada à maneira de um sonho de advertência, em que não é justificado o comportamento dos outros, mas em que são mostradas as consequências do próprio comportamento. Levando uma vida com a cabeça ao leú, ficarei de mãos vazias no momento decisivo” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quinta, 29 de agosto de 2024

(Jr 1,17-19; Sl 70[71]; Mc 6,17-29) Martírio de São João Batista.

“Imediatamente, o rei mandou que o soldado fosse buscar a cabeça de João. O soldado saiu, degolou-o na prisão, trouxe a cabeça num prato e a deu à moça. Ela entregou à sua mãe” Mc 6,27-28.

“No calendário romano, é o único santo do qual se celebra tanto o nascimento, a 24 de junho, como a morte ocorrida através do martírio. A memória hodierna remonta à dedicação de uma cripta de Sebaste, em Samaria onde, já em meados do século IV, se venerava sua cabeça. Depois, o culto alargou-se a Jerusalém, às Igrejas do Oriente e a Roma, com o título de Degolação de são João Batista. No Martirológio romano faz-se referência a uma segunda descoberta da preciosa relíquia, transportada naquela ocasião para a igreja de São Silvestre em Campo Márcio, em Roma. Estas breves referências históricas ajudam-nos a compreender como é antiga e profunda a veneração de são João Batista. Nos Evangelhos realça-se muito bem o seu papel em relação a Jesus. De modo particular, são Lucas narra o seu nascimento, a sua vida no deserto e a sua pregação, e no Evangelho de hoje são Marcos fala-nos da sua morte dramática. João Batista começa a sua pregação sob o imperador Tibério, em 27-28 d.C., e o convite claro que ele dirige ao povo que acorre para o ouvir é que prepare o caminho para receber o Senhor, e endireitem as veredas todas da própria vida através de uma conversão radical do coração (cf. Lc 3,4). Contudo, João Batista não se limita a pregar a penitência e a conversão, mas, reconhecendo Jesus como ‘o Cordeiro de Deus’ que veio para tirar o pecado do mundo (cf. Jo 1,20), tem a profunda humildade de mostrar em Jesus o verdadeiro Enviado de Deus, pondo-se de lado a fim de que Jesus possa crescer, ser ouvido e seguido. Como último gesto, João Batista testemunha com o sangue a sua fidelidade aos Mandamentos de Deus, sem ceder nem desistir, cumprindo a sua missão até o fim. São Beda, monge do século IX, nas suas homilias diz assim: ‘São João, por [Cristo] deu a sua vida; embora não lhe tenha sido imposto que negasse Jesus Cristo, só que lhe foi imposto que não dissesse a verdade’ (cof. Hom. 23: ccl 122,354). E ele dizia a verdade, e assim morreu por Cristo, que é a Verdade. Precisamente pelo amor à Verdade, não cedeu a compromisso nem teve medo de dirigir palavras fortes a quantos tinham perdido o caminho de Deus” (Bento XVI – Um Caminho de Fé Antigo e sempre Novo – Vol. IV – Mokai).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

Quarta, 28 de agosto de 2024

(2Ts 3,6-10.16-18; Sl 127[128]; Mt 23,27-32) 21ª Semana do Tempo Comum.

“Com efeito, quando estávamos entre vós, demos esta regra: ‘Quem não quer trabalhar

também não deve comer’” Mt 23,10.

“A conclusão da Carta expõe as últimas recomendações acerca do estilo de vida que os fiéis devem levar no meio do mundo: esforçarem-se com o próprio trabalho, procurarem não ser de peso para ninguém, imitarem os Apóstolos no serviço infatigável pelo Evangelho de Deus. A aceitação do Evangelho não admite passividade de espécie alguma, antes impele o discípulo, que se torna apóstolo, a considerar-se sempre devedor perante o dom recebido e não destinatário de presumíveis direitos e privilégios. [Compreender a Palavra:] Paulo, escrevendo aos Tessalonicenses para lhes fortalecer a fé, preocupa-se também em adverti-los sobre o modo como conservar o dom recebido, sabendo bem que o entusiasmo inicial da resposta ao Evangelho não é suficiente para perseverar na fé e no agir conforme a caridade. O convívio com pessoas sem princípios firmes, pode influenciar negativamente quem vive uma regra de vida que o leva a desempenhar os deveres das responsabilidades assumidas (cf. v. 6). Por isso, Paulo, bom conhecedor do espírito humano, convida os fiéis a permanecerem concentrados nos seus trabalhos, não se deixando distrair por um estilo de vida aparentemente melhor, mas na realidade estéril e parasitário em relação aos outros. Quem assume a lógica do serviço, vivida em primeiro lugar por Jesus e depois prosseguida que pode tirar das circunstâncias, mas permanece num estado contínuo de disponibilidade aos irmãos, fazendo, antes de mais, bem o seu trabalho e cumprindo o melhor que pode com as suas responsabilidades” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Semanas de XVIII-XXXIV] – Paulus).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 27 de agosto de 2024

(2Ts 2,1-3.14-17; Sl 95[96]; Mt 23,23-26) 21ª Semana do Tempo Comum.

“Guias cegos! Vós filtrais o mosquito, mas engolis o camelo” Mt 23,24.

“Os escribas e fariseus enganavam-se quando se preocupavam com coisas secundárias, descuidando-se das coisas fundamentais. Mostravam-se escrupulosos no pagamento do dízimo, não omitindo nem mesmo das ervinhas cultivadas no fundo do quintal, ao invés de se destacarem na prática da justiça, da misericórdia e da fidelidade. Nesta mesma linha, procuravam ser exemplares no cumprimento da pureza ritual. Lavavam pratos e copos, com todo cuidado, ao passo que seu interior estava cheio de maldades. A impureza deles, portanto, não vinha de fora para dentro, mas de dentro para fora, e precisava ser combatida na sua raiz. A comunidade cristã não podia cair na armadilha farisaica de perder tempo com picuinhas, olvidando os pontos fundamentais do ensinamento de Jesus. Ponto de honra para ela seria a prática da misericórdia, mormente em relação aos mais fracos e pequeninos; a prática da justiça, em conformidade com as exigências do Reino; a contínua busca da fidelidade a Deus e ao seu projeto. Só assim os discípulos se tornariam modelo para quem, com sinceridade, estivesse buscando a Deus. O Reino se funda em coisas essenciais, que são, efetivamente, uma estrada para Deus. – Senhor Jesus, faze-me buscar sempre o que é essencial e pode conduzir-me ao Pai (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 26 de agosto de 2024

(2Ts 1,1-5.11-12; Sl 95[96]; Mt 23,13-22) 21ª Semana do Tempo Comum.

“Ai de vós, guias cegos! Vós dizeis: ‘Se alguém jura pelo templo, não vale; mas, se alguém jura pelo ouro do templo, então vale!’” Mt 23,16.

“Jesus dá início ao discurso sobre a falsidade e hipocrisia dos escribas e fariseus, com o condenatório: ‘Ai de vós...’ repetido em sete ocasiões diferentes. ‘Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Vós fechais aos homens o reino dos céus...’ (v. 13). A hipocrisia não pode ter cabimento entre os filhos de Deus e os discípulos de Jesus; o Mestre é todo simplicidade e afabilidade, todo retidão e veracidade; não podem os discípulos ser de outra maneira. A hipocrisia pretende dissimular a falta de verdade e de bondade que existe em nosso coração. A hipocrisia é maligna também para o exercício do apostolado, uma vez que não é possível encobrir, durante muito tempo e em todas as ocasiões, a falta do amor a Deus e aos homens e, quando se descobre a realidade, os homens sentem institivamente repulsa por quem pretende vender-lhes uma mercadoria falsa e inautêntica. ‘Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas. Percorreis mares e terras para fazer um prosélito e, quando o conseguis, fazei dele um filho do inferno...’ (v. 15). Poderia ser que nós mesmos ocasionalmente incorremos na maldição do Senhor, se é que aos que tratamos de atrair para o Senhor, àqueles aos quais pregamos o Reino, não lhes déramos o testemunho de uma retidão de consciência a toda prova. Não basta cuidar de converter à fé os que não a possuem; é preciso também ajudar a manter na fé aos que já estão nela. ‘Ai de vós, guias cegos...!’ (v. 16). Que responsabilidade tão grande a nossa, que somos chamados pelo Senhor para ser luz e, pelo contrário, somos trevas; que estamos destinados a ajudar o próximo para que não caia e, no entanto, o empurramos com nossos maus e os fazemos cair. Guias cegos, porque voluntariamente fechamos os olhos à luz; guias cegos, porque desconhecemos culpadamente o caminho que conduz a Deus; guias cegos, uma vez que não vamos pelo verdadeiro caminho que conduz à santidade. O ‘Ai de vós’ da Bíblia tem, com efeito, um sentido de reprovação e de eterna condenação e equivale, portanto, a ‘sereis condenados’. O Senhor Jesus repete sete vezes essa condenação, dando em cada uma delas as causas da mesma. Condenados, porque nem entram eles no Reino dos céus, nem deixam entrar os outros; eles, os técnicos da lei, os dirigentes religiosos do povo, chamados a abrir caminhos ao Reino de Deus, são os responsáveis de que suas portas permaneçam fechadas para muitos. Condenados, porque fecharam os olhos à luz e converteram-se em guias cegos, preferindo a escuridão de sua mente à iluminação da palavra de Deus. Condenados, porque resistiram em aceitar a verdade, arrastando os outros ao erro e à soberba. Você é chamado a ser chefe no povo de Deus; não duvide, visto que todo cristãos deve estar constantemente cristianizando, e diz o apóstolo que quem não é apóstolo é um apóstata” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

 

21º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Js 24,1-2.15-18; Sl 33[34]; Ef 5,21-32; Jo 6,60-69)*

1. É certo que o amor de Deus é gratuito e antecipa-se a qualquer gesto ou mérito do ser humano, mas o ser humano não pode ficar inerte diante de tudo isto; deve aceitar livremente e ratificar esta escolha, escolhendo por sua vez a Deus. O monólogo do amor de Deus deve se tornar diálogo, graças à resposta do ser humano.

2. Para ilustrar essa realidade, a liturgia escolheu duas passagens que descrevem o momento dramático em que Deus exige abertamente do ser humano esta escolha. A 1ª diz respeito a relação de Deus com o seu povo no Antigo Testamento.

3. Deus escolheu um povo e cumulou de benefícios; conduzi-os pelo deserto. Agora que devem tomar posse da terra prometida, exige dele uma decisão: A quem escolheis: ao Senhor ou aos deuses estrangeiros? Aqueles deuses que exigem menos, são mais cômodos, não proíbem isto ou aquilo, não se opõem ao roubo, ao adultério e ao homicídio.

4. A prova é real, não fictícia. E o povo naquele dia responde: “Escolhemos a Deus” e assim o povo pôde tomar posse da Terra Prometida.

5. No Evangelho encontramos uma experiência análoga. Jesus escolheu discípulos, tornou-se um pai para eles, alguns eram pecadores, um publicano, um zelote, isto é, gente à margem da Lei e da religião hebraica. Chegou também para eles o momento de dar sua resposta à dramática alternativa: escolher.

6. Estão livres; de fato alguns se retiram, outros ficam. Ficam os Doze que formarão a Igreja, mas ficam não mais como antes, sem compromisso; agora sabem que escolheram a Ele para a vida e para a morte. E isso também nos diz respeito.

7. Escolhemos a Deus desde o nosso batismo. Mas nossas escolhas são instáveis, modificam-se por ser mutável a natureza humana; nada há de definitivo e irreversível em nossa vida a não ser a morte; temos sempre a tentação de depois de ter posto a mão no arado voltar atrás (Lc 9,62).

8. Oscilamos continuamente entre dois polos de atração que são Deus e o mundo. E eis, então, que tomam posse em nosso coração os ídolos; há um bezerro de ouro em cada ser humano. Basta que nos escutemos enquanto falamos para descobrir qual é este ídolo, já que – como disse Jesus – a boca fala do que o coração está cheio (cf. Mt 12,34).

9. E Deus detesta essa ambiguidade de quem serve a dois senhores. Mesmo em meio a essa luta pessoal, é preciso renovar esta escolha fundamental, feita a partir do nosso batismo, nos momentos de crise, quando tal escolha é necessária para continuar a ficar com clareza ao lado de Cristo. A cada domingo queremos renovar essa aliança!

10. Porém, não somente nos momentos de crise pessoal, mas também nos momentos de crise de uma sociedade inteira e de uma cultura, como a que estamos vivendo. A pergunta de Jesus se faz muito presente em nosso tempo.

11. Vivemos uma época de decisão em que não é mais possível ser cristão por tradição ou porque o foram os pais. É preciso escolher. Muitos de nós parecem não ter se dado conta disto, porque continuam a dobrar o joelho a Deus e a outras divindades.

12. A quem decide reoptar por Deus, a mesma leitura bíblica sugere o primeiro passo: tirar os deuses estranhos que estão no meio de vós. Cada um procure identificar seu ídolo, aquele que em seu coração tenta ocupar o altar de Deus. Geralmente, este é o assunto mais discutido entre nós.

13. Neste momento nossa escolha deve tomar um caráter coral, como na comunidade do Antigo Testamento ou mesmo em Cafarnaum. Como comunidade cristã reunida para a assembleia eucarística, a fazer juntos essa escolha, a reafirmar que queremos seguir a Jesus. Que acreditamos em Deus Pai!

Com base em texto de Raniero Cantalamessa 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 24 de agosto de 2024

(Ap 21,9-14;Sl 144[145]; Jo 1,45-51) São Bartolomeu, apóstolo.

“Jesus viu Natanael, que vinha para ele, e comentou: ‘Aí vem um israelita de verdade,

um homem sem falsidade’” Jo 1,47.

“Voltando à cena da vocação, o Evangelista nos diz que, quando Jesus viu Natanael aproximar-se, exclamou: ‘Eis aí um israelita verdadeiro, sem falsidade’ (Jo 1,47). Trata-se de um elogio que remete ao texto de um salmo: ‘Feliz é o homem a quem Javé não aponta nenhum defeito!’ (Sl 32,2), mas que desperta a curiosidade de Natanael, que replica com estupor: ‘De onde me conheces?’ (Jo 1,48a). A resposta de Jesus não se compreende de forma imediata. Diz: ‘Antes que Felipe chamasse você, eu o vi quando estava embaixo da figueira’ (Jo 1,48b). Não sabemos o que aconteceu embaixo desta figueira. É evidente que se trata de um momento decisivo na vida de Natanael. Ele se sente tocado em seu coração por estas palavras de Jesus, sente-se compreendido e compreende: este homem sabe tudo de mim. Ele sabe e conhece o caminho da vida, posso realmente confiar neste homem. E assim responde com uma confissão de fé, limpa e bela, dizendo: ‘Rabi, tu és o filho de Deus, tu és o rei de Israel!’ (Jo 1,49). Nela há um primeiro e importante passo no caminho da adesão a Jesus. As palavras de Natanael põem em evidência um duplo e complementar aspecto da identidade de Jesus: Ele é reconhecido não só em sua relação com o povo de Israel, do qual é declarado rei, qualificação própria do esperado Messias. Nunca devemos perder de vista nenhum desses dois componentes, visto que, se proclamarmos somente a dimensão celestial de Jesus, corremos o risco de fazer dele um ser etéreo e evanescente, e se, ao contrário, reconhecermos somente o seu lugar concreto na história, deixamos de lado a dimensão divina que propriamente o define. Sobre a posterior atividade apostólica de Bartolomeu-Natanael não temos notícias concretas. Segundo uma informação referida pelo historiador Eusébio do século IV, um certo Panteno encontrou sinais da presença de Bartolomeu nem mais nem menos que na Índia (cf. Hist. eccl. V, 10,3). Na tradição posterior, a partir da Idade Média, surgiu o relato de sua morte por esfoladura, que logo se tornou muito popular. Pensem na conhecidíssima cena do Juízo Final na Capela Sistina, em que Michelangelo pintou São Bartolomeu segurando com a mão esquerda a sua própria pele, sobre a qual o artista deixou seu autorretrato. Suas relíquias são veneradas em Roma, na igreja dedicada a ele na ilha Tiberina, para onde foram trazidas pelo imperador alemão Oto II no ano 983. Para concluir, podemos dizer que a figura de São Bartolomeu, apesar da escassez de informações relativas a ele, nos diz que a adesão a Jesus pode ser vivida e testemunhada inclusive sem realizar obras fundamentais. Extraordinário é e continua sendo Jesus, a quem cada um de nós é chamado para consagrar a nossa vida e a nossa morte” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Jesus – Planeta).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 23 de agosto de 2024

(2Cor 10,17—11,2; Sl 148; Mt 13,44-46) Santa Rosa de Lima, padroeira da américa Latina.

“O reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo” Mt 13,44.

“Não era fácil crer em Jesus. Alguns se sentiam atraídos por suas palavras. Em outros, pelo contrário, surgiam não poucas dúvidas. Seria razoável seguir a Jesus, ou seria uma loucura? Hoje acontece o mesmo: vale a pena comprometer-se em seu projeto de humanizar a vida, ou é mais prático ocupar-nos com nosso próprio bem-estar? Neste ínterim, pode nossa vida passar sem tomarmos nenhuma decisão. Jesus conta duas breves parábolas. Em ambos os relatos, o respectivo protagonista se encontra com um tesouro sumamente valioso ou com uma pérola de valor incalculável. Ambos reagem do mesmo modo: vendem tudo o que têm e se fazem com o tesouro ou a pérola. É, sem dúvida, o mais sensato e razoável que podem fazer. O Reino de Deus está ‘oculto’. Muitos não descobriram ainda o grande projeto de Deus para um mundo novo. Mas não é um mistério inacessível. Esta ‘oculto’ em Jesus, em sua vida e em sua mensagem. Uma comunidade cristã que não descobriu o Reino de Deus, não conhece bem a Jesus, não pode seguir seus passos. A descoberta do Reino de Deus muda a vida de quem o descobre. Sua ‘alegria’ é inconfundível. Encontrou o essencial, o melhor de Jesus, o que pode transformar sua vida. Se nós cristãos não descobrimos o projeto de Jesus, na Igreja não haverá alegria. Os dois protagonistas das parábolas tomam a mesma decisão: ‘vendem tudo o que têm’. Nada é mais importante do que ‘buscar o Reino de Deus e sua justiça’. Tudo o mais vem depois, é relativo e há de ficar subordinado ao projeto de Deus. Esta é a decisão mais importante a ser tomada na Igreja e nas comunidades cristãs: libertar-nos de tantas coisas acidentais para comprometer-nos no Reino de Deus. Despojar-nos do supérfluo. Esquecer-nos de outros interesses. Saber ‘perder’ para ‘ganhar’ em autenticidade. Se o fizermos, estaremos colaborando na conversão da Igreja” (José Antonio Pagola – O Caminho Aberto por Jesus – Mateus – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 22 de agosto de 2024

(Is 9,1-6; Sl 112[113]; Lc 1,26-38) Bem-aventurada Virgem Maria Rainha.

“O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo’” Lc 1,28.

“Retoma a festa de hoje, e completa, o tema da solenidade da Assunção. ‘Assunta à glória celeste em corpo e alma’, foi Maria ‘pelo Senhor exaltada como Rainha do Universo, a fim de mais plenamente se conformar com seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte’ (LG 59). Durante sua vida terrena, associou-se Maria estreitamente a Cristo e a ele se conformou a ponto de a Paixão de Jesus traspassar-lhe a alma: agonizante, ofereceu-lhe ao Pai. Convinha, pois, que a ele estivesse unida também na glória. Portanto, a Liturgia reconhece a Nossa Senhora o título de Rainha e como tal a celebra assentada junto ao Rei, seu Filho: ‘Resplandece a Rainha à vossa direita’ (Sl 45,10; Salmo de meditação da solenidade da Assunção). Resplandece Maria pela sua Imaculada Conceição, pela plenitude de graça que a adorna, pelo privilégio de Mãe de Deus, pelo doloroso martírio sofrido juntamente com o Filho, pela incomparável fé, pela intacta virgindade, pela profundíssima humildade, pelo amor que se doa sem medida. Tais prerrogativas fazem de Maria a Rainha dos Apóstolos e dos Mártires, dos Confessores e das Virgens, de todos os Santos e até dos Anjos. Sua realeza não tem origem terrena. Provém exclusivamente da realeza do Filho. Preconizara-o Isaías como aquele que leva ‘sobre os ombros o sinal da soberania, e é chamado pai perpétuo, príncipe da paz’ (9,5). O anjo Gabriel o declara expressamente: ‘Filho do Altíssimo’ a quem ‘o Senhor Deus... dará o trono de Davi seu Pai, e reinará... eternamente e seu reino jamais terá fim’ (Lc 1,32-33). Tornando-se Filho de Maria, Jesus dela recebe a humanidade e torna-a participante de sua realeza divina. À Virgem, tão humilde e elevada, a Igreja dirige, comovida, as palavras do Salmista: ‘Escuta, filha, vê e presta atenção: esquece teu povo e a casa de teu pai. Encanta-se o rei com a tua beleza’ (Sl 45,11-12). Criatura alguma é tão amada de Deus quanto Maria, mas também nenhuma lhe deu tanto amor! Deu-se a Cristo, seu Rei e Filho, esquecendo por ele todos os seus direitos” (Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD – Intimidade Divina – Loyola)  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 21 de agosto de 2024

(Ez 34,1-11; Sl 22[23]; Mt 20,1-16) 20ª Semana do Tempo Comum.

“Assim diz o Senhor Deus: aqui estou para enfrentar os pastores e reclamar deles as minhas ovelhas.

Vou tirar-lhes o ofício de pastor, e eles não mais poderão apascentar-se a si mesmos.

Vou libertar da boca deles as minhas ovelhas, para não mais lhes servirem de alimento” Ez 34,10.

“Depois de ter recebido a notícia da queda de Jerusalém em 587 a.C., Ezequiel muda de tom na sua pregação. O povo podia sucumbir no desespero: esperava regressar depressa e jamais poderia imaginar, pelo contrário, ver chegar outros irmãos de Jerusalém a engrossar o número de deportados. O profeta então começa a falar de um novo futuro. Mas diz a verdade mesmo sobre o passado de Israel. A leitura de hoje é uma duríssima invectiva contra aqueles que deveriam ter tomado conta do povo e não o fizeram. [Compreender a Palavra:] Na opinião de Ezequiel, Israel fora conduzido à ruína atual por uma série de maus pastores (reis e falsos profetas), que não pensaram no bem do povo. Serviam-se, pelo contrário, do povo, para conseguir o seu próprio proveito. Depois da segunda deportação, no ano 587 a.C., a situação dos que tinham ficado na terra era ainda pior, abandonados ao poder de ladrões e lobos furiosos. A boa notícia que Ezequiel dá é esta: ‘O Senhor vai cuidar pessoalmente do seu povo’ (v. 11). É Ele o verdadeiro rei de Israel. Alguns salmos, provavelmente compostos naquele período – os chamados salmos de JHWH rei – dizem que o Senhor é rei ainda antes de Davi, melhor, ainda antes de Moisés. É Ele o Criador, capaz de formar agora um povo novo” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado [Tempo Comum – Semanas de XVIII-XXXIV] – Paulus).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 20 de agosto de 2024

(Ez 28,1-10; Sl Dt 32; Mt 19,23-30) 20ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus disse aos discípulos: ‘Em verdade vos digo, dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus” Mt 19,23.

“Pode soar chocante ouvir de Jesus que um rico dificilmente entrará no Reino dos Céus. Ele que foi sempre tão misericordioso, teria preconceito contra os ricos? Por que, então, fecha-lhes as portas do Reino? Rico, no pensar de Jesus, é quem transforma os bens deste mundo em autênticos ídolos e fecha seu coração para Deus e para os irmãos; quem ama sua propriedade sobre todas as coisas, e, para protegê-las e fazê-las multiplicar, não hesita em lançar mão de qualquer artifício, mesmo injusto, desonesto, ilegal. A penúria do irmão necessitado não chega a sensibilizá-lo. Só pensa em si mesmo, em suas necessidades e em seus prazeres. Por conseguinte, não existe espaço para a graça atuar em seu coração. Neste caso, tornar-se impossível Deus chegar a ser, de algum modo, senhor de sua vida. Nele, o Reino de Deus não pode acontecer. Seu coração está bloqueado. Não é Deus quem fecha as portas do Céu para o rico. É este quem se recusa a entrar no Reino e assimilar sua dinâmica. Os apelos de Deus tornam-se inúteis e ineficazes. Embora Jesus deseje que o rico abra mão de seu projeto de vida egoísta e acolha o Reino, ele persiste em sua idolatria. O amor de Jesus não chega a tocá-lo. É por esta razão que mais fácil um camelo atravessar o buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus. – Senhor Jesus, livra-me da mentalidade dos ricos que recusam o apelo do Reino, por causa da idolatria que lhes corrompe o coração” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 19 de agosto de 2024

(Ez 24,15-24; Sl Dt 32; Mt 19,16-22) 20ª Semana do Tempo Comum.

“Alguém aproximou-se de Jesus e disse: ‘Mestre, o que devo fazer de bom para possuir a vida eterna?’”

Mt 19,16.

“Jesus está falando perante uma multidão que o escuta com avidez; no meio da multidão, encontra-se um jovem de olhar ouro e de coração simples; esse jovem, tendo Jesus terminado sua alocução, apresenta-se a ele, desejando algo mais que o cumprimento dos preceitos da Lei; o jovem espera de Jesus uma norma de vida mais perfeita que os mandamentos para garantir a vida eterna; não espera que Jesus o envie franca e simplesmente aos mandamentos do Decálogo. O jovem sentia desejos de perfeição; queria ser algo mais que um simples cumpridor da Lei; havia-se sentido influenciado pela santidade que vislumbrava nas palavras de Jesus. Por isso, dirige-se ao Mestre e pergunta-lhe: ‘Que devo fazer?’. E assim o faz o Mestre; recorda-lhe primeiramente a observância dos mandamentos; porém, abre-lhe o caminho para uma vida perfeita: o desapego voluntário que lhe permitirá seguir aquele que nada possui. Porém o jovem não se anima e retrocede, fica desiludido e desilude Jesus, que tinha posto o olhar nele como num futuro apóstolo. Cada um de nós, em determinado momento da vida, teve de fazer essa mesma pergunta ao bom Mestre: ‘Que devo fazer?’ (v. 16). Que queres que eu faça? Qual é a tua vontade a meu respeito? A vida é um chamado de Deus, e nós temos de conhecer para que nos chama. Ao jovem do evangelho, Jesus descobriu provavelmente; porém agora resta-nos responder devidamente ao chamado. O primeiro passo que devemos dar para chegar à perfeição é desejá-la sinceramente e de todo coração; é verdade que, se esses desejos forem estéreis porque não se refletem nas obras, para nada nos servem concretamente; porém, é certo também que não se chega às boas obras sem um desejo prévio de melhora e perfeição” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Assunção de Nossa Senhora – Missa do Dia

(Ap 11,19; 12,1.3-6.10; Sl 44[45]; 1Cor 15,20-27; Lc 1,39-56)*

1. A solenidade de hoje coroa o ciclo das grandes celebrações litúrgicas nas quais somos chamados a contemplar o papel da Bem-aventurada Virgem Maria na história da salvação.

2. Com efeito, a Imaculada Conceição, a Anunciação, a Maternidade Divina e a Assunção são etapas fundamentais, intimamente ligadas entre si, com que a Igreja exalta e canta o glorioso destino da Mãe de Deus, nas quais podemos ler também a nossa história.

3. O Mistério da concepção de Maria evoca que, no desígnio divino da criação, o ser humano deveria ter tido a pureza e a beleza da Imaculada. Aquele desígnio, comprometido, mas não destruído pelo pecado, foi recomposto e restituído pela vinda do Filho, através de Maria e pela livre aceitação do ser humano na fé.

4. Assim, na Assunção de Maria, contemplamos aquilo que somos chamados a alcançar no seguimento de Cristo e na obediência à sua Palavra, no final de nosso caminho na Terra. E como percorreu Maria, esse caminho?

5. O evangelho nos oferece algumas pistas. Lucas nos diz que logo depois do anúncio do Anjo, “Maria partiu,... apressadamente”, para visitar Isabel. Dizendo isto, ele quer sublinhar que, na ação do Espírito Santo, que não comporta lentidões, Maria deve percorrer uma nova vereda e empreender um caminho fora da própria casa, deixando-se conduzir unicamente por Deus.

6. Sua vida passa a ser conduzida por Outro e é assinalada por acontecimentos e encontros. É um caminho em que Maria, conservando e meditando no coração os acontecimentos da própria existência, vislumbra neles de modo cada vez mais profundo o misterioso desígnio de Deus Pai para a salvação do mundo.

7. Seguindo Jesus de Belém para o exílio no Egito, na vida escondida e na pública, até aos pés da cruz, Maria vive a sua ascensão constante a Deus no espírito do Magnificat, aderindo plenamente, também no momento da obscuridade e do sofrimento, ao projeto de amor de Deus e alimentando no coração o abandono total nas mãos do Senhor, de maneira a ser modelo para a fé da Igreja.

8. Toda a vida é uma ascensão, a vida inteira é meditação, obediência, confiança e esperança, mesmo na obscuridade; e toda a vida é esta ‘pressa sagrada’, que sabe que Deus é sempre a prioridade, e nada mais deve causar pressa na nossa existência.

9. A Assunção recorda-nos que a vida de Maria, como a de cada cristão, é um caminho no seguimento, na sequela de Jesus, um caminho que tem uma meta específica, um futuro já traçado: a vitória definitiva sobre o pecado e sobre a morte, e a comunhão plena com Deus. Tudo isso já iniciado em nosso batismo.   

10. Em nós, a união com Cristo, a ressurreição, está incompleta, mas para a Virgem Maria ela é completa, não obstante o caminho que também nossa Senhora pôde percorrer. Ela entrou na plenitude da união com Deus, com seu Filho, e nos atrai e nos acompanha no nosso caminho.

11. A vida do ser humano na Terra, nos recorda a 1ª leitura, é um caminho que se realiza, constantemente na tensão entre o bem e o mal, como uma viagem num mar frequentemente borrascoso. Maria é a estrela que nos orienta para o seu Filho Jesus, nos lembra São Bernardo. Nele temos a vitória.

12. Com este santo, místico cantor da Virgem Santa, assim a invocamos: “Suplicamos-te, ó bendita, pela graça que encontraste, por aquelas prerrogativas que mereceste, pela Misericórdia que tu deste à luz, faz com que Aquele que por ti se dignou tornar-se partícipe da nossa miséria e enfermidade, graças à sua intercessão, nos torne partícipes das suas graças, da sua bem-aventurança e da sua Glória eterna, Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que está acima de todas as coisas, Deus bendito nos séculos dos séculos. Amém”. 

* Com base em texto de Bento XVI.   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 17 de agosto de 2024

(Ez 18,1-10.13.30-32; Sl 50[51]; Mt 19,13-15) 19ª Semana do Tempo Comum.    

“Então Jesus disse: ‘Deixai as crianças e não as proibais de virem a mim, porque delas é o Reino dos Céus’”

Mt 19,14.

“Ao apresentar seus filhos para serem abençoados por Jesus, algumas mães estavam rompendo um sistema de marginalização das crianças. Os discípulos repeliam-nas, de acordo com mentalidade reinante: as criancinhas eram tidas como seres sem valor algum para ficar importunando o Mestre. Jesus se posicionou contra essa visão distorcida. O Reino anunciado por ele fundava-se na igualdade das pessoas. Era um Reino de comunhão e fraternidade. Portanto, não podia admitir a exclusão de quem quer que fosse. Às criancinhas, o Mestre disse estar reservado um lugar especial no Reino, pois este pertenceria a quem se parecesse com elas. O modo de ser dos pequeninos devia servir de modelo de comportamento do discípulo do Reino. Se dele as crianças fossem excluídas, o Reino ficaria privado de um referencial muito importante. Não que o ideal do discípulo é ser ingênuo e infantil, como se acredita serem as crianças. E sim, ser capaz de confiar plenamente em Deus, não buscar segurança por si mesmo, não ter o coração corrompido pela maldade. Ao impor as mãos sobre as criancinhas, Jesus reconhecia sua cidadania, no contexto do Reino. Por conseguinte, nas comunidades cristãs, as crianças teriam sua dignidade respeitada e não seriam inferiorizadas pelos adultos. Esta foi a vontade de Jesus que, ao implantar o Reino na história humana, recuperou o projeto de Deus para a humanidade. – Senhor Jesus, que na comunidade cristã se respeite a todos, a começar pelas criancinhas, que são um sinal de como devem ser os discípulos do Reino” (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 16 de agosto de 2024

(Ez 16,1-15.60.63; Sl Is 12; Mt 19,3-12) 19ª Semana do Tempo Comum.

“Com efeitos, existem homens incapazes para o casamento porque nasceram assim; outros, porque os homens assim os fizeram; outros, ainda, se fizeram incapazes disso por causa do Reino dos Céus.

Quem puder entender, entenda” Mt 19,12.

“Jesus convida à continência perpétua os que querem consagrar-se exclusivamente ao Reino de Deus. Jesus abre novo caminho; o celibato, melhor ainda, a consagração virginal. Diz Jesus que é possível que alguém renuncie ao matrimônio ‘por amor do Reino dos céus’ (v. 12). Esta afirmação torna-se extraordinariamente atrevida num contexto judaico, e a expressão final: ‘quem puder compreender, compreenda’ (v.12), demonstra que tem consciência de que existe um desafio, pois fala-lhes de um novo estado desconhecido e mal entendido então: o estado de virgindade escolhido voluntariamente e não sem chamado especial de Deus e escolhido para sempre e por amor a Deus. Este ideal de consagração não é válido para todos, mas para aqueles que receberam o dom divino; nem todos podem compreender este ideal senão aqueles aos quais Deus chama para semelhante estado, aqueles que têm a vontade firme de guardar a continência perfeita com vistas ao Reino” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).


Pe. João Bosco Vieira Leite

 


Quinta, 15 de agosto de 2024

(Ez 12,1-12; Sl 77[78]; Mt 18,21—19,1) 19ª Semana do Tempo Comum.

“Jesus respondeu: ‘Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete’” Mt 18,22.

“Fica claro nessa parábola que Jesus, em sua resposta a Pedro, não pensa na quantidade, e sim na qualidade do perdão. Ele visa a um perdão perfeito, um perdão que vem do fundo do coração. Como pode acontecer isso? Precisamos abrir o nosso coração e todos os seus recantos à misericórdia divina, para que não haja mais lugar nenhum ressentimento. Muitos acham que uma atitude dessas é algo impossível. Eles bem que gostariam de perdoar, mas em seu interior sentem ainda raiva, dor e tristeza. Para mim, o perdão do fundo do coração significa que permito a entrada do amor perdoador de Deus justamente nesses sentimentos negativos. Não posso realizar o perdão apenas por um ato de vontade. O coração não o acompanharia. Continuaria cheio de amargura e ódio. Para que possamos perdoar do fundo do coração, precisamos ter uma noção do perdão de Deus com a sua total ausência de limites, para que esse perdão nos torne capazes de perdoar. Depois de ter experimentado no fundo do meu coração. Mas não posso saltar por cima de meus sentimentos. Preciso permitir que eles sejam transformados, para que tudo em mim participe do perdão” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 14 de agosto de 2024

(Ez 9,1-7; 10,18-22; Sl 112[113]; Mt 18,15-20) 19ª Semana do Tempo Comum.

“De novo eu vos digo, se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir, isso vos será concedido por meu Pai que está nos céus” Mt 18,19.

“Toda a vida da Igreja e do cristão deve estar informada pela caridade. Essa caridade terá duas expressões ou manifestações: a correção fraterna e a oração comunitária. Pela primeira vez, expressa-se o autêntico amor fraterno, tendo o cuidado de não fazer do zelo uma função policial para com o próximo; não é este o pensamento de Jesus Cristo; a caridade sempre há de buscar o bem do próximo e a primeira exigência da caridade e da justiça é não divulgar o segredo. Outra manifestação da caridade é a reunião dos irmãos para orar juntos; se se reúnem ‘estando de acordo...’ Quanto custa aos cristãos estar de acordo, mesmo em coisa de suma importância e de enorme gravidade para sua vida e  para a vida do mundo! Estar de acordo para orar, quer dizer possuir um mesmo espírito de unidade, sendo todos um pelo amor de um mesmo Espírito, agindo todos movidos pela caridade, pelo desejo sincero de agradar ao Pai celestial e de ser proveito para o próximo. Estar de acordo é o que costuma faltar com mais frequência entre os cristãos comprometidos, que querem levar adiante o Reino de Deus, mas enquanto o Reino de Deus estiver em conformidade com seus critérios, ou suas maneiras de ser, ou com suas conveniências e interesses. É esta a causa de tantos fracassos apostólicos de tantos empreendimentos belamente concebidos num ambiente de verdadeiro zelo; porém, logo boicotadas pela falta de união dos que devem levar adiante. No entanto, se esses cristãos ‘se colocarem de acordo’ não só quanto às metas a alcançar, mas sobretudo na unidade do amor ao Pai em Jesus Cristo pelo Espírito, então o Senhor Jesus promete sua presença misteriosa, dinâmica e santificadora entre eles. E, com a presença de Jesus, tudo de bom se pode esperar e todos os êxitos espirituais e apostólicos virão sem demora. Essa presença ativa de Jesus entre nós será o que fará com que nossa oração seja bem feita; a oração particular e pessoal é necessária, e nada pode supri-la; porém, a oração coletiva, ou em comunidade eclesial, tem vantagens que não podemos desconhecer e, com estas palavras, Jesus quer fortemente fomentar entre nós a oração feita em comum e devidamente feita, com o devido espírito” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave-Maria).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 13 de agosto de 2024

(Ez 2,8---3,4; Sl 118[119]; Mt 18,1-5.10.12-14) 19ª Semana do Tempo Comum.

“Não desprezeis nenhum desses pequeninos, pois eu vos digo que os seus anjos nos céus veem sem cessar a face do meu Pai que está nos céus” Mt 18,10.

“A severidade e o desprezo dos líderes da comunidade em relação àqueles que davam os primeiros passos na vida de fé foram seriamente censurados por Jesus. Não era possível exigir deles uma maturidade própria de quem já havia feito uma longa caminhada. Os pequeninos deveriam ser tratados de maneira muito especial, com paciência e benignidade. Só assim sua fé haveria de se consolidar e se tornariam capazes de dar um testemunho autêntico de sua condição de discípulos. O carinho dos líderes pelos pequeninos não se parecia, por nada, com o amor do Pai para com eles. A parábola da ovelhinha desgarrada serviu de motivo para a compreensão deste amor paterno. Vale a pena deixar noventa e nove ovelhas, que estão em segurança, para ir em busca de uma que se desviou. O desinteresse pela ovelha desgarrada não tem justificativa. O pastor está em relação pessoal com a ovelha. Por isso, não pode contentar-se com a perda de nenhuma delas. Para ele, o rebanho não é questão de número. As ovelhas são consideradas na sua individualidade. E a perda de uma só delas é motivo de dor. O mesmo se passa com o Pai. Ele não considera a comunidade de discípulos sob aspecto numérico. Cada um deles, por menor que seja, é objeto de um carinho especial. Portanto, os líderes da comunidade não têm o direito de desprezá-los. -  Senhor Jesus, que eu jamais perca de vista o desejo do Pai em relação aos pequeninos, de forma a me tornar um incansável defensor deles (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 12 de agosto de 2024

  (Ez 1,2-5.24-28; Sl 148; Mt 17,22-27) 19ª Semana do Tempo Comum.

“Mas, para não escandalizar essa gente, vai ao mar, lança o anzol e abre a boca do primeiro peixe que tu pescares. Ali tu encontrarás uma moeda; pega então a moeda e vai entregá-la a eles, por mim e por ti”

Mt 17,27.

“O homem que é realmente livre pode submeter-se perfeitamente a certas regras, sem perder por causa disso a sua dignidade. Jesus ilustra essa verdade, mandando Pedro ao lago para pescar um peixe. No primeiro peixe que ele apanhar, encontrará uma moeda de um ‘estáter’ com a qual poderá pagar o imposto do templo para si mesmo e para Jesus. A justificativa de Jesus é a seguinte: ‘Para não os escandalizarmos’. Quem é livre continua livre mesmo se submetendo a regras externas. Ele se curva para não magoar ou escandalizar as pessoas. Muitas pessoas interpretariam a nossa liberdade como arbitrariedade e anomia, como anarquia, enfim. Por isso, é mais prudente submeter-se a certas regras. Mas essa convicção deve nascer da liberdade, não do medo de receber um castigo ou de não obter a salvação de Deus. Por isso existe nesse pequeno episódio um significado fundamental: Jesus vê o ser humano como filho ou filha livre de Deus. Essa liberdade deve encontrar a sua expressão no seu inter-relacionamento. O homem está livre da incerteza de encontrar ou não a salvação. Ele já vive essa salvação. Ele já está em Deus. Mas essa experiência de liberdade e dignidade exige também a disposição de aceitar os outros na comunidade com as suas estruturas” (Anselm Grün – Jesus, Mestre da Salvação – Loyola).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


19º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(1Rs 19,4-8; Sl 33[34]; Ef 4,30—5,2; Jo 6,41-51)*

1. O leitor atento do Evangelho de João logo se dará conta do seu estilo de desenvolver um pensamento como por volutas, como um aspiral, em repetições cíclicas. Se se olha bem, porém, cada voluta tem um vértice próprio e cada repetição introduz uma novidade.

2. Então vamos recapitular. Tivemos a multiplicação milagrosa e não compreensão, por parte da multidão que o busca, do sinal oferecido por Jesus, por isso Jesus os convida a esforçarem-se em busca de um alimento que permanece para a vida eterna.

3. Ele quer ajudá-los a compreender o significado profundo do prodígio que realizou: saciando de modo milagroso a sua fome física, prepara-os para aceitar o anúncio segundo o qual Ele é o pão do Céu, que sacia de modo definitivo.

4. Também o povo judeu, durante o longo caminho no deserto, tinha experimentado um pão descido do céu, o maná, que o conservara em vida até a chegada da terra prometida.

5. Pois bem, Jesus fala de si mesmo como verdadeiro pão do Céu, capaz de manter em vida não por um momento ou durante um trecho do caminho, mas para sempre.

6. Ele é o alimento que dá a vida eterna, porque é o Filho unigênito de Deus, que se encontra no seio do Pai, vindo para doar ao ser humano a vida em plenitude, para introduzi-lo na vida do próprio Deus.

7. No pensamento judaico era claro que o verdadeiro Pão do Céu, que alimentava Israel, era a Lei, a Palavra de Deus. O povo de Israel reconhecia com clareza que a Torá era o dom fundamental e duradouro de Moisés e que o elemento fundamental que o distinguia em relação aos outros povos consistia em conhecer a vontade de Deus e, portanto, o caminho reto da vida.

8. Agora Jesus, manifestando-se como o Pão do Céu, dá testemunho de ser a Palavra de Deus encarnada, através da qual o ser humano pode fazer da Vontade de Deus o seu alimento, que orienta e sustem a sua existência.

9. Então, duvidar da divindade de Jesus, como fazem os judeus na leitura do Evangelho de hoje, significa opor-se à obra de Deus. Com efeito, eles afirmam: é o filho de José! Conhecemos o seu pai e a sua mãe! Eles não vão além das suas origens terrestres, e por isso rejeitam acolhê-lo como a Palavra de Deus que se fez carne.

10. Santo Agostinho comenta: “Estavam distantes daquele Pão celeste, e eram incapazes de sentir fome dele. A boca do seu coração estava enferma... Com efeito, este pão exige a fome interior do homem”.

11. Somente quem é atraído por Deus Pai, quem o ouve e se deixa instruir por Ele pode acreditar em Jesus, encontrá-lo e alimentar-se dele para ter a vida em plenitude, a vida eterna.

12. Santo Agostinho acrescenta: “O Senhor... afirmou que é o Pão descido do Céu, exortando-nos a crer n’Ele. Com efeito, comer o Pão vivo significa acreditar nele. Quem crê, come; é saciado de modo invisível, e igualmente de modo invisível renasce. Ele renasce a partir de dentro e, no seu íntimo, torna-se um homem novo”.

13. Próximo domingo interromperemos nosso evangelho para celebrar a Virgem. Peçamos-lhe que nos guie rumo ao encontro com Jesus, a fim de que a nossa amizade com Ele seja cada vez mais intensa; peçamos-lhe que nos introduza na plena comunhão de amor com o seu Filho, o Pão descido do Céu, de maneira a sermos por Ele renovados no íntimo de nós mesmos. Amém.

* Com base em texto de Bento XVI.    

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 10 de agosto de 2024

(2Cor 9,6-10; Sl111[112]; Jo 12,24-26) São Lourenço, diácono e mártir.

“Em verdade, em verdade vos digo, se o grão de trigo que cai na terra não morre,

ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto” Jo 12,24.

“Nossos ouvidos não estão habituados a ouvir palavras como estas de Jesus. Nós pensamos que só a saúde, a força, o trabalho, isto é, o que nos sai bem, que pode construir positivamente nossa vida. O que podem trazer de bom e positivo à nossa vida a enfermidade, o sofrimento, a desgraça ou o fracasso? Pensemos, por exemplo, nossa experiência dolorosa da doença que todos podemos sofrer, cedo ou tarde, em nossa própria carne. A enfermidade se nos apresenta como algo totalmente mau e negativo, uma fatalidade absurda e injusta que lança por terra todos os nossos projetos. Não obstante, os próprios cientistas nos advertem de que a enfermidade nem sempre é algo danoso. Também pode ser a reação sábia do organismo que emite um sinal de alarme para que a pessoa se cure de feridas e conflitos profundos, reorientando sua vida de maneira mais sadia. Seja como for, a enfermidade pode ser uma experiência de crescimento e renovação, se o enfermo conseguir vive-la de maneira positiva. Eis a seguir algumas sugestões. A doença grave abala nossa segurança. Vivíamos tranquilos e sem problemas, e de repente nos vemos obrigados a deixar o trabalho, parar nossa vida e permanecer no leito. Então chegam as perguntas: Por que acontece isto justamente comigo? Será que vou curar-me? Poderei voltar de novo à minha vida de sempre? Ao adoecer, comprovamos que nossa vida é frágil e está sempre ameaçada. Se estamos atentos, vamos ouvir que a enfermidade nos convida a apoiar-nos em algo ou alguém mais forte e seguro que nós. Ao mesmo tempo, nessas longas horas de silêncio e dor, o enfermo começa a reviver lembranças prazerosas e experiências negativas, desejos insatisfeitos, erros e pecados. E surgem de novo as perguntas: Isto foi tudo? Para que vivi até agora? Que sentido tem viver assim? É o momento de reconciliar-se consigo mesmo e com Deus, confessar os erros do passado e acolher em nós a paz e perdão. Mas, além disso, a enfermidade nos ajuda a abrir os olhos e ver com mais lucidez o futuro. Ao caírem tantas falsas ilusões, o doente começa a descobrir o que é verdadeiramente importante na vida, o que não quisera perder nunca: o amor às pessoas, a liberdade, a paz do coração, a esperança. É o momento de reorientar nossa vida de maneira mais humana. Intuímos o que será melhor para nós. Passarão os dias e as noites. O organismo vai curar-se ou, talvez, cairá num processo incurável. Mas, seguindo a Cristo, muitas pessoas poderão descobrir que o grão que morre dá fruto. O sofrimento purifica e a enfermidade pode levar uma vida saudável” (José Antonio Pagola – O Caminho Aberto por Jesus – João – Vozes).


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 09 de agosto de 2024

 (Naum 2,1.3; 3,1-3.6-7; Sl Dt 32; Mt 16,24-28) 18ª Semana do Tempo Comum.

“Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim vai encontrá-la” Mt 16,25.

“O discípulo do Reino vê-se diante de duas propostas contrárias. Por um lado, Jesus o convida a assumir seu projeto de vida, com seu competente de cruz, até o ponto de perder a própria vida por causa dele. Por outro, o mundo apresenta-lhe o ideal de garantir a própria segurança, através do acúmulo de bens e da busca de proteção humana. O contraste é evidente. Riqueza e pobreza, honra e desprezo, segurança e perda de si mesmo exigem dele uma decisão. Não existe uma vida intermediária. Jesus alertou o discípulo sobre a inutilidade de escolher o caminho da riqueza, da honra e da segurança. Tal caminho conduz à perdição, pois o Pai não se deixará impressionar pela grandeza de ninguém, quando irá recompensá-lo pelo que tiver feito ao longo de sua vida. O Pai está acima da riqueza e da honra humanas. Tudo será diferente, se a escolha do discípulo coincidir com a de Jesus. Sua recompensa será semelhante àquela que o Pai reservou para seu Filho. Então, o discípulo descobrirá em que consiste a riqueza imperecível, a honra sem mescla de engano, a segurança confiável. Sua opção por Jesus, insensata aos olhos do mundo, revelará toda a sua sensatez. Ele saberá que valeu a pena abrir mão dos próprios projetos e ambições, para abraçar a cruz do seguimento. A bondade do Pai não o decepcionará! – Senhor Jesus, que eu não hesite em renunciar aos meus interesses pessoais para seguir-te, pois, só assim, serei recompensado pelo Pai (Pe. Jaldemir Vitório, sj – O Evangelho nosso de Cada Dia [Ano B] - Paulinas).


Pe. João Bosco Vieira Leite