(Ez 47,1-9.12; Sl 45[46]; Jo 5,1-16) 4ª Semana da Quaresma.
“Aí se
encontrava um homem que estava doente havia trinta e oito anos” Jo 5,5
“Jesus cura
o doente depois de vê-lo num primeiro momento e, em seguida, interessar-se por
ele. O doente, ignorado durante muito tempo, recebe finalmente atenção. Ele se
sente prestigiado. E Jesus descobre por que está doente há tanto tempo. Jesus o
compreende. A fase mais importante da terapia consiste sempre na compreensão.
Quem se sente compreendido já começa a melhorar. Jesus pergunta ao doente:
‘Queres ficar curado?’ (5,6). É uma pergunta estranha, pois o doente certamente
veio ao santuário de cura para ser curado. Mas Jesus faz um apelo à vontade.
Não é uma obviedade que queiramos ser realmente curados. A psicologia fala num
prazer secundário que a doença transmite. Estando aleijados não precisamos
assumir a responsabilidade por nós e por nossa vida. Jesus desafia o doente a
enfrentar a vida. Mas o doente responde com uma longa justificação: ‘Senhor, eu
não tenho ninguém para mergulhar-me na piscina no momento em que a água começa
a se agitar; e, no tempo que levo para chegar lá, outro desce antes de mim’
(5,7). Para muita gente, a causa da doença consiste na falta de uma pessoa à
qual pudessem confiar-se, com a qual pudessem falar abertamente sobre seus
problemas. Mas as palavras do doente desse episódio parecem ter a sua origem na
autocomiseração. Ele se sente preterido. Os outros são mais rápidos. Estão em
situação melhor. Só ele não tem ninguém que goste dele, que cuide dele. O
doente explica a razão de sua longa enfermidade. A culpa é dos outros que não
ligam para ele, que não lhe ajudam. Ele mesmo não tem culpa. É a sua situação
que é pior que a dos outros. Diante dessa lamentação, em vez de reagir com
compaixão, Jesus assume uma atitude de confronto, de desengano: ‘Levanta-te,
toma a tua maca e anda’ (5,8). Jesus tira do doente a ilusão de que só os
outros são culpados de sua doença. Depois de ter revigorado a vontade do
enfermo com a sua pergunta, apela agora a essa vontade: ‘Levanta-te! Se quiseres
poderás andar. Vai, que dá certo’. O próprio doente tem que dar os passos
necessários para fiar curado. Ele precisa da presença de Jesus para lhe
inspirar confiança em sua força de levantar-se. Jesus não o levanta, apenas lhe
transmite a confiança de que é possível ficar de pé. E, diante desse apelo que
desperta confiança, o doente tem coragem de levantar-se” (Anselm Grüm – Jesus: Porta
para a Vida – Loyola).
Pe. João
Bosco Vieira Leite