Terça, 12 de março de 2024

(Ez 47,1-9.12; Sl 45[46]; Jo 5,1-16) 4ª Semana da Quaresma.

“Aí se encontrava um homem que estava doente havia trinta e oito anos” Jo 5,5

“Jesus cura o doente depois de vê-lo num primeiro momento e, em seguida, interessar-se por ele. O doente, ignorado durante muito tempo, recebe finalmente atenção. Ele se sente prestigiado. E Jesus descobre por que está doente há tanto tempo. Jesus o compreende. A fase mais importante da terapia consiste sempre na compreensão. Quem se sente compreendido já começa a melhorar. Jesus pergunta ao doente: ‘Queres ficar curado?’ (5,6). É uma pergunta estranha, pois o doente certamente veio ao santuário de cura para ser curado. Mas Jesus faz um apelo à vontade. Não é uma obviedade que queiramos ser realmente curados. A psicologia fala num prazer secundário que a doença transmite. Estando aleijados não precisamos assumir a responsabilidade por nós e por nossa vida. Jesus desafia o doente a enfrentar a vida. Mas o doente responde com uma longa justificação: ‘Senhor, eu não tenho ninguém para mergulhar-me na piscina no momento em que a água começa a se agitar; e, no tempo que levo para chegar lá, outro desce antes de mim’ (5,7). Para muita gente, a causa da doença consiste na falta de uma pessoa à qual pudessem confiar-se, com a qual pudessem falar abertamente sobre seus problemas. Mas as palavras do doente desse episódio parecem ter a sua origem na autocomiseração. Ele se sente preterido. Os outros são mais rápidos. Estão em situação melhor. Só ele não tem ninguém que goste dele, que cuide dele. O doente explica a razão de sua longa enfermidade. A culpa é dos outros que não ligam para ele, que não lhe ajudam. Ele mesmo não tem culpa. É a sua situação que é pior que a dos outros. Diante dessa lamentação, em vez de reagir com compaixão, Jesus assume uma atitude de confronto, de desengano: ‘Levanta-te, toma a tua maca e anda’ (5,8). Jesus tira do doente a ilusão de que só os outros são culpados de sua doença. Depois de ter revigorado a vontade do enfermo com a sua pergunta, apela agora a essa vontade: ‘Levanta-te! Se quiseres poderás andar. Vai, que dá certo’. O próprio doente tem que dar os passos necessários para fiar curado. Ele precisa da presença de Jesus para lhe inspirar confiança em sua força de levantar-se. Jesus não o levanta, apenas lhe transmite a confiança de que é possível ficar de pé. E, diante desse apelo que desperta confiança, o doente tem coragem de levantar-se”  (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite