4º Domingo da Quaresma – Ano B

(2Cr 36,14-16.19-23; Sl 136[137]; Ef 2,4-10; Jo 3,14-21)

1. No evangelho desse domingo, encontramos uma das frases mais belas e consoladoras da Bíblia: “Pois Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho unigênito, para que não morra toda aquele que nele crer, mas tenha a vida eterna”.

2. Paulo completa esse tema do amor de Deus por nós, acrescentando na 2ª leitura: “Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa de nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo”.

3. Aproveitemos, então para refletir sobre este tema que constitui o coração de toda a Bíblia: Deus é amor, Deus nos ama. E para nos falar do seu amor, Ele se serve da experiência do amor humano.

4. Todos os amores humanos – conjugal, paterno, materno, de amizade – são páginas de um caderno, ou fagulhas de um incêndio que tem em Deus a sua fonte e a sua plenitude. O amor de Deus que nos é revelado pela Sagrada Escritura serve de modelo ao amor humano.

5. A imagem mais eloquente é a do amor paterno. Entre outros, o profeta Oseas, compara Deus a um pai que ensina seu filho a andar, que o eleva à altura do seu rosto, que se inclina para alimentá-lo (cf. Os 11,1-4). O amor paterno é feito de estímulo, de impulso, de quem quer vê-lo crescer e dar o melhor de si.

6. Não o louvará incondicionalmente em sua presença, para que não pense que está no seu auge e não se esforce mais. Um aspecto do amor paterno é a correção, mas não o fará todo o tempo, em observações contínuas, para não desencorajá-lo. É ele quem dá liberdade e segurança, para que se sinta protegido na vida.

7. Outras vezes, Deus aparece sob a imagem do amor materno, como nos lembra Is 49,15: “Pode a mãe esquecer o seu filho...”. O amor da mãe é feito de acolhimento, de compaixão e de ternura; é um amor ‘visceral’. Parte das fibras mais profundas do seu ser, de lá, de onde seu filho foi gerado.

8. Qualquer coisa, por mais terrível, que um filho tenha feito, a sua 1ª reação é abrir-lhe os braços e acolhê-lo. As mães são sempre um pouco cúmplices dos filhos e comumente devem defendê-los e interceder por eles junto a figura paterna. São esses sentimentos que Deus tem por nós.

9. Do amor esponsal, que é ‘forte como a morte’ (Ct 8,6), Deus se serviu como imagem para convencer-nos do seu amor por nós. Todos os termos típicos do amor entre um homem e uma mulher, até mesmo o termo ‘sedução’, encontramos na Bíblia para descrever o amor de Deus por nós.

10. O amor esponsal é fundamentalmente um amor de desejo e de escolha. Um aspecto típico desse amor é o ciúme. No domingo anterior, no 1º mandamento já ficava claro o ciúme de Deus. No amor humano o ciúme pode indicar fragilidade e insegurança. Teme por si mesmo, que um outro possa roubar-lhe o coração da pessoa amada. Deus teme não por si mesmo, mas pelo ser humano, pois na busca dos falsos amores pode acabar se perdendo.

11. Jesus levou a cumprimento todos esses amores, chegando a referir-se a si mesmo como esposo. Mas a todos esses amores ele acrescenta o amor de amizade. A seus discípulos não chamava de servos, mas de amigos, a quem abriu seu coração, revelando os segredos de sua intimidade divina com o Pai e Espírito Santo.

12. Os antigos diziam que “a amizade é como ter uma alma em dois corpos”. Pode constituir um vínculo mais forte do que o de parentela. Ela nasce da confiança na partilha do que há de mais íntimo em meus pensamentos e minhas experiências, sejam negativas ou positivas.  

13. O amor de Deus é um oceano sem margens e sem fundo. O que partilhamos aqui é um gota. Mas nos basta. O que devemos fazer depois de recordar esse amor? Uma coisa simples: crer no amor de Deus, acolhê-lo; e repetir comovido, como são João: “Nós acreditamos no amor de Deus por nós” (cf. 1Jo 4,16). Amém. “Eu creio no...

Pe. João Bosco Vieira Leite