Sexta, 29 de março de 2024

(Is 52,13—53,12; Sl 30[31]; Hb 4,14-16; 5,7-9; Jo 18,1—19,42) Paixão do Senhor.

“Judas levou consigo um destacamento de soldados e alguns guardas dos sumos sacerdotes e fariseus

e chegou ali com lanternas, tochas e armas” Jo 18,3.

“Todo ano, na Sexta-Feira Santa, é proclamada a história da paixão segundo João. Entende-se que a teologia joanina da paixão combine com a liturgia da Sexta-Feira Santa, em que é celebrada a cruz como sinal da vitória e da salvação. No relato da paixão, a maneira simbólica com que João descreve os acontecimentos alcança o seu apogeu. Por um lado, percebeu-se que João chega mais perto da verdade histórica, tanto na cronologia quanto na indicação dos lugares concretos. Por outro lado, tudo o que João descreve tem ao mesmo tempo um sentido mais profundo. O visível é símbolo do invisível, do mistério do amor de Deus que se completa na paixão. O simbolismo já começa com a prisão de Jesus. Os guardas do destacamento que vieram prender Jesus caem ao chão e adoram nele o verdadeiro rei. Carregando tochas e lampiões, os soldados romanos e os servos do tribunal rendem homenagem ao rei. Jesus se revela a eles com as palavras ‘ego eimi’, isto é, ‘sou eu’ (18,6). Com essa expressão, Jesus quer dizer mais do que: ‘Sou eu o homem que procurais’. Esta passagem faz referência à revelação de Deus na sarça ardente: ‘Eu sou aquele que é’. É a forma absoluta do ‘eu sou’ que incute medo e respeito aos soldados. São romanos e judeus diante dos quais Jesus se revela no fim de sua vida. Historicamente, é pouco provável que judeus e romanos tenham formado um destacamento comum para essa operação. Mas a intenção de João vai além desse fato: a morte de Jesus se dá pelo mundo inteiro, por judeus e romanos. O mundo todo adora Jesus. Depois, Jesus se deixa prender para que os discípulos fiquem livres. Trata-se de outra imagem do mistério de sua morte: ele nos livra de todo cativeiro interno e externo” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite