(Is 52,13—53,12; Sl 30[31]; Hb 4,14-16; 5,7-9; Jo 18,1—19,42) Paixão do Senhor.
“Judas
levou consigo um destacamento de soldados e alguns guardas dos sumos sacerdotes
e fariseus
e chegou
ali com lanternas, tochas e armas” Jo
18,3.
“Todo ano,
na Sexta-Feira Santa, é proclamada a história da paixão segundo João.
Entende-se que a teologia joanina da paixão combine com a liturgia da
Sexta-Feira Santa, em que é celebrada a cruz como sinal da vitória e da
salvação. No relato da paixão, a maneira simbólica com que João descreve os
acontecimentos alcança o seu apogeu. Por um lado, percebeu-se que João chega
mais perto da verdade histórica, tanto na cronologia quanto na indicação dos
lugares concretos. Por outro lado, tudo o que João descreve tem ao mesmo tempo
um sentido mais profundo. O visível é símbolo do invisível, do mistério do amor
de Deus que se completa na paixão. O simbolismo já começa com a prisão de
Jesus. Os guardas do destacamento que vieram prender Jesus caem ao chão e
adoram nele o verdadeiro rei. Carregando tochas e lampiões, os soldados romanos
e os servos do tribunal rendem homenagem ao rei. Jesus se revela a eles com as
palavras ‘ego eimi’, isto é, ‘sou eu’ (18,6). Com essa expressão, Jesus quer
dizer mais do que: ‘Sou eu o homem que procurais’. Esta passagem faz referência
à revelação de Deus na sarça ardente: ‘Eu sou aquele que é’. É a forma absoluta
do ‘eu sou’ que incute medo e respeito aos soldados. São romanos e judeus
diante dos quais Jesus se revela no fim de sua vida. Historicamente, é pouco
provável que judeus e romanos tenham formado um destacamento comum para essa
operação. Mas a intenção de João vai além desse fato: a morte de Jesus se dá
pelo mundo inteiro, por judeus e romanos. O mundo todo adora Jesus. Depois,
Jesus se deixa prender para que os discípulos fiquem livres. Trata-se de outra
imagem do mistério de sua morte: ele nos livra de todo cativeiro interno e
externo” (Anselm Grüm – Jesus:
Porta para a Vida – Loyola).
Pe. João
Bosco Vieira Leite