(Ex 20,1-17; Sl 18[19]; 1Cor 1,22-25; Jo 2,13-25)
1. O nosso evangelho nos recorda
a conhecida narrativa sobre o modo como Jesus expulsa os vendilhões do templo e
ao mesmo tempo se apresenta como o novo templo de Deus que os homens
destruirão, mas que Deus fará ressurgir em três dias.
2. Quero iniciar a nossa
reflexão pela 1ª leitura que nos oferece a oportunidade de voltarmo-nos sobre
os dez mandamentos, que servem de base para o nosso exame de consciência
contínuo. E que é também um problema para o homem moderno, que não os compreende,
vendo-os como arbitrários e limitadores da liberdade.
3. Mas na realidade os
mandamentos de Deus são manifestações do seu amor e da sua solicitude paterna
pelo ser humano: ‘Eu te ordeno de observar os mandamentos para que vivas e
sejas feliz’ (cf. Dt 6,3). Esta é a finalidade.
4. Os mandamentos podem ser
comparados a uma barragem, uma espécie de contenção para que não aconteça algo
parecido como o de brumadinho. A comparação pode parecer exagerada, mas veja o
que acontece em nossa sociedade quando sistematicamente não observamos certos
mandamentos, como o de não matar, não roubar...
5. Para o antigo Israel,
pertencer ao povo escolhido trazia consigo o compromisso de observar os
mandamentos: ‘Aquilo que disse o Senhor, nós faremos!’ (Ex 19,8). Para nós
cristãos não é diferente, que somos chamados a escutar a Cristo. É como se
constantemente devêssemos decidir, pessoalmente, de que lado queremos estar.
6. Jesus resume todos os
mandamentos, ou mesmo toda a Bíblia, num único mandamento: no amor a Deus e ao
próximo. Se amo a Deus, não servirei a outros deuses, não tomarei seu nome em
vão, santificarei o seu dia.
7. Se amo o próximo, honrarei os
meus pais, que são os mais próximos, não roubarei, não levantarei falso
testemunho. Tinha razão santo Agostinho ao dizer: ‘Ama e faz o que quiseres’.
Se alguém ama de fato, tudo aquilo que fizer tem como fim o bem do outro, mesmo
quando reprova ou corrige.
8. Essa realidade ilumina até o
nosso Evangelho de hoje: o que pode parecer uma atitude exagerada daquele que
se diz manso e humilde de coração, na realidade é movida pelo amor a seu Pai e
pelo zelo que o devorava; mas também o amor pela humanidade.
9. Jesus fica indignado com a
exploração que se fazia dos peregrinos seja na troca das moedas, seja nos
animais vendidos para o sacrifício, que obrigatoriamente tinham que ser
adquiridos naquele espaço por um preço três vezes maior que o normal ou do lado
de fora.
10. Jesus reage também a ideia
que se tenha que estar diante de Deus sempre com algo a oferecer, como se
tivesse que pagar o seu favor. Deus é amor e tudo o que espera do ser humano é
que reconheça a gratuidade do seu amor e lhe responda com a observância dos
mandamentos. Como os antigos profetas, Ele espera misericórdia e não
sacrifício.
11. Os mandamentos existem para
serem observados no seu conjunto, não somente o que me convém. Não adianta
honrar o pai e mãe, se mato, roubo... Precisamos examinar a nossa vida para ver
se não fazemos algo parecido.
12. Toda barragem tem que estar
compacta como sistema de contenção, se algo lhe escapa ou uma fenda se abre, há
sempre o risco de um desastre. Deus nos permita ser inteiros naquilo que nos
propomos.
Pe. João Bosco Vieira Leite