Terça, 21 de março de 2023

(Ez 47,1-9.12; Sl 45[46]; Jo 5,1-16) 

4ª Semana da Quaresma.

“Aí se encontrava um homem que estava doente havia 38 anos” Jo 5,5.

“João apresenta apenas três histórias de cura: a cura do filho de um funcionário régio (4,43-54), a cura do paralítico (5,1-18) e a cura de um cego de nascença (9,1-12). Na primeira história de cura focaliza-se sobretudo o efeito curador da fé. Quem confia em Jesus e nas suas palavras é curado. A sua alma é renovada interiormente, e em consequência disso efetua-se também a cura do corpo. Os dois outros episódios de cura acontecem no sábado, seguindo-se a eles uma longa discussão sobre temas teológicos. As curas são sinais de uma realidade, isto é, da glória de Deus, que se manifesta justamente no sábado e cuja comemoração mais adequada se dá no sábado.  A cura do paralítico tem lugar na piscina de Betzatá. Ao que tudo indica, trata-se de um santuário de cura antigo que era frequentado por muitos judeus enfermos. São descritos três tipos de doentes: cegos, paralíticos e aleijados. Todos esses males são também símbolos de uma situação psíquica. Somos cegos. Os nossos olhos estão fechados quando se trata de enxergar a verdadeira realidade, a nossa própria verdade. Temos pontos cegos e nos recusamos a vê-los. Estamos paralisados de medo. Temos medo de cometer algum erro e, por isso, ficamos bloqueados. E somos aleijados. Queríamos ser diferentes do que somos. Muita coisa em nós foi impedida de crescer deixando de se desenvolver. E assim ficamos mutilados. Vivemos apenas uma parte daquilo que está dentro de nós. Os nossos traumatismos bloquearam uma parte da nossa alma e a impediram de desenvolver-se. Podemos identificar-nos com todos esses doentes. Também com o doente que acaba curado. Diz-se que estava doente havia 38 anos. Para João, cada número tem uma conotação simbólica. Os israelitas vagaram durante 40 anos pelo deserto. Na verdade tinham chegado a seu destino em apenas dois anos. Mas como não acreditassem em Deus, tiveram que viajar outros 38 anos pelo deserto até que toda a geração de combatentes tivessem desaparecido (cf. Dt 2,14). O nosso doente representa, portanto, gente desarmada que já não é capaz de defender-se, de estabelecer limites. São pessoas suscetíveis, desconfiadas. Agostinho interpreta o número de outra maneira: 38 é para ele 40 menos 2; 40 é o número de cumprimento da lei. O homem estava doente porque não cumpriu as duas leis que Jesus tinha trazido, o amor de Deus e o amor ao próximo. Mas seja o que for que entendamos por esse número, certamente há por trás de um simbolismo que nos parece estranho hoje em dia” (Anselm Grüm – Jesus: Porta para a Vida – Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite