(Mq 7,14-15.18-20; Sl 102[103]; Lc 15,1-3.11-32)
2ª Semana da Quaresma.
“Então Jesus
contou-lhes esta parábola: ‘Um homem tinha dois filhos...’” Lc 15,3.11.
“A mais bela parábola
contada por Lucas é, sem dúvida, a do filho pródigo. Ela já recebeu inúmeras
interpretações. Isso mostra que o texto mexe com o leitor. Contra uma parábola,
de fato, é mais do que proclamar uma verdade teológica. As parábolas não
pretendem nem informar nem provar – querem nos obrigar a tomar posição. Os
filólogos falam em ‘comunicação persuasiva’. Quando Jesus conta uma parábola,
ele põe algo em movimento dentro do ouvinte. Não podemos ler a parábola do filho
pródigo, da maneira como Lucas a relata, sem que dentro de nós se inicie um
processo de mudança. O filho mais novo e o filho mais velho nos colocam diante
da pergunta: ‘Onde é que eu estou? Pareço com o mais novo ou com o mais velho?
Ou com ambos? Será que conheço bem esses dois lados dentro de mim?’. O tema dos
dois irmãos aponta exatamente para a polaridade interna da nossa alma. Temos
dentro de nós o filho mais novo, que gostaria de viver, simplesmente, sem olhar
para leis e medidas. E temos dentro de nós o irmão mais velho, o
bem-comportado, que se esforça para obedecer a todos os mandamentos. Deveríamos
olhar para ambos os lados, e ligar entre si os dois polos opostos dentro de
nós. A parábola não levanta o dedo moralizante, mandando que me converta e faça
penitência. Não, Lucas narra a parábola de Jesus de tal maneira que não posso
deixar de me fazer estas perguntas: ‘Onde é que me obstinei? Onde é que me
alimentei com coisas vis? Será que me perdi?’ Enquanto leio a parábola, meu
coração me incita a voltar para o pai, para lá onde estou realmente em casa” (Anselm Grüm
– Jesus, modelo do ser humano – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite