Sexta, 04 de março de 2022

(Is 58,1-9; Sl 50[51]; Mt 9,14-15) 

Depois das cinzas.

“Disse-lhes Jesus: ‘Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles?

Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão’” Mt 19,15.

“Aqui o evangelho toma um dos costumes do tempo de Jesus. Os fariseus eram muito rigorosos e exigentes no cumprimento do jejum no seu formalismo exterior, mas sem as disposições interiores, que são as que dão sentido religioso ao ritualismo; faziam jejuar seus estômagos, mas seus corações não jejuavam. Denúncia violenta do formalismo religioso. O povo recorre a Deus, consulta-o, invoca-o, guarda o jejum prescrito. Porém tudo é feito sem espíritos, sem comprometer o coração. As práticas piedosas são expressão do egoísmo do espírito; o pecado domina o fundo do coração. A penitência que Deus quer, a única que tem sentido, é aquela que se traduz em serviço aos homens: libertá-los da opressão, da fome, do frio, da nudez. O próximo necessitado é um irmão; só assim Deus escuta a oração, salva da fome, acolhe-o e regala-o com sua presença. Jesus acolhe a denúncia profética do formalismo religioso. Neste evangelho, fala-se do jejum em concreto; porém todo o contexto exige uma interiorização das práticas religiosas segundo o espírito. E há uma outra também muito própria do tempo da Quaresma. A Quaresma exige de nós a prática do jejum corporal; porém, sobretudo, o jejum que Deus nos pede é a total conversão em obras e não só em palavras e ritos externos. A conversão é a que vai produzir em nós a mais profunda alegria, a satisfação mais íntima e durável. Tendo Cristo convosco, vivendo Deus em nós, sentindo em nosso coração a presença de Deus Uno e Trino, Pai e Filho e Espírito Santo, nada existe que seja capaz de fazer-nos perder o gosto dessa presença de Deus em nós; nada nem ninguém existe que possa roubar-nos a paz da alma. Pela graça de Deus em nós, manter a graça em nós será o fundamento de nossa felicidade não só na outra vida, mas também nesta vida terrena” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do ano – Ave- Maria).

  Pe. João Bosco Vieira Leite