(Is 58,1-9; Sl 50[51]; Mt 9,14-15)
Depois das cinzas.
“Disse-lhes Jesus:
‘Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com
eles?
Dias virão em que o
noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão’” Mt 19,15.
“Aqui o evangelho
toma um dos costumes do tempo de Jesus. Os fariseus eram muito rigorosos e
exigentes no cumprimento do jejum no seu formalismo exterior, mas sem as
disposições interiores, que são as que dão sentido religioso ao ritualismo;
faziam jejuar seus estômagos, mas seus corações não jejuavam. Denúncia violenta
do formalismo religioso. O povo recorre a Deus, consulta-o, invoca-o, guarda o
jejum prescrito. Porém tudo é feito sem espíritos, sem comprometer o coração.
As práticas piedosas são expressão do egoísmo do espírito; o pecado domina o
fundo do coração. A penitência que Deus quer, a única que tem sentido, é aquela
que se traduz em serviço aos homens: libertá-los da opressão, da fome, do frio,
da nudez. O próximo necessitado é um irmão; só assim Deus escuta a oração,
salva da fome, acolhe-o e regala-o com sua presença. Jesus acolhe a denúncia
profética do formalismo religioso. Neste evangelho, fala-se do jejum em
concreto; porém todo o contexto exige uma interiorização das práticas
religiosas segundo o espírito. E há uma outra também muito própria do tempo da
Quaresma. A Quaresma exige de nós a prática do jejum corporal; porém,
sobretudo, o jejum que Deus nos pede é a total conversão em obras e não só em
palavras e ritos externos. A conversão é a que vai produzir em nós a mais
profunda alegria, a satisfação mais íntima e durável. Tendo Cristo convosco,
vivendo Deus em nós, sentindo em nosso coração a presença de Deus Uno e Trino,
Pai e Filho e Espírito Santo, nada existe que seja capaz de fazer-nos perder o
gosto dessa presença de Deus em nós; nada nem ninguém existe que possa
roubar-nos a paz da alma. Pela graça de Deus em nós, manter a graça em nós será
o fundamento de nossa felicidade não só na outra vida, mas também nesta vida
terrena” (Alfonso Milagro – O Evangelho meditado para cada dia do
ano – Ave- Maria).
Pe. João Bosco Vieira Leite