3º Domingo da Quaresma – Ano C

(Ex 3,1-8a.13-15; Sl 102[103]; 1Cor 10,1-6.10-12; Lc 13,1-9).

1. O tema da conversão está na pauta do dia do nosso evangelho que nos provoca e inquieta com essa parábola da figueira que não dá frutos. Quem vem procurar frutos nessa árvore que nos representa não é só Deus. Ele tem a mania de delegar inumeráveis indivíduos que atravessam a nossa estrada para ver se há frutos.

2. Todos têm o direito de encontrar, na existência de um cristão, qualquer coisa de boa que o ajude a viver, que o alimente, que lhe traga esperança.

3. A parábola quer nos lembrar que o cristianismo não é um fato privado, onde desenvolvemos nossas observâncias religiosas para sentir-nos seguros. Não se trata de cultivarmos nosso jardim religioso para uma satisfação pessoal ou para homenagear a Deus.

4. Ser cristão significa estar ‘exposto’, pois todos têm o direito de encontra em nós o cultivo de um pedacinho desse Reino de Deus. Desse deserto que transformamos em terra fértil. Todos passam a ter o direito de estender a mão para os frutos dessa árvore.

5. O terreno em que estamos plantados é constantemente atravessado por milhares de pessoas que, em suas experiências de vida, buscam em nós elementos concretos de justiça, honestidade, perdão, lealdade, coerência, e também a capacidade de reconhecer nossos próprios defeitos.

6. São as nossas ações que indicam que o nosso Deus é um Deus de justiça, de misericórdia, de verdade, de amor. Ou pode ser que a figueira que nós somos só tem produzido desilusão em todas as estações. É rica em muita folhagem e vazia em frutos concretos.

7. O texto nos vem a propósito na quaresma para recordar-nos que esse tempo é de penitência, de cavar em volta, colocar adubo. Eu sei que é uma palavra fora de moda, esvaziada em seu sentido. Mesmo assim ela permanece presente no vocabulário cristão. Ela se traduz em mortificação e sacrifício.

8. A mortificação, para quem acolhe a mensagem de Cristo com seriedade, é sempre atual. Sacrifícios não são extravagâncias, como alguns querem entender. A ‘porta estreita’ que nos fala o evangelho, sempre reclama o excesso inútil, ou a certas comodidades, às quais não queremos renunciar.

9. A mortificação não deve reduzir-se a processo doloroso que tem o fim em si mesmo. Sua função é gerar vida, um serviço ao próprio crescimento, não ao aniquilamento. Mortificar, quer dizer, dar à morte, tudo aquilo que obstaculiza a vida, que bloqueia a plenitude, que distorce o sentido. Que não permite ser eu mesmo.

10. Algo que é sempre doloroso, mas que é para a vida. Quem faz a poda sabe disso, quem se deixa podar, ama a vida. Quando ‘viver’ deixar de ‘estar na moda’, podemos deixar de lado a mortificação. Não esqueçamos que as privações que mais agradam a Deus são aquelas que beneficiam os outros. São eles que colhem os frutos.

11. O nosso jejum é válido diante de Deus quando alguém vem saciado por causa dele. Se podemos sempre apelar à paciência de Deus, que espere um pouco, que nos conceda mais um crédito de confiança, aqueles que nos cercam nos apressam em sua impaciência, estendendo sua mão para alcançar algum fruto...

12. Somente contando com a paciência de Deus e a impaciência dos outros, a nossa figueira terá a possibilidade de não estar ocupando de maneira abusiva o terreno em que se encontra... Afinal de contas, que árvore somos nós?

 Pe. João Bosco Vieira Leite