2º Domingo da Quaresma – Ano C

(Gn 15,5-12.17-18; Sl 26[27]; Fl 3,17—4,1; Lc 9,28-36)

1. O episódio da Transfiguração está em estreita conexão com o anúncio da Paixão de Jesus, já próxima, e da exigência, da parte dos discípulos, em seguir a Cristo nessa via de negação de si mesmo e da cruz. Os apóstolos ficaram profundamente perturbados com esses discursos de Jesus.

2. E assim temos essa ‘teofania’, manifestação, revelação de Deus. Uma experiência antecipada da glória de Jesus, cujos elementos caracterizam por uma luz brilhante e uma palavra, que é o ponto culminante da revelação: ‘Este é meu Filho, o escolhido. Escutai o que ele diz’.

3. Essa mensagem é particularmente importante para esse três privilegiados e seus companheiros. Pois deverão seguir um Messias que agora veem envolto em glória, transfigurado, mas que logo lhes aparecerá humilhado, condenado, desfigurado, a ponto de não parecer um homem.

4. É necessário escutá-lo, mesmo quando propõe um itinerário difícil, fora do nosso gosto. A identidade de Jesus nos vem revelada depois que Moisés e Elias desaparecem. Que é também sua missão, que se põe em continuidade, mas também ruptura, superação, em relação a Moisés e Elias. Uma missão única.

5. Percebemos que os discípulos estranhamente, estão dormindo. O mesmo que acontecerá no monte das Oliveiras. Pedro desperta meio confuso e confusamente sugere eternizar aquele momento, sem perceber que esse momento constitui um ponto de partida e devem descer da montanha e caminhar.

6. Tomo aqui essa ideia de Pedro em erguer tendas. É curioso que nós humanos, desde sempre, nos preocupemos em construir, edificar um lugar para Deus que, ao contrário, desceu do céu para habitar na nossa casa, na nossa vida, no meio de nossas atividades diárias. E assim foram se edificando prédios magníficos.

7. A projeção das tendas por Pedro, talvez corresponda ao desejo inconsciente de manter Deus a uma certa distância, circunscrever a sua presença em lugares e tempos bem definidos. Mas Deus, desde a encarnação, escolheu um outro modo de presença que é aquela de cada dia.

8. Dizia um idoso sacerdote que o mistério mais difícil de digerir não é aquele da Santíssima Trindade, mas o da Encarnação. Quem quer ter Deus assim tão próximo? Alguns certamente preferem encontrar a Deus na casa dele e não na sua própria habitação.

9. Preferimos ir lá, estarmos de joelhos por um momento, depois levantar-se e seguir a própria estrada, sem riscos de tê-lo ao seu lado a todo momento. Um Deus sob uma tenda não incomoda, não perturba ninguém.

10. Estar com Deus na montanha pode ser agradável. Chato é quando Ele desce depressa e nos coloca no chão de cada dia em meio as pessoas. E nos propõe estar sob a nossa tenda e juntos olharmos as situações de cada dia. Oxalá não nos sintamos mal com esse jeito de Deus querer estar conosco...       

 Pe. João Bosco Vieira Leite