(Mc 11,1-10; Is 50,4-7; Sl 21[22]; Fl 2,6-11; Mc 15,1-39)
1. Nesse domingo, chamado de ‘Ramos’,
recordamos a entrada, assim chamada ‘triunfal’, de Jesus em Jerusalém,
juntamente com a narrativa da Paixão. Não podendo comentar todo o texto, me
limito a fixar nossa atenção nesse episódio que tem como protagonista Pilatos.
2. Durante a noite se desenvolveu o
processo ‘religioso’ diante do Sinédrio. Depois o encaminham para a autoridade
romana ocupante. No centro há uma pergunta: ‘Tu és o rei dos judeus?’. Nessa
transferência do prisioneiro do Sinédrio para o palácio, há uma mudança do
título de acusação.
3. Eles o haviam acusado de
apropriar-se do título de ‘Filho do Homem’. Como Pilatos não tinha
familiaridade, nem interesse pelas Escrituras, o ‘Filho do Homem’ chega a
Pilatos como ‘rei dos judeus’, ou seja, implicitamente, alguém capaz de
provocar desordem e insurreição popular.
4. Eles intuíram logo que só um
revoltoso político poderia interessar a Pilatos, como logo percebemos. Mas
Pilatos, por sua vez, percebe que tudo não passa de uma farsa e que deverá
leva-la adiante.
5. Pilatos foi governador da Judeia de
26 a 36 d.C. Malvisto pelos judeus, por representar as forças de ocupação
romana e por certos gestos impopulares e provocadores. Ele havia mandado tirar
do tesouro do Templo o necessário para construir um aqueduto. Não houve nenhuma
rebelião que ele não tenha sufocado no sangue.
6. Lucas menciona os galileus que ele
mandara matar enquanto ofereciam o sacrifício no Templo (13,1). O que vai
leva-lo para fora da Palestina será uma intervenção exagerada e cruel contra os
Samaritanos. A partir daí não se sabe mais dele.
7. Marcos o apresenta como um homem
ambíguo, medíocre, indeciso, oportunista. O procurador romano residia comumente
em Cesareia, próximo ao mediterrâneo. Subia a Jerusalém só na ocasião das
grandes festividades hebreias, para garantir a ordem. Certamente sem muito
entusiasmo.
8. Voltando a nossa cena: Pilatos tem
diante de si Jesus, os chefes judaicos, a multidão inquieta, e, ao menos
mentalmente, seus superiores em Roma. Deve prestar conta a todos eles. Assim,
não podendo estar face a face somente com o inocente, Pilatos segue uma linha
de contentar a todos. Não age com coerência e convicção.
9. Pode nos acontecer de não ter a
coragem de estar face a face com a verdade, ou com a justiça, mas olharmos em
outra direção, aquela da carreira, do julgamento dos outros, dos interesses
pessoais, do medo de comprometer-se, de arcar com as consequências... Nossa
escolha pode ser oportunista, como aquela de Pilatos.
10. É possível compreender a atitude de
Pilatos. Ele não queria ocupar-se do prisioneiro; já queria libertá-lo, antes mesmo de julgá-lo. Entregaram Jesus a ele. Mas ele não o queria. Pilatos queria
eliminar aquela presença inquietante sem ser obrigado a pronunciar-se. Ele não
consegue. Os chefes religiosos, a multidão, o impedem.
11. Ele é obrigado a escolher. Não
entre Jesus e Barrabás (Não foi escolha dele). Mas entre Jesus e tantas outras
coisas: a multidão, as autoridades locais, a própria popularidade, sua
carreira. É sempre assim com Jesus. Seria fácil acolhê-lo ou rejeitá-lo sem
tanta dificuldade. Aceita-lo ou eliminá-lo sem ter que escolher.
12. Mas Jesus sempre se apresenta como
alternativa entre alguém ou alguma coisa. Sua voz só se acolhe quando fazemos
calar outras vozes. A questão não é se Jesus seja culpado ou inocente, mas se
somos dispostos a nos deixarmos envolver pessoalmente.
13. Jesus pode tornar-se um problema,
uma decisão a ser tomada. Assim, é melhor deixa-lo prisioneiro e não livre para
estragar nosso sono ou nossa digestão. E Pilatos entrega a eles Barrabás e
Jesus. Pediram um e ganham dois. Um ladrão livre e um inocente amarrado. A quem
vamos executar? O que ou a quem escolhemos no lugar de Jesus?
Pe. João Bosco Vieira Leite