(Os 6,1-6; Sl 50[51]; Lc 18,9-14)
3ª Semana da Quaresma.
“O fariseu, de pé,
rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os
outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de
impostos” Lc 18,9-14.
“Lucas sabe de um
perigo que corremos na vida espiritual: o de nos imaginar perfeitos. Ele fala
de um orar incessante. Mas uma imagem tão idealizada da oração sempre tem
também um reverso. Corremos, então, o perigo de nos colocar acima dos outros na
própria oração. Sentimo-nos, então, superiores aos demais. Na parábola do
fariseu e do publicano, Lucas nos alerta contra o perigo de uma idealização
unilateral, e mostra-nos o polo oposto (Lc 18,9-14). A oração do fariseu é uma
piedosa auto espelhação. Gira somente em torno de si mesmo. Nesta parábola
Lucas nos pinta duas maneiras de orar: a oração do fariseu, satisfeito consigo
mesmo, e a oração do publicano humilde. Do ponto de vista puramente material,
já há diferença entre a oração do fariseu e do publicano. A do fariseu é longa;
a do publicano se destaca pela brevidade. Por outro lado, no fariseu a
preparação para a oração é curta. Ele simplesmente chega e começa a orar. O
publicano, porém, para na entrada, não tem coragem de levantar os olhos e bate
no próprio peito. Ele expressa a sua oração sobretudo corporalmente. O fariseu,
na sua oração, fica girando em torno de si mesmo. Ele se aproveita de Deus para
ilustrar a si mesmo devidamente. Para ele, o que importa não é Deus, mas sua
própria perfeição. O texto grego diz literalmente: ‘Ele orava a si mesmo’. Ele
usa estas palavras: ‘Deus, agradeço-te porque não sou como os outros’ (Lc
18,11). Mas a bem dizer, ao orar, ele não sai de si mesmo. Ele não olha para
Deus, mas exclusivamente para a sua própria pessoa. Muitas pessoas piedosas
pensam que rezam a Deus. Mas ficam dentro de si mesmas, oram a si mesmas,
adoram a si mesmas. Abusam da oração para demonstrar sua própria grandeza, para
se colocar sob a devida luz diante de Deus e dos homens. O publicano, porém,
sente quão longe se encontra de Deus. Ele reconhece, diante de Deus, quem
realmente ele é. Por isso ele bate no próprio peito e reza: ‘Ó Deus, tem
compaixão do pecador que eu sou’ (Lc 18,13). Depois o próprio Jesus faz o seu
comentário sobre essas duas maneiras de orar. O publicano, depois da sua
oração, vai para casa como um justo. Ele reconheceu diante de Deus a sua
própria verdade, e apresentou-lha, cheio de arrependimento. O fariseu valeu-se
de Deus apenas para se exibir. Somente aquela oração em que nos apresentamos a
Deus sem dó de nós mesmos há de nos orientar para Deus, tornando-nos
justos” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano –
Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite