Sábado, 13 de março de 2021

(Os 6,1-6; Sl 50[51]; Lc 18,9-14) 

3ª Semana da Quaresma.

“O fariseu, de pé, rezava assim em seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos” Lc 18,9-14.

“Lucas sabe de um perigo que corremos na vida espiritual: o de nos imaginar perfeitos. Ele fala de um orar incessante. Mas uma imagem tão idealizada da oração sempre tem também um reverso. Corremos, então, o perigo de nos colocar acima dos outros na própria oração. Sentimo-nos, então, superiores aos demais. Na parábola do fariseu e do publicano, Lucas nos alerta contra o perigo de uma idealização unilateral, e mostra-nos o polo oposto (Lc 18,9-14). A oração do fariseu é uma piedosa auto espelhação. Gira somente em torno de si mesmo. Nesta parábola Lucas nos pinta duas maneiras de orar: a oração do fariseu, satisfeito consigo mesmo, e a oração do publicano humilde. Do ponto de vista puramente material, já há diferença entre a oração do fariseu e do publicano. A do fariseu é longa; a do publicano se destaca pela brevidade. Por outro lado, no fariseu a preparação para a oração é curta. Ele simplesmente chega e começa a orar. O publicano, porém, para na entrada, não tem coragem de levantar os olhos e bate no próprio peito. Ele expressa a sua oração sobretudo corporalmente. O fariseu, na sua oração, fica girando em torno de si mesmo. Ele se aproveita de Deus para ilustrar a si mesmo devidamente. Para ele, o que importa não é Deus, mas sua própria perfeição. O texto grego diz literalmente: ‘Ele orava a si mesmo’. Ele usa estas palavras: ‘Deus, agradeço-te porque não sou como os outros’ (Lc 18,11). Mas a bem dizer, ao orar, ele não sai de si mesmo. Ele não olha para Deus, mas exclusivamente para a sua própria pessoa. Muitas pessoas piedosas pensam que rezam a Deus. Mas ficam dentro de si mesmas, oram a si mesmas, adoram a si mesmas. Abusam da oração para demonstrar sua própria grandeza, para se colocar sob a devida luz diante de Deus e dos homens. O publicano, porém, sente quão longe se encontra de Deus. Ele reconhece, diante de Deus, quem realmente ele é. Por isso ele bate no próprio peito e reza: ‘Ó Deus, tem compaixão do pecador que eu sou’ (Lc 18,13). Depois o próprio Jesus faz o seu comentário sobre essas duas maneiras de orar. O publicano, depois da sua oração, vai para casa como um justo. Ele reconheceu diante de Deus a sua própria verdade, e apresentou-lha, cheio de arrependimento. O fariseu valeu-se de Deus apenas para se exibir. Somente aquela oração em que nos apresentamos a Deus sem dó de nós mesmos há de nos orientar para Deus, tornando-nos justos” (Anselm Grüm – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).            

Pe. João Bosco Vieira Leite