(Is 42,1-7; Sl 26[27]; Jo 12,1-11)
Semana Santa.
“Judas falou assim
não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão;
ele tomava conta da
bolsa comum e roubava o que se depositava nela” (Jo 12,6).
“Jesus e seus
discípulos vivem desapegados e desapropriados para estarem melhor com o povo de
seu tempo. Ser pobre é ser comum, ou melhor, é a coragem de pôr tudo em comum.
Pregadores itinerantes conhecem a liberdade do caminho: quem tem muita bagagem
não pode ir muito longe, pesa demais o preço dos próprios apegos. Os discípulos
aprenderam que ser pobre e penitente não era fazer excessos de jejuns rigorosos
e sacrifícios ostensivos, mas sim, comer o que o povo comia, ter o que o povo
tinha. Pregaram o Evangelho num modo que nascia para o acúmulo dos bens com a
coragem de dizer que a pobreza evangélica é não ter, mas também não viveram sem
ganhar o próprio sustento; pregadores ambulantes não eram tipos que viviam ao
Deus dará, organizavam-se para repartir os pequenos ganhos. O grupo tinha lá o
seu modo de pôr tudo em comum, pois renunciar a apegos e excessos de gostos
particulares era o melhor modo de querer bem a todos. Contudo, de um modo ou de
outro sempre tem alguém que não consegue segurar um ideal comum. Sempre tem
alguém que não sabe ser pobre também com o dinheiro, porque de uma forma ou de
outra o dinheiro entra na nossa vida. Daí o ideal é esquecido, o egoísmo bate
forte, a hipocrisia é revelada, a bolsa das esmolas pedidas na porta do templo
ganha uma única direção do gosto pessoal. Isso que é o pior, ser ladrão do
ideal. – Senhor, ensina-me sempre a repartir! Que eu aprenda que
sabendo dividir sobra mais para todos. Amém” (Martinho Lutero e
Iracy Dourado Hoffman – Graças a Deus [1995] – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite