3º Domingo da Quaresma – Ano B

(Ex 20,1-17; Sl 18[19]; 1Cor 1,22-25; Jo 2,13-25)

1. O nosso evangelho de hoje nos traz uma das poucas vezes em que Jesus manifesta a sua, por assim dizer, ‘fúria’. Trata-se da constatação de que o Templo, casa de oração, havia se transformado num local de comércio, com a venda de animais (bois, ovelhas e pombas) para sacrifício e cambistas, já que as taxas do Templo exigiam a moeda própria.

2. Esse episódio é contado também pelos outros evangelistas, que o situam depois da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Mas o nosso autor o situa logo ao início do ministério de Jesus, para, logo, fazer sobressair a confrontação de Jesus com os dirigentes político-religiosos do seu tempo. 

3. São estes que pedem a Jesus esclarecimento do seu ato. Mas Jesus lhes responde lançando uma espécie de enigma, explicado pelo próprio autor, que fazia referência à sua ressurreição no 3º dia. É assim que Jesus começa a abrir caminho para a compreensão da Nova Aliança que se dará no seu sangue, não mais em sacrifício de animais.

4. É essa escandalosa imagem do Messias crucificado que servirá de sinal, diz Paulo, aos judeus e aos gregos, desse poder e sabedoria de Deus.

5. Como todas as religiões, os judeus tinham e têm seu lugar de culto. O templo acompanhou as transformações históricas e cumpriu uma dupla função: religiosa e política. Lugar de culto e de uma certa teocracia do regime político de Israel e símbolo da unidade nacional, daí sua polivalência e sua ambiguidade.

6. O espaço sagrado cumpre diversas funções a partir de cada religião; mas fundamentalmente este espaço se caracteriza pelo desembocar da presença da divindade, de lugar de culto a essa mesma divindade, e onde o povo, convocado, se reúne presidido por alguém designado para tal.

7. É justamente diante da degeneração do culto, que Jesus anunciará à samaritana que o verdadeiro culto se dá em espírito e vida, sem vinculação necessária de lugar e espaço físico. Jesus vem na esteira do que já haviam anunciado os profetas do Antigo Testamento sobre essa nova Aliança.

8. Após a ressurreição de Jesus e a destruição do Templo de Jerusalém, os primeiros cristãos e os apóstolos vão encaminhando uma nova dinâmica, que a princípio não precisava de templo. O importante era a reunião dos cristãos, como ainda hoje se faz em locais que não possuem uma igreja ou templo propriamente dito.

9. O santuário espiritual de Deus é a sua assembleia reunida, pois cada cristão batizado é o próprio templo de Deus. Aqui não se trata de algo intimista, sem projeção comunitária e exterior. O contexto social, a convivência e o rezar juntos é conatural à nossa vocação em Cristo para formar um povo que confessa a Deus em verdade e o serve.

10. Sem romper o equilíbrio pessoa-comunidade nem desvalorizar a expressão exterior das formas religiosas e litúrgica, é preciso dar, não obstante, a primazia ao espírito, à fé e ao coração. É levar o culto para vida e trazer a vida para o culto.

11. O culto verdadeiro, a autêntica religião e adoração, é uma resposta de fé à revelação de Deus que se expressa na vida em sua totalidade. Ao sair do templo cada domingo, ou cada dia, é quando apalpamos a verdade ou mentira de nosso culto ou religião. Jesus é o nosso modelo, em sua relação com Deus e com os homens e mulheres do seu tempo.     

Pe. João Bosco Vieira Leite