4º Domingo da Quaresma – Ano B

(2Cr 36,14-16.19-23; Sl 136[137]; Ef 2,4-10; Jo 3,14-21).

1. Esse é o domingo da alegria, na dinâmica preparativa da Quaresma para a Páscoa, já mais próxima. E as leituras se unem para nos falar que a história do pecado e da infidelidade do ser humano a Deus é paralela à história do perdão e amor de Deus a essa mesma humanidade.

2. O autor do Livro das Crônicas nos oferece uma teologia da história do povo eleito. O texto que nos é oferecido resume o ritmo ternário do filme sem fim: aliança com Deus, pecado do homem e perdão de Deus.

3. O texto começa falando das infidelidades à aliança; Deus envia seus mensageiros, e aqui estamos falando de Jeremias, eles não os escutam, vem o castigo: destruição de Jerusalém e do seu Templo e ainda vão exilados para a Babilônia; o salmo de hoje canta essa saudade do povo no exílio; por fim vem o agir de Deus através de Ciro.

4. É dessa misericórdia de Deus que fala a 2ª leitura, refletindo sobre o mistério salvífico, e nos preparando para a escuta do Evangelho. Em Jesus Cristo encontramos o sinal da gratuidade, do amor e da ternura de Deus, o sacramento de sua compaixão para com o homem pecador, que não pode alegar mérito próprio, tudo é graça.

5. O evangelho é a segunda parte do diálogo noturno entre Jesus e Nicodemos, onde não se distingue bem quais são as palavras de Jesus e o que é reflexão cristológica do nosso autor. Se no passado, Deus ofereceu salvação ao seu povo através do símbolo da serpente elevada numa haste, uma outra elevação trará nova salvação.

6. Tudo isso tem um motivo: o amor de Deus pelo ser humano e também uma finalidade: salvar e não condenar o mundo. Dirá Jesus mais tarde: ‘Quando eu for elevado da terra atrairei todos a mim” (Jo 12,32). Então, Ele dará vida eterna, vida em plenitude a quem nele crer.

7. Tudo se resume no amor de Deus que se antecipa ao amor humano. Quando nos é pedido para a amar a Deus acima de todas as coisas, é porque Deus nos amou primeiro e nos precedeu em seu carinho, manifestado em Cristo Jesus.

8. Deus não pode deixar de amar, porque é Amor. Se nos sentimos olhados por alguém com amor, ficamos alegres, abrimo-nos para ele; e se esse outro for Deus? Somos alguém para Ele; por que? Por puro dom dele mesmo.

9. Fomos criados no amor e para o amor. Por isso Paulo nos lembra que as boas obras devem reger o nosso agir, como resposta ao carinho de Deus. Para isso colocamo-nos sob a Sua luz, para entendermos que o fato de sermos amados por Deus não nos fecha num círculo em torno do qual cresce o desinteresse pelos outros. Também eles são amados por Deus.

10. Se tudo isso nos deixa indiferentes e frios como cristãos e crentes, como batizados e amados de Deus, algo em nós está errado, pois denuncia uma perda de sentido e de total consciência religiosa que nos impede de captar a surpreendente novidade: a predileção de Deus que ama o ser humano. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite