(Jr 31,31-34; Sl 50[51]; Hb 5,7-9; Jo 12,20-33).
1. Já estamos próximos de celebrar a
Semana Santa. Os evangelhos que temos acompanhado nos colocam nessa esteira da
celebração da morte e ressurreição salvadoras de Cristo.
2. Jesus já nos falou do mistério
pascal sob a imagem de Templo a ser destruído e reerguido em três dias e da
serpente erguida no deserto por Moisés. Hoje ele nos traz uma outra imagem
comparativa: o grão de trigo que cai por terra e trará o fruto da Nova aliança
no sangue de Jesus, para a remissão dos pecados.
3. Para alinhavar os textos de nossa
liturgia, é dessa nova aliança que Jeremias está falando na 1ª leitura, que se
dá, diz-nos o autor da Carta aos Hebreus, nessa difícil obediência de sua
Paixão. Torna-se assim, causa de salvação para todos que lhe obedecem.
4. Esse discurso de Jesus que
acompanhamos se dá depois de sua entrada triunfal em Jerusalém, que
rememoraremos no próximo domingo. Um texto rico e desenvolvido em base de
contrastes. Temos esses estrangeiros que querem ver Jesus, para conhecê-lo. Em
todos os tempos pessoas buscam ver Jesus; será que nos empenhamos ou permitimos
que o vejam a partir de nós?
5. Jesus responde com um discurso que
fala da sua glorificação, que outra coisa não é que sua paixão, morte e
ressurreição. Para fazer-se entender melhor, conta a parábola do grão de trigo;
que vale tanto para ele como para seus discípulos. Já ouvimos Jesus falar desse
‘morrer’ para dar fruto em outros momentos.
6. De repente o discurso ganha um tom
pessoal, como um desabafo humano, em seu caráter psicológico e expressivo,
lembra-nos Jesus do Monte das Oliveiras, que o evangelista não narra. Aqui fica
patente a natural repugnância de Jesus diante da morte em sua autêntica
humanidade, como bem traduz a 2ª leitura. Como qualquer um de nós, ele sente
medo.
7. Por fim, há uma voz, dirigida à
multidão, que nos conduz a compreensão que a Cruz de Cristo não é somente a
revelação do amor de Deus por nós, ou abertura do Evangelho a todos os povos,
aqui representados pelos estrangeiros que querem conhece-lo, mas também a hora
do juízo do mundo, em aceita-lo ou não, e a derrota do maligno.
8. No alto de sua cruz, no aparente
fracasso, Cristo deixa de ser um homem qualquer, por mais excelente que tenha
sido a sua doutrina, para se converter no centro da história. Senhor do mundo,
salvador da humanidade. Desde então, compreendemos que é possível amar e vencer
a força do desamor em nossa vida pessoal e no mundo que nos cerca.
9. Essa nova aliança estabelecida em
Cristo, revela o fracasso da antiga, por isso Jeremias anuncia o seu caráter
interior, pessoal, escrita não em tábuas, mas no coração do ser humano, que
aprenderá a adorar a Deus em espírito e verdade.
10. Desembocamos para uma pergunta
inevitável: Como é a nossa aliança com Deus, isto é, qual a minha atitude
religiosa e a consequente conduta ética? São autenticamente evangélicas porque
se baseiam no amor, são libertadoras e gratificantes porque geram alegria e
abertura ao irmão e ao mundo? Ou seria o contrário de tudo isso?
11. Nesse tempo que ainda nos resta,
rezemos com o nosso salmista: “Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de
novo um espírito decidido. Meu sacrifício é minha alma penitente. Não
desprezeis um coração arrependido”.
Pe. João Bosco Vieira Leite