(1Jo 1,5—2,2; Sl 123[124]; Mt 2,13-18)
Santos Inocentes.
“Ouviu-se um grito em
Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos
e não quer ser
consolada, porque eles não existem mais” Mt 2,18.
“A Igreja honra como
mártires este coro de crianças, vítimas do terrível e sanguinário rei Herodes,
arrancados dos braços de suas mães em tenra idade para escrever com seu próprio
sangue a primeira página do álbum de ouro dos mártires cristãos e merecer a
glória eterna segundo a promessa de Jesus: ‘Quem perder a vida por amor de mim
a encontrará’. Para eles a liturgia repete hoje as palavras do poeta Prudêncio:
‘Salve, ó flores dos mártires, que na alvorada do cristianismo fostes
massacrados pelo perseguidor de Jesus, como um violento furacão arranca as
rosas apenas desabrochadas. Vós fostes as primeiras vítimas, a tenra grei
imolada, num mesmo altar recebestes a palma e a coroa’. O episódio é narrado
somente pelo evangelista Mateus, que se dirigia principalmente aos leitores
hebreus e, portanto, tencionava demonstrar a messianidade de Jesus, no qual
haviam se realizado as antigas profecias: ‘Então Herodes, percebendo-se
enganado pelos magos, ficou muito irritado e mandou matar, em Belém e no seu
território, todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo de que
havia se certificado com os magos. Então cumpriu-se o que fora dito pelo
profeta Jeremias: ‘Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação: Raquel
chora seus filhos, e não quer consolação, porque não existem mais’. A origem
desta festa é muito antiga. Aparece no calendário cartaginês do século IV e cem
anos mais tarde em Roma no Sacramentário Leonino. Hoje, com a nova reforma
litúrgica, a celebração tem um caráter jubiloso e não mais de luto como era
antigamente, e isto em sintonia com os simpáticos costumes medievais, que celebravam
nestas circunstâncias a festa dos meninos do coro e do serviço do altar. Entre
as curiosas manifestações temos aquela de fazer descer os cônegos dos seus
lugares ao canto do versículo: ‘Depôs os poderosos do trono e exaltou os
humildes’. Deste momento em diante, os meninos, revestidos das insígnias dos
cônegos, dirigiam todo o ofício do dia. A nova liturgia, embora não quisesse
ressaltar o caráter folclórico que este teve no curso da história, quis manter
esta celebração, elevada ao grau de festa por são Pio V, muito próxima da festa
do Natal. Assim colocou as vítimas inocentes entre os companheiros de Cristo,
para circundar o berço de Jesus Menino de um coro gracioso de crianças,
vestidas com as cândidas vestes da inocência, pequena vanguarda do exército dos
mártires que testemunharão com o sangue o seu pertencer a Cristo” (Mario Sgarbosa
e Luigi Giovannini – Um Santo para cada Dia – Paulus).
Pe. João Bosco Vieira Leite