2º Domingo do Advento – Ano B

(Is 40,1-5.9-11; Sl 84[85]; 2Pd 3,8-14; Mc 1,1-8)

1. Fizemos uma breve introdução ao evangelho escrito por Marcos e hoje temos o início do mesmo apresentando a figura de João Batista. Ao usar o termo ‘Evangelho’, Marcos não está falando de um ‘livro’ ou um ‘escrito’, mas de uma pessoa. Jesus é a boa nova da salvação de Deus para a humanidade.

2. Aqui está uma das originalidades de Marcos em abrir sua narrativa com a pregação de João Batista no deserto e o faz de um modo sintético e funcional, sem perder-se em detalhes para logo introduzir a figura de Jesus. As citações usadas pelo autor nessa breve apresentação misturam Malaquias e Isaias.

3. Ele usa dois termos teológicos em sua introdução: ‘deserto’ e ‘caminho’, que são muito mais do que lugares geográficos. A experiência do deserto está entranhada no povo Judeu desde a experiência do êxodo. Lugar das grandes teofanias e encontros com Deus; ‘caminho’ significa orientação e estilo de vida.

4. João prega uma conversão absoluta, numa mudança radical de mentalidade e atitudes interiores que se traduz numa nova conduta moral segundo o estado e profissão de cada um, conforme o texto de Lucas 3,10ss, onde as pessoas perguntam ao Batista o que devem fazer...

5. Para João a finalidade de tudo isso é preparar o caminho ao Senhor que vem. Por isso o Batismo praticado por João traz essa novidade, mesmo consciente de tratar-se de um sinal provisório, pois aquele que virá traz a força do Espírito Santo, expressando sua humilde condição de servo, ou até menos que isso.

6. A 2ª leitura traz de volta o elemento da vinda última e da necessidade de uma conversão contínua. Ele usa uma linguagem apocalíptica que não deve ser tomada em sentido literal, salvo pelos filmes catástrofes hollywoodianos.

7. O primeiro sinal tomado pela comunidade cristã como prenúncio do fim do mundo foi a destruição de Jerusalém no ano 70 e a partir de então se perguntavam por que demorava tanto a se concretizar essa vinda última? É quando o autor fala do tempo de Deus e da paciência que usa para conosco.

8. Estas razões dadas pelo autor podem ser circunstanciais e menos convincentes num rigor lógico; mas encerram belas verdades teológicas sobre a eternidade de Deus, seu amor, sua paciência e sua misericórdia universais. Sobre este ‘quando’ e ‘como’ viver este tempo de espera já fomos instruídos pelas parábolas anteriores.

9. O que esperamos ou sonhamos com relação ao futuro, deve começar a ser realidade aqui e agora, melhorar o presente é germe do futuro. Assim sonhamos com um novo céu e uma nova terra, tempo novo já iniciado pelo próprio Jesus, criando uma fraternidade universal a partir da universal paternidade de Deus.

10. É certo que existem falhas, algumas enormes, em nosso redor; mas a esperança que a fé cristã dá não é alienante. Será sempre possível a conversão humana trazendo esperança ao nosso redor. Deus está presente entre nós e caminha conosco pelo deserto da história humana.

 Pe. João Bosco Vieira Leite