4º Domingo do Advento – Ano B

(2Sm 7,1-5.8b-12.14a.16; Sl 88[89]; Rm 16,25-27; Lc 1,26-38).

1. Esse é domingo mariano por excelência. Maria é colocada ao centro da nossa celebração, junto aos outros personagens que nos têm acompanhado ao longo do Advento, o profeta Isaias e João Batista. Ela é particular modelo de acolhimento do mistério divino em sua vida.

2. Um dos elementos colocados em destaque está no modo como Lucas constrói a sua narrativa aos moldes das grandes vocações bíblicas, como Moisés, Gedeon, Samuel, Saul, Jeremias, etc. Aquilo que foi decidido no íntimo de Maria ganha a roupagem repleta de citações e alusões da Escritura, por onde não vamos enveredar.

3. A resposta de Maria ao chamado de Deus é um compromisso total e pessoal com Deus, ao qual se manterá fiel por toda a vida. Um ‘sim’ em meio a penumbra da fé, pois lhe era impossível conhecer todas as consequências de sua opção.

4. Isso nos leva a pensar que há opções que fazemos na vida partindo de uma visão global, depois é que se vão revelando plenamente nos acontecimentos e problemas de cada dia, que ao mesmo tempo são oportunidades para reafirmarmos o compromisso inicial, em vez de se romper com ele.  Esta foi a situação de Maria, como a qualquer um de nós.

5. O decurso dos anos e dos acontecimentos da vida de Jesus foi-lhe mostrando em detalhes a vontade de Deus sobre ela; mas sua decisão primeira foi irreversível. Isto choca-se com a mentalidade moderna de tanta gente, cuja vida gira em torno do provisório, inclusive nos compromissos mais sérios como a opção cristã, a fé, um matrimônio, uma consagração a Deus...

6. Assim foi Maria, a mulher forte, diz o ofício, exemplo para os dias de hoje de fidelidade ao compromisso da fé e da estabilidade emocional. Como o Filho, no dizer de são Paulo, que foi sempre ‘sim’ para o Pai (1Cor 1,19).

7. Desse seu ‘sim’, algumas consequências práticas nos servem de referência para compreendermos essa nova humanidade que nela se revela.

8. Ela é o modelo de uma humanidade reconciliada e aberta a ação da graça. Ela nos estimula para que realizemos essa opção fundamental por Cristo, para a construção de um mundo mais humano.

9. Ela nos aponta uma relação nova com o Sagrado e com o próprio Deus marcada pela amizade, comunhão e colaboração. A fé cristã e entrega a Deus não anulam o ser humano, mas o elevam, o transcendem e o ajudam a realizar-se como pessoa.

10. Maria nos ensina que essa relação de intimidade com Deus não torna ocioso o nosso compromisso com o mundo, com as pessoas que nos cercam, mas potencializam nossa capacidade de perceber e lutar contra tudo que se opõem à liberdade, à vida, ao amor.

11. Hoje em dia sobram palavras de ideólogos, políticos e demagogos; e faltam fatos concretos de libertação dos humildes. Maria ensina-nos a evitar o verbalismo oco, assim como o ativismo sem relação com Deus e com o ser humano.

12. Ela fez do seu sim um programa de vida, feito de serviço, disponibilidade e santidade, atuando no que lhe era devido, foi inventando uma nova resposta de fé na lida de cada dia. Ela nos convida a envolver-nos no mistério do Natal do seu Filho e a prestarmos atenção ao modo como respondemos ao chamado do Senhor em nossa vida. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite