(Gn 3,9-15.20; Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-30)
1. No contexto litúrgico do Advento
celebramos a festa da Imaculada. Certamente o advento é um lugar particular da
devoção mariana, pois nele entendemos melhor o significado de Maria na história
da salvação. Ela mesmo é advento, isto é, expectativa ansiosa do nascimento do
Filho de Deus.
2. Fazemos memória do dia 8 de dezembro
de 1854, quando da promulgação do dogma como resultado de um longo processo do
sentir do povo de Deus, que acreditava que Maria foi enriquecida desde o
primeiro instante da sua concepção com o esplendor de uma santidade
inteiramente singular.
3. Podemos dizer que a 1ª e 2ª leitura,
abrem, respectivamente o Antigo e o Novo Testamento. Não vamos entrar na
questão da decoração e encenação dos gêneros literários usados pelos autores,
mas na mensagem revelada que ambas as passagens encerram.
4. A existência do pecado e do mal na
humanidade é um fato da experiência, sobre o qual a 1ª leitura nos oferece uma
reflexão explicativa. Nos é dito que o abuso da liberdade humana introduziu a
desordem no mundo e transtornou os planos de Deus sobre o ser humano e a
criação.
5. Adão comportou-se como uma criança
caprichosa que estraga o brinquedo recém-adquirido. Mas Deus, como um Pai
compreensivo refaz o seu projeto. Por isso, depois da sentença que se segue ao
pecado do homem, Deus abre o futuro à esperança. Tudo termina com boa nova de
uma descendência da mulher que vencerá a serpente.
6. Em Jesus, o novo Adão e filho de
Maria, realiza-se essa profecia messiânica. Assim, as leituras bíblicas de hoje
nos mostram o papel divergente das duas mulheres no projeto salvador de Deus;
papel negativo de Eva e positivo de Maria. Essa última foi assumida por Deus
como instrumento privilegiado, não meramente passivo. Do seu desígnio sobre a
nova humanidade.
7. É por causa da gestação do homem
novo, Cristo, que Maria é declarada imune de toda macha do pecado original,
desde a sua concepção. Este modo preventivo e privilegiado da redenção de Maria
se dá por três motivos: maternidade divina, função corredentora, e condição e
sinal da humanidade nova, segundo o projeto de Deus.
8. A maternidade divina é o fundamento
de toda a teologia mariana. Para ser a mãe do Salvador, convinha que possuísse
toda a santidade possível de uma criatura. Por consequência, sua maternidade é
um digno reflexo da paternidade e santidade absolutas de Deus. Por outro lado,
ela é colocada sob a ação santificante do Espírito Santo; a colaboração entre
ambos não podia ser mais perfeita.
9. A segunda razão, corredentora, nos
lembra que por sua união com o único redentor e mediador, Jesus Cristo, permite
a ela apresentar ao Pai a oferenda materna mais pura. Uma vez redimida, podia
cooperar com a salvação da humanidade.
10. O Vaticano II não aplica a Maria o
título de corredentora, mas fala de sua intercessão pelos irmãos do seu Filho
que ainda peregrinam, atribuindo-lhe qualificativos afins: advogada,
auxiliadora, socorro, medianeira. Nada acrescentando ou retirando do papel de
Cristo como único mediador.
11. Ela é, em terceiro lugar, a imagem
da humanidade restaurada. Toda a sua pessoa e vocação foi orientada para a obra
de Deus, que é a restauração da humanidade por meio do seu Filho feito homem.
Por isso, em si mesma se mostra a nova criação de Deus, a nova humanidade
restaurada em Cristo.
12. Se em Adão e Eva, a imagem do homem
e da mulher feitos à imagem de Deus se quebra, a imagem divina vem restaurada
por um novo homem e uma nova mulher, Cristo e Maria, que representam a nova
humanidade.
13. Não pretendemos ser ‘como Deus’,
mas queremos recuperar o paraíso perdido nessa nova realidade possível e ao
alcance do ser humano e de acordo com o plano divino: sermos filhos e filhas de
Deus, conforme afirma Paulo na 2ª leitura. Que essa filha predileta do Pai, nos
ensine e nos ajude nesse seguimento e imitação do seu Filho e a sermos dignos
de suas promessas. Amém.
Pe. João Bosco Vieira Leite