Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria - 2020

 (Gn 3,9-15.20; Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-30)

1. No contexto litúrgico do Advento celebramos a festa da Imaculada. Certamente o advento é um lugar particular da devoção mariana, pois nele entendemos melhor o significado de Maria na história da salvação. Ela mesmo é advento, isto é, expectativa ansiosa do nascimento do Filho de Deus.

2. Fazemos memória do dia 8 de dezembro de 1854, quando da promulgação do dogma como resultado de um longo processo do sentir do povo de Deus, que acreditava que Maria foi enriquecida desde o primeiro instante da sua concepção com o esplendor de uma santidade inteiramente singular.

3. Podemos dizer que a 1ª e 2ª leitura, abrem, respectivamente o Antigo e o Novo Testamento. Não vamos entrar na questão da decoração e encenação dos gêneros literários usados pelos autores, mas na mensagem revelada que ambas as passagens encerram. 

4. A existência do pecado e do mal na humanidade é um fato da experiência, sobre o qual a 1ª leitura nos oferece uma reflexão explicativa. Nos é dito que o abuso da liberdade humana introduziu a desordem no mundo e transtornou os planos de Deus sobre o ser humano e a criação.

5. Adão comportou-se como uma criança caprichosa que estraga o brinquedo recém-adquirido. Mas Deus, como um Pai compreensivo refaz o seu projeto. Por isso, depois da sentença que se segue ao pecado do homem, Deus abre o futuro à esperança. Tudo termina com boa nova de uma descendência da mulher que vencerá a serpente.

6. Em Jesus, o novo Adão e filho de Maria, realiza-se essa profecia messiânica. Assim, as leituras bíblicas de hoje nos mostram o papel divergente das duas mulheres no projeto salvador de Deus; papel negativo de Eva e positivo de Maria. Essa última foi assumida por Deus como instrumento privilegiado, não meramente passivo. Do seu desígnio sobre a nova humanidade.

7. É por causa da gestação do homem novo, Cristo, que Maria é declarada imune de toda macha do pecado original, desde a sua concepção. Este modo preventivo e privilegiado da redenção de Maria se dá por três motivos: maternidade divina, função corredentora, e condição e sinal da humanidade nova, segundo o projeto de Deus.

8. A maternidade divina é o fundamento de toda a teologia mariana. Para ser a mãe do Salvador, convinha que possuísse toda a santidade possível de uma criatura. Por consequência, sua maternidade é um digno reflexo da paternidade e santidade absolutas de Deus. Por outro lado, ela é colocada sob a ação santificante do Espírito Santo; a colaboração entre ambos não podia ser mais perfeita.

9. A segunda razão, corredentora, nos lembra que por sua união com o único redentor e mediador, Jesus Cristo, permite a ela apresentar ao Pai a oferenda materna mais pura. Uma vez redimida, podia cooperar com a salvação da humanidade.

10. O Vaticano II não aplica a Maria o título de corredentora, mas fala de sua intercessão pelos irmãos do seu Filho que ainda peregrinam, atribuindo-lhe qualificativos afins: advogada, auxiliadora, socorro, medianeira. Nada acrescentando ou retirando do papel de Cristo como único mediador.

11. Ela é, em terceiro lugar, a imagem da humanidade restaurada. Toda a sua pessoa e vocação foi orientada para a obra de Deus, que é a restauração da humanidade por meio do seu Filho feito homem. Por isso, em si mesma se mostra a nova criação de Deus, a nova humanidade restaurada em Cristo.

12. Se em Adão e Eva, a imagem do homem e da mulher feitos à imagem de Deus se quebra, a imagem divina vem restaurada por um novo homem e uma nova mulher, Cristo e Maria, que representam a nova humanidade.

13. Não pretendemos ser ‘como Deus’, mas queremos recuperar o paraíso perdido nessa nova realidade possível e ao alcance do ser humano e de acordo com o plano divino: sermos filhos e filhas de Deus, conforme afirma Paulo na 2ª leitura. Que essa filha predileta do Pai, nos ensine e nos ajude nesse seguimento e imitação do seu Filho e a sermos dignos de suas promessas. Amém.       

Pe. João Bosco Vieira Leite