(Ez 34,11-12.15-17; Sl 22[23]; 1Cor 15,20-26.28; Mt 25,31-46)
1. Esses últimos domingos nos serviram
para despertar a consciência de que um dia nos encontraremos com Deus e que,
numa atitude de vigilância constante, vivemos o tempo presente, fazendo o nosso
melhor com a graça ou dom que de Deus recebemos.
2. Numa última imagem desse tempo
comum, contemplamos a Cristo como rei, pastor e juiz, ao final da história.
Paulo nos lembra que esse estar diante de Deus faz parte da nossa condição de
ressuscitados em Cristo a quem foi entregue o senhorio universal.
3. Mas o que sobressai em nossa liturgia
da Palavra é a imagem do pastor, que guia seu povo e cuida. Diferentemente das
parábolas anteriores, esta não se dirige tão somente aos cristãos, mas a todos
os povos, cristãos, pagãos, crentes e ateus.
4. Talvez tenha sido essa parábola que
tenha levado São João da Cruz a afirmar que ‘No entardecer da vida seremos
julgados pelo amor’. Seremos julgados pela dinâmica do amor que imprimimos em
nossa vida nas nossas relações. Mas não nos escapa essa identificação de Cristo
com os pobres, marginais e sofredores.
5. Não há nada de triunfalista nessa
imagem. Sua soberania não tem a ver com as relações de poderio de nosso mundo
que confunde autoridade e poder com domínio e não com serviço.
6. Temos aqui elencadas as obras de
misericórdia, que não têm a intenção de serem exaustivas e menos ainda exclusivas,
outras realidades nos foram deixadas pelo próprio Jesus ao longo do evangelho:
fé, conversão, bem-aventuranças, graça, amizade com Deus, atitudes interiores,
culto religioso, conduta moral, mandamentos, por exemplo.
7. Tudo isso se concentra ou se engloba
no mandamento do amor a Deus e ao próximo, como nos foi dito. Porque amar é
cumprir toda a lei, nos diz Paulo (Rm 13,10).
8. A parábola fala da surpresa dos
personagens, nos recordando que qualquer homem ou mulher que busque viver o
amor e praticar a justiça é herdeiro do Reino de Deus, mesmo que não seja
cristão. Como sempre fez Jesus, ele rompe o círculo fechado do próximo. Isso
nos leva a compreensão da nova encíclica papal.
9. Não são as ideologias nem as
palavras que salvam ou condenam, mas as obras. Na realidade, o juízo já
acontece entre nós, pois o Reino de Deus está presente entre nós, mesmo não se
dando de modo pleno. A parábola nos lembra que no nosso dia a dia vamos
deixando claro com a nossa vida o amor ou a falta dele.
10. A sensibilidade e a solidariedade
efetivas perante a dor alheia são, pois, a medida exata do nosso cristianismo.
Quando nos reunimos para celebrar a eucaristia, o nosso culto deve refletir o
culto da nossa vida, e vice-versa, porque implicam-se mutuamente.
11. No nosso ato penitencial no início
da eucaristia temos de fazer o exame do amor, antes de apresentar nossa
oferenda no altar. Este exame do amor é a vigilância cristã. Ver como longínquo
o juízo final é um erro, porque já está presente. Por isso afirmamos a cada
domingo que cremos que ‘Ele virá a julgar os vivos e os mortos’.
- “Bendito sejas, Pai, porque
constituíste Cristo ressuscitado como Senhor e Rei da criação, como Juiz dos
vivos e dos mortos. Tu és o Deus santo, Tu és luz, amor, ternura e
misericórdia; e nós somos treva, egoísmo, dureza, frieza e violência. Não
obstante, Tu nos queres como filhos, tal como somos, mas mandas que nos amemos
uns aos outros como Cristo nos amou. Custa-nos muito, Senhor, ver Jesus nos pobres,
nos marginais, nos rudes, antipáticos, mal educados. Faz-nos ver neles a face
de Cristo sofredor. Incendeia os nossos corações com o fogo da tua palavra e
dá-nos o teu Espírito de amor para que nos transforme por completo e para que,
amando a todos, passemos no teu exame final. Amém” (B. Caballero
– A Palavra de cada Domingo – Paulus).
Pe. João Bosco Vieira Leite