Terça, 26 de fevereiro de 2019


(Eclo 2,1-13; Sl 36[37]; Mc 9,30-37) 
7ª Semana do Tempo Comum.

“Eles chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: ‘O que discutíeis pelo caminho?’” Mc 9,33.

“Depois do anúncio da paixão, os discípulos começaram a discutir ‘quem era o maior’ (9,34). Não pode haver equívoco maior diante das palavras de Jesus sobre a sua entrega às mãos dos homens. Jesus é abandonado, mas os discípulos só pensam em tirar maior proveito do reino de Deus. Jesus é humilhado, mas os discípulos sonham com sua grandeza. Depois do primeiro anúncio da paixão, Jesus colocara o foco de seus ensinamentos no entendimento correto do seguimento e no reconhecimento do Deus. Agora, suas palavras giram em torno da vida da comunidade de Jesus, ou seja, na Igreja. A compreensão da morte e ressurreição de Jesus traz consequências para a relação entre os discípulos. Eles não devem preocupar-se em saber quem é mais importante e maior. A questão não é a hierarquia e sim o serviço. Jesus dá uma demonstração dessa verdade, colocando no meio deles uma criança e abraçando-a: ‘Quem acolhe em meu nome uma criança como esta acolhe a mim mesmo; e quem me acolhe, não é a mim que acolhe, mas aquele que me enviou’ (9,37). Os discípulos não vivem para si mesmos. Eles devem servir aos outros. E de modo especial devem prestar seu serviço ‘às crianças pobres e necessitadas’ (Pesch, 1977, 107). É provável que Jesus esteja pensando ‘no acolhimento das crianças abandonadas’ e na ajuda aos ‘órfãos e crianças pobres’ (Pesch, 1977, 106). Na cruz se decide o autoconceito da Igreja. Ela está aí para servir aos pobres e desvalidos, e não para insistir presunçosamente em seus direitos. Ela deve manter-se aberta para todos os que não fazem parte dela, mas que expulsam demônios em nome de Jesus (9,38-41). A cruz na qual Jesus morre pelo mundo inteiro é, para Marcos, um símbolo da tolerância que a Igreja deve manifestar em relação a todos os seres humanos. Em vez de reservar para si mesma o direito exclusivo de representar Jesus, ela deve ter a confiança de que outros também saberão entender o mistério de Jesus e de seu Deus, dando testemunho dele à sua maneira. A cruz quer romper com a estreiteza mesquinha dos meios eclesiásticos, alargando o coração para o amor de Deus que se dirige a todos os homens. A cena com a criança ´pode ter ainda outro significado: devemos acolher Jesus como uma criança, não devemos abusar dele para aumentar nossa própria importância; antes devemos inclinar-nos para abraça-lo como uma criança. É preciso ter um coração carinhoso para entender e acolher o mistério de Jesus. Precisamos entrar em contato com a criança que está dentro de nós, para que possamos lidar adequadamente com uma criança. Para isso precisamos de um coração infantil, que está aberto ao amor e que sabe maravilhar-se, para encontrar Jesus. No mundo não podemos nos vangloriar da mensagem de Jesus. Muitos nos chamarão de infantis, porque nesse mundo que vive em função do sucesso e da concorrência ainda acreditamos no amor, porque apostamos nesse Jesus que avança pelo caminho do fracasso e é rejeitado pelos poderosos”  (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite