(Eclo 2,1-13; Sl 36[37]; Mc 9,30-37)
7ª Semana do Tempo
Comum.
“Eles chegaram a Cafarnaum.
Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: ‘O que discutíeis pelo caminho?’” Mc 9,33.
“Depois do anúncio da
paixão, os discípulos começaram a discutir ‘quem era o maior’ (9,34). Não pode
haver equívoco maior diante das palavras de Jesus sobre a sua entrega às mãos
dos homens. Jesus é abandonado, mas os discípulos só pensam em tirar maior
proveito do reino de Deus. Jesus é humilhado, mas os discípulos sonham com sua
grandeza. Depois do primeiro anúncio da paixão, Jesus colocara o foco de seus
ensinamentos no entendimento correto do seguimento e no reconhecimento do Deus.
Agora, suas palavras giram em torno da vida da comunidade de Jesus, ou seja, na
Igreja. A compreensão da morte e ressurreição de Jesus traz consequências para
a relação entre os discípulos. Eles não devem preocupar-se em saber quem é mais
importante e maior. A questão não é a hierarquia e sim o serviço. Jesus dá uma
demonstração dessa verdade, colocando no meio deles uma criança e abraçando-a:
‘Quem acolhe em meu nome uma criança como esta acolhe a mim mesmo; e quem me
acolhe, não é a mim que acolhe, mas aquele que me enviou’ (9,37). Os discípulos
não vivem para si mesmos. Eles devem servir aos outros. E de modo especial
devem prestar seu serviço ‘às crianças pobres e necessitadas’ (Pesch, 1977,
107). É provável que Jesus esteja pensando ‘no acolhimento das crianças
abandonadas’ e na ajuda aos ‘órfãos e crianças pobres’ (Pesch, 1977, 106). Na
cruz se decide o autoconceito da Igreja. Ela está aí para servir aos pobres e
desvalidos, e não para insistir presunçosamente em seus direitos. Ela deve
manter-se aberta para todos os que não fazem parte dela, mas que expulsam
demônios em nome de Jesus (9,38-41). A cruz na qual Jesus morre pelo mundo
inteiro é, para Marcos, um símbolo da tolerância que a Igreja deve manifestar
em relação a todos os seres humanos. Em vez de reservar para si mesma o direito
exclusivo de representar Jesus, ela deve ter a confiança de que outros também
saberão entender o mistério de Jesus e de seu Deus, dando testemunho dele à sua
maneira. A cruz quer romper com a estreiteza mesquinha dos meios eclesiásticos,
alargando o coração para o amor de Deus que se dirige a todos os homens. A cena
com a criança ´pode ter ainda outro significado: devemos acolher Jesus como uma
criança, não devemos abusar dele para aumentar nossa própria importância; antes
devemos inclinar-nos para abraça-lo como uma criança. É preciso ter um coração
carinhoso para entender e acolher o mistério de Jesus. Precisamos entrar em
contato com a criança que está dentro de nós, para que possamos lidar adequadamente
com uma criança. Para isso precisamos de um coração infantil, que está aberto
ao amor e que sabe maravilhar-se, para encontrar Jesus. No mundo não podemos
nos vangloriar da mensagem de Jesus. Muitos nos chamarão de infantis, porque
nesse mundo que vive em função do sucesso e da concorrência ainda acreditamos
no amor, porque apostamos nesse Jesus que avança pelo caminho do fracasso e é
rejeitado pelos poderosos” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a
Liberdade – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite