(Hb 10,32-39; Sl 36[37]; Mc 4,26-34)
3ª Semana do Tempo
Comum.
“Lendo e meditando
sobre o Evangelho de Marcos, não me preocupo tanto em encontrar a interpretação
que este dá aos fatos; o que procuro mesmo é encontrar o Jesus histórico, como
ele viveu e sofreu, como se relacionou com as pessoas e como se dirigiu a elas.
Sei, naturalmente, que mesmo no primeiro evangelho estou vendo Jesus pelos
‘óculos’ de Marcos, pois foi ele que escolheu as passagens da tradição que
achou importantes, e é sua também a maneira de lidar com esse material e
de interpretar teologicamente os acontecimentos em torno de Jesus. No evangelho
de Marcos tenho uma vivência de Jesus que me remete à sua maneira de ver as
coisas. Confio, no entanto, que Marcos tenha captado o mistério de Jesus de
forma correta e que essa interpretação dos fatos seja útil também para mim” (Anselm Grun
– Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).
“Jesus disse à
multidão: ‘O reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra” Mc 4,26.
“Jesus passa, então,
a contar a parábola da semente que germina por si. Essa parábola, cheia de
esperança e otimismo, é exclusiva do evangelho de Marcos. Nem é preciso grande
esforço para fazer germinar a semente. Basta o trabalho paciente do agricultor
que lança a semente e depois se deita e dorme e volta a levantar-se. Ele não
precisa controlar a semeada todos os dias. ‘De noite e de dia, a semente
germina e cresce, sem que ele saiba como’ (4,27). É um grande mistério o
processo pelo qual passa a palavra de Deus na alma humana ou na plantação do
mundo, até dar fruto. A terra produz ‘por si mesma’. No grego está
escrito automate. A semente cresce automaticamente, por si, sem nossa
colaboração. É um milagre que Deus opera na terra. Esse mesmo milagre Deus
operará em nossa alma. Ele fará com que a semente de sua palavra amadureça em
nós. De nós exige-se apenas que façamos o óbvio. Trabalhar, dormir e levantar
novamente para recomeçar a obra. Mas não há motivo para a impaciência. A
semente há de nascer, quer queiramos quer não. A mensagem dessa parábola tira
de nós aquela pressão angustiante de controlar e de fomentar constantemente o
processo de nosso amadurecimento interior. Ela nos livra também da
responsabilidade que faz depender de nós a expansão do Reino de Deus no mundo.
Deus mesmo cuida da semente que lança no mundo por meio de Jesus e seus
discípulos. Nossa tarefa é a do lavrador que semeia, para depois continuar
fazendo o que a vida doa dia-a-dia exige. A mensagem da parábola do grão de
mostarda, contada também por Mateus e Lucas, é semelhante. Novamente se realça
a ação espontânea da natureza. A atuação de Deus acabará prevalecendo, mesmo
que permaneça muitas vezes invisível. Nós mesmos viramos árvores em que outros
podem buscar abrigo. E a Igreja, que nesse mundo parece ser apenas uma pequena
grei, transforma-se em uma árvore que reúne os povos em sua sombra. Todas essas
parábolas são expressão da mensagem do Evangelho de Marcos: Deus opera a
salvação do ser humano na obscuridade; sob as aparências de coisas pequenas e
singelas se esconde o grande mistério da salvação de Deus. Na impotência da
cruz, Deus manifesta seu poder sobre os demônios. No ódio dos assassinos
revela-se o amor divino que vence a maldade deste mundo” (Anselm Grun
– Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).
Pe. João Bosco Vieira Leite