Sexta, 01 de fevereiro de 2019


(Hb 10,32-39; Sl 36[37]; Mc 4,26-34) 
3ª Semana do Tempo Comum.

“Lendo e meditando sobre o Evangelho de Marcos, não me preocupo tanto em encontrar a interpretação que este dá aos fatos; o que procuro mesmo é encontrar o Jesus histórico, como ele viveu e sofreu, como se relacionou com as pessoas e como se dirigiu a elas. Sei, naturalmente, que mesmo no primeiro evangelho estou vendo Jesus pelos ‘óculos’ de Marcos, pois foi ele que escolheu as passagens da tradição que achou importantes, e é sua também a maneira de lidar com esse material e de interpretar teologicamente os acontecimentos em torno de Jesus. No evangelho de Marcos tenho uma vivência de Jesus que me remete à sua maneira de ver as coisas. Confio, no entanto, que Marcos tenha captado o mistério de Jesus de forma correta e que essa interpretação dos fatos seja útil também para mim” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).  

“Jesus disse à multidão: ‘O reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra” Mc 4,26.

“Jesus passa, então, a contar a parábola da semente que germina por si. Essa parábola, cheia de esperança e otimismo, é exclusiva do evangelho de Marcos. Nem é preciso grande esforço para fazer germinar a semente. Basta o trabalho paciente do agricultor que lança a semente e depois se deita e dorme e volta a levantar-se. Ele não precisa controlar a semeada todos os dias. ‘De noite e de dia, a semente germina e cresce, sem que ele saiba como’ (4,27). É um grande mistério o processo pelo qual passa a palavra de Deus na alma humana ou na plantação do mundo, até dar fruto. A terra produz ‘por si mesma’. No grego está escrito automate. A semente cresce automaticamente, por si, sem nossa colaboração. É um milagre que Deus opera na terra. Esse mesmo milagre Deus operará em nossa alma. Ele fará com que a semente de sua palavra amadureça em nós. De nós exige-se apenas que façamos o óbvio. Trabalhar, dormir e levantar novamente para recomeçar a obra. Mas não há motivo para a impaciência. A semente há de nascer, quer queiramos quer não. A mensagem dessa parábola tira de nós aquela pressão angustiante de controlar e de fomentar constantemente o processo de nosso amadurecimento interior. Ela nos livra também da responsabilidade que faz depender de nós a expansão do Reino de Deus no mundo. Deus mesmo cuida da semente que lança no mundo por meio de Jesus e seus discípulos. Nossa tarefa é a do lavrador que semeia, para depois continuar fazendo o que a vida doa dia-a-dia exige. A mensagem da parábola do grão de mostarda, contada também por Mateus e Lucas, é semelhante. Novamente se realça a ação espontânea da natureza. A atuação de Deus acabará prevalecendo, mesmo que permaneça muitas vezes invisível. Nós mesmos viramos árvores em que outros podem buscar abrigo. E a Igreja, que nesse mundo parece ser apenas uma pequena grei, transforma-se em uma árvore que reúne os povos em sua sombra. Todas essas parábolas são expressão da mensagem do Evangelho de Marcos: Deus opera a salvação do ser humano na obscuridade; sob as aparências de coisas pequenas e singelas se esconde o grande mistério da salvação de Deus. Na impotência da cruz, Deus manifesta seu poder sobre os demônios. No ódio dos assassinos revela-se o amor divino que vence a maldade deste mundo” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite