(Hb 12,1-4; Sl 21[22]; Mc 5,21-43)
4ª Semana do Tempo Comum.
“Ora, achava-se ali
uma mulher que, há doze anos, estava com uma hemorragia” Mc 5,25.
“Jesus não pertence a
si mesmo e um dos sinais desse desprendimento é sua maneira de viver no tempo,
de empregar o tempo... Limitado em seu tempo e não podendo afastar-se dele um
momento, Jesus nunca está tenso, apressado. Pobre de seu tempo, ele nuca é avaro
dele. Um sinal habitual da riqueza é estar ou parecer muito ocupado. O rico ou
aquele que visa a sê-lo conta os minutos que lhe escapam como grãos que escoam.
Jesus nunca parece impaciente, apressado em terminar. Sinal do seu domínio
sobre si mesmo, sinal sobretudo do seu devotamento aos outros. Seu tempo não é
mais precioso do que o dos infelizes que o cercam; seu tempo, em verdade, não
lhe pertence, mas a todos aqueles que dele precisam. Um episódio é muito
instrutivo: o encontro e a cura daquela que sofria de um fluxo de sangue. A
mulher, doente há doze anos, que, através da multidão, chega a tocar o manto de
Jesus, não pensava, na sua fé, senão no poder do Senhor e pensava, na sua
modéstia, em poupar-lhe qualquer incômodo, qualquer perda de tempo. Seu
raciocínio parece, com efeito, especialmente oportuno, no instante em que o
chefe da sinagoga, estando sua filha às portas da morte, suplicava a Jesus para
apressar-se. Ora, Jesus, que há pouco o seguira imediatamente, para agora, como
se esquecesse a angústia do pai. Mas não pode deixar sem um olhar compassivo
uma fé deste quilate. Para, interroga, quer saber. Tempo perdido,
aparentemente, tempo dado a esta mulher, tempo que ele recupera, pois o tempo,
como toda criação, lhe pertence, e Jairo, por estes minutos perdidos terá dado
um passo a mais na fé. Assim, Jesus dispõe do tempo, mas dispõe dele sempre
como pobre, a serviço do Reino de Deus. Como diante do tempo que passa, ele é
pobre diante do tempo que vem. Dizer que o futuro está à sua disposição é nunca
tê-lo visto viver. É verdade que ele sabe perfeitamente onde vai e que ignora
nossas incertezas e nossas hesitações. Mas isso não quer dizer que ele seja o
senhor deste futuro; ele o recebe de seu Pai, não como um tesouro do qual ele
pode dispor à sua vontade, mas como um depósito do qual ele precisa prestar
contas: ‘Enquanto for dia, é preciso trabalhar nas obras daquele que me enviou.
Vem a noite onde não se pode trabalhar. Enquanto eu estiver no mundo, eu sou a
luz do mundo’ (Jo 9,4s). Mistério de dependência e de pobreza: a luz do mundo,
aquela que as trevas não podem atingir, obrigada a dar o seu brilho antes que
cheguem as trevas! Jesus sabe sempre o que vai fazer, nunca é pegado de
improviso pelo acontecimento, mas não o vemos combinar programas, prever
horários. Somos nós que fixamos programas e horários, para tentar, de acordo
com nossas forças, reter e utilizar o tempo que nos escapa. Para nós, o tempo
´sempre bom (Jo 7,6), tecido indistinto que empregamos para todos os usos. Mas
Jesus não tem escolha, nunca tem mais que uma hora e nunca pode fazer outra
coisa senão o que o Pai lhe pede” (J. Guillet – O tempo
contado – Editora Beneditina Ltda.).
Pe. João Bosco Vieira Leite