Terça, 05 de fevereiro de 2019


(Hb 12,1-4; Sl 21[22]; Mc 5,21-43) 
4ª Semana do Tempo Comum.

“Ora, achava-se ali uma mulher que, há doze anos, estava com uma hemorragia” Mc 5,25.

“Jesus não pertence a si mesmo e um dos sinais desse desprendimento é sua maneira de viver no tempo, de empregar o tempo... Limitado em seu tempo e não podendo afastar-se dele um momento, Jesus nunca está tenso, apressado. Pobre de seu tempo, ele nuca é avaro dele. Um sinal habitual da riqueza é estar ou parecer muito ocupado. O rico ou aquele que visa a sê-lo conta os minutos que lhe escapam como grãos que escoam. Jesus nunca parece impaciente, apressado em terminar. Sinal do seu domínio sobre si mesmo, sinal sobretudo do seu devotamento aos outros. Seu tempo não é mais precioso do que o dos infelizes que o cercam; seu tempo, em verdade, não lhe pertence, mas a todos aqueles que dele precisam. Um episódio é muito instrutivo: o encontro e a cura daquela que sofria de um fluxo de sangue. A mulher, doente há doze anos, que, através da multidão, chega a tocar o manto de Jesus, não pensava, na sua fé, senão no poder do Senhor e pensava, na sua modéstia, em poupar-lhe qualquer incômodo, qualquer perda de tempo. Seu raciocínio parece, com efeito, especialmente oportuno, no instante em que o chefe da sinagoga, estando sua filha às portas da morte, suplicava a Jesus para apressar-se. Ora, Jesus, que há pouco o seguira imediatamente, para agora, como se esquecesse a angústia do pai. Mas não pode deixar sem um olhar compassivo uma fé deste quilate. Para, interroga, quer saber. Tempo perdido, aparentemente, tempo dado a esta mulher, tempo que ele recupera, pois o tempo, como toda criação, lhe pertence, e Jairo, por estes minutos perdidos terá dado um passo a mais na fé. Assim, Jesus dispõe do tempo, mas dispõe dele sempre como pobre, a serviço do Reino de Deus. Como diante do tempo que passa, ele é pobre diante do tempo que vem. Dizer que o futuro está à sua disposição é nunca tê-lo visto viver. É verdade que ele sabe perfeitamente onde vai e que ignora nossas incertezas e nossas hesitações. Mas isso não quer dizer que ele seja o senhor deste futuro; ele o recebe de seu Pai, não como um tesouro do qual ele pode dispor à sua vontade, mas como um depósito do qual ele precisa prestar contas: ‘Enquanto for dia, é preciso trabalhar nas obras daquele que me enviou. Vem a noite onde não se pode trabalhar. Enquanto eu estiver no mundo, eu sou a luz do mundo’ (Jo 9,4s). Mistério de dependência e de pobreza: a luz do mundo, aquela que as trevas não podem atingir, obrigada a dar o seu brilho antes que cheguem as trevas! Jesus sabe sempre o que vai fazer, nunca é pegado de improviso pelo acontecimento, mas não o vemos combinar programas, prever horários. Somos nós que fixamos programas e horários, para tentar, de acordo com nossas forças, reter e utilizar o tempo que nos escapa. Para nós, o tempo ´sempre bom (Jo 7,6), tecido indistinto que empregamos para todos os usos. Mas Jesus não tem escolha, nunca tem mais que uma hora e nunca pode fazer outra coisa senão o que o Pai lhe pede”  (J. Guillet – O tempo contado – Editora Beneditina Ltda.).

  Pe. João Bosco Vieira Leite