Quinta, 21 de fevereiro de 2019


(Gn 9,1-13; Sl 101[102]; Mc 8,27-33) 
6ª Semana do Tempo Comum.

“Em seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da lei, deveria ser morto e ressuscitar depois de três dias” Mc 8,31.

“Na segunda parte do Evangelho de Marcos (8,27—10,52), Jesus se encontra a caminho de Jerusalém. Deixou de ser o curador que realiza obras de grande poder para ser o mestre que instrui os discípulos. Ele lhes explica o sentido de seu próprio destino e o mistério de sua pessoa, mas ensina também como deve proceder aquele que pretende segui-lo. Toda essa parte é estruturada em função dos três anúncios de sua paixão e ressurreição. Nessas três previsões, Jesus mostra em primeiro lugar qual é o mistério de sua pessoa, mas dá a conhecer também a visão correta que se deve ter da existência cristã. Marcos liga o primeiro anúncio da paixão ao reconhecimento de Pedro que Jesus é o Messias (8,27-30). Dessa maneira, ele quer mostrar como devemos entender Jesus no papel do Messias. Enviado por Deus para falar dele com plenipotência e livrar os homens do poder dos demônios, Jesus cai ele próprio nas mãos do mal e é destruído por esses poderes. Mas é justamente assim que ele vence o mal pela raiz. Com os três anúncios da paixão, Marcos desenvolve seu entendimento da doutrina de plenipotência de Jesus: o poder se perde na impotência, para provar justamente seu caráter de poder absoluto. Jesus precisa sofrer muito (8,31). Fazendo uma referência a Isaías 53,4 poderíamos traduzir essa passagem também assim: ele precisa carregar tudo. É a vontade de Deus que ele carregue sobre os ombros o destino dos homens no lugar deles e que os cure dessa maneira. Em seguida, Marcos enumera os grupos de pessoas responsáveis pela morte de Jesus. Ele será rejeitado ‘pelos anciãos, os sumos sacerdotes e escribas’ (8,31). Os anciãos são os representantes da aristocracia leiga. Os sumos sacerdotes representam toda a classe sacerdotal judaica. E os escribas são os eruditos intelectuais judeus. Nessa passagem, Jesus não menciona os fariseus. Nos debates eles são frequentemente adversários de Jesus, mas discutindo com ele o ajudam também a definir claramente sua posição. Não são adversários que pretendam eliminá-lo. Os três grupos citados, porém, rejeitam Jesus. A palavra grega poderia ser traduzida também como ‘desprezar’. Haveria então novamente uma referência ao canto do Servo de Deus, em Isaías 53,3. O fato de Jesus ter de sofrer muito exprime a intenção salvífica de Deus. Mas o fato de ele ser desprezado descreve o destino que lhe é preparado pelos homens (cf. Grundman, 219). Jesus cumpre o anseio do povo judeu pelo Servo de Deus que se levantará, ‘que carrega nossa doença, que suporta nossas dores, e em cujas chagas encontra-se a cura para nós’ (cf. Is 53,1-12)” (Anselm Grun – Jesus, Caminho para a Liberdade – Loyola).  

 Pe. João Bosco Vieira Leite