4º Domingo do Tempo Comum – ano C

(Jr 1,4-5.17-19; 1Cor 12,31—13,13; Lc 4,21-30).


1. Para lançar luzes sobre a rejeição de Jesus pelos seus conterrâneos, a liturgia da Palavra ilumina a missão profética do mesmo com essa lembrança do chamado de Jeremias na 1ª leitura cujo ministério foi marcado por uma série de fracassos e rejeições por parte até dos amigos e familiares.

2. O profetismo é marcado por esse olhar diferenciado sobre o mundo, sustentado por uma acentuada espiritualidade que percebe o distanciamento dos projetos humanos daquilo que seria desejado por Deus. Assim, coloca em seu coração tal indignação que este não pode calar-se.

3. Deus não engana; o coloca de sobreaviso, mas deixa claro que estará com ele. Jeremias teve sua resistência, mas abraçou a sua missão. Cada batizado carrega em si o selo do profetismo, de uma Palavra que constantemente nos interpela, ilumina e estimula. Como o temos vivido?

4. Depois de afirmar que todos os dons provêm do Espírito Santo e se destinam ao bem comum na construção da comunidade dos fiéis, Paulo fala de um dom maior que faz a tessitura da diversidade dos dons: a caridade. O maior dom de Deus, que age de maneira progressiva para a meta final: Deus, que é o amor pleno.

5. Paulo coloca em cheque essas formas de amor egoístas com as quais nossa sociedade se trasveste e que é capaz até de matar. Paulo despe o amor da pura vaidade e dos interesses com que nos movemos. Assim nos diz o que ele é e faz, lembrando que é a única coisa que nos restará como resultado dessa vida diante de Deus.

6. Uma leitura superficial do nosso evangelho pode nos deixar um pouco confuso nessa sequência de expressões desencontradas entre Jesus e seus conterrâneos. Mas aqui uma coisa está clara, como dissemos sobre a primeira leitura: a rejeição de Jesus.

7. Todos os evangelistas anotam essa realidade. Lucas deixa isso claro logo ao início do seu evangelho para que os discípulos compreendam o que virá pela frente e particularmente a morte de cruz. A mensagem de Jesus dá nova interpretação a uma Palavra que julgavam entender.

8. Outros aspectos se mesclam a essa rejeição: o fato de conhecê-lo desde a juventude, mesmo desconhecendo a sua essência, como alguns entre nós que não avançam no conhecimento da fé e da própria Igreja que os abriga.

9. Por sua vez Jesus não realiza ali nenhum milagre, deixando claro que a sua Palavra, a sua presença já é um milagre. Também nós nos perdemos sobre o verdadeiro sentido com que O buscamos.

10. Jesus deixa claro também que a salvação que Deus anuncia através dele não é um privilégio de Israel, mas para todos. Isso fere a exclusividade com que os judeus se iludiam e como que viam a Deus como juiz sobre os outros povos da terra.

11. O evangelho quer nos aliviar desse pensamento que nos leva a julgar os que não pertencem à nossa Igreja ou mesmo que dizem não ter fé. Por fim, quer ser conforto e esperança para os que levam a Palavra em meio a todos as dificuldades do nosso tempo, pois ‘passando pelo meio deles, continuo o seu caminho’. Façamos também nós o nosso caminho, seguindo os passos de Jesus.

Pe. João Bosco Vieira Leite