(Gn 3,9-24; Sl 89[90]; Mc 8,1-10)
5ª Semana do Tempo Comum.
“Comeram e ficaram
satisfeitos, e recolheram sete cestos com os pedaços que sobraram” Mc 8,8.
“Sobras – que palavra
bonita quando se subtende repartição e satisfação de todas as necessidades de
todas as pessoas. Mas que palavrinha terrível e mais fora de tom quando, por
trás dela permanece a carência como resultado de desigual distribuição. Anos
atrás, a Índia exportava arroz porque os famintos do país não tinham meios para
compra-lo. E o Brasil não só exporta alimentos – que os nossos 32 milhões de
famintos evidentemente não podem comprar – como ainda permite que milhares de
toneladas de grãos simplesmente apodreçam em armazéns burocraticamente
fechados. Qual, pois, o direito de falarmos em sobras, excedentes, supersafras,
termos que tanto enchem a boca de nossos ministros da agricultura? Diante desse
quadro nacional, como ficam os seguidores de Cristo ao meditar sobre o milagre
da multiplicação de pães e suas maravilhosas sobras? Não estaríamos falando
duma coisa sem sentido, ou até mesmo ofensiva, para uma considerável parte dos
habitantes de nosso país? [...] As sobras, no entanto, continuam existindo,
mas, infelizmente, pela insensibilidade humana que pelo milagre de Deus. Esse
milagre, a saber, a natureza criada por Deus, o amor que nos dedica, evidentemente,
é a causa de todas as sobras. Mas que haja sobras escandalosas, irritante,
ultrajantes – só mesmo a insensibilidade e a maldade de quem faz seu estômago
satisfeito o seu aristotélico deus” - Senhor Jesus, não te
pedimos que multipliques apenas os pães. Pedimos-te muito mais: multiplica o
teu amor em nós. Amém” (Martinho Lutero e Iracy Dourado Hoffmann – Graças
a Deus [1995] – Vozes).
Pe. João Bosco Vieira Leite