Missa do Domingo de Ramos 2016 – ano C

1. Nossa reflexão hoje pode começar pelo evangelho que antecede a procissão. Recordamos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.
* Vem montado num jumento, símbolo da simplicidade e do despojamento de qualquer pretensão de poder e força. Esse simbolismo é complementado pelos ramos de oliveira, símbolo da paz.

2. Parece que Jesus está conquistando a cidade, como um novo soberano que chega; “tomou” a cidade sem dominá-la, com seu anúncio do Reino e com seu ensinamento.
* As pessoas que o acompanham são simples e certamente trazem consigo uma história de dominação e veem em Jesus uma luz de esperança, de vida e de libertação.

3. Mas Jesus está ali para oferecer-se a si mesmo e na sua entrega comunicar o verdadeiro sentido da vida. A narrativa da paixão que lemos nesse dia já está prefigurada no texto da 1ª Leitura.
* Nesse misterioso personagem chamado de “Servo” e na sua paixão o profeta Isaías anunciou que aquele que vem montado num jumentinho, não é um vencedor, não tira a vida de ninguém, mas oferece sua própria vida.

4. De certo modo o servo já sabia o que lhe iria acontecer; então, em meio a toda adversidade ele continua confiando em Deus.
* Assim, Paulo oferece esse Jesus em todo o seu despojamento como modelo para uma comunidade envolta em seus problemas internos: quem é o maior, o mais importante...

5. São situações que também nós experimentamos de alguma forma, nas realidades em que vivemos. Mas Paulo não fica só na humilhação e na cruz.
* Paulo canta, desde já, sua glória e ressurreição.  O Pai o ressuscitou, restabelecendo sua glória primeira e deixando a nós o modelo a seguir. Aqui podemos extrair a parte prática de nossa meditação da Palavra.

6. Paulo nos conduz à compreensão que a paz que Jesus nos quer oferecer é resultado de uma luta que travamos conosco primeiramente.
* Uma guerra contínua contra tudo que na nossa vida não for de Deus: contra a soberba, a sensualidade, o egoísmo, a superficialidade, a estreiteza de coração.

7. A quaresma já nos situo nesse campo, pois facilmente esquecemos que a nosso compromisso de andar com Cristo e de sermos sal e luz, demanda contínua revisão de nosso caminhar.
* Quando deixamos de lutar, traímos os ideais de nossa fé. O amor que dizemos ter a Deus exige isso de nós.

8. Talvez tenhamos em conta nesse momento as quedas que continuamente experimentamos ao empreender tal esforço. Deus já conta com elas. “É inevitável que, ao caminharmos, levantemos poeira”.
* As quedas não são o mais importante, elas não são necessariamente sinal de fracasso, mas fazem parte de uma vitória final de Deus, de sua graça que combate conosco.

9. São João da Cruz nos diz que ao final da vida seremos julgados pelo Amor e o Amor buscará ver em nós as marcas de nossa luta.
* Tais considerações podem parecer um tanto piedosas, mas de nada nos adianta a contemplação do mistério de paixão se não olharmos para nós mesmos e não buscarmos alguma identificação com a Palavra que nos é dirigida. 

10. Toda luta exige treino e alimentação adequada. Na oração e nos sacramentos encontraremos a força necessária para seguirmos adiante.
* Morreremos lutando, combatendo o bom combate, como diz Paulo. Deixemos a avaliação da caminhada para Deus; guardemos conosco a certeza de sua misericórdia, que é eterna.



Pe. João Bosco Vieira Leite