1. Nossa reflexão hoje pode começar
pelo evangelho que antecede a procissão. Recordamos a entrada triunfal de Jesus
em Jerusalém.
* Vem montado num jumento, símbolo da
simplicidade e do despojamento de qualquer pretensão de poder e força. Esse
simbolismo é complementado pelos ramos de oliveira, símbolo da paz.
2. Parece que Jesus está conquistando a
cidade, como um novo soberano que chega; “tomou” a cidade sem dominá-la, com
seu anúncio do Reino e com seu ensinamento.
* As pessoas que o acompanham são
simples e certamente trazem consigo uma história de dominação e veem em Jesus
uma luz de esperança, de vida e de libertação.
3. Mas Jesus está ali para oferecer-se
a si mesmo e na sua entrega comunicar o verdadeiro sentido da vida. A narrativa
da paixão que lemos nesse dia já está prefigurada no texto da 1ª Leitura.
* Nesse misterioso personagem chamado
de “Servo” e na sua paixão o profeta Isaías anunciou que aquele que vem montado
num jumentinho, não é um vencedor, não tira a vida de ninguém, mas oferece sua
própria vida.
4. De certo modo o servo já sabia o que
lhe iria acontecer; então, em meio a toda adversidade ele continua confiando em
Deus.
* Assim, Paulo oferece esse Jesus em
todo o seu despojamento como modelo para uma comunidade envolta em seus
problemas internos: quem é o maior, o mais importante...
5. São situações que também nós
experimentamos de alguma forma, nas realidades em que vivemos. Mas Paulo não
fica só na humilhação e na cruz.
* Paulo canta, desde já, sua glória e
ressurreição. O Pai o ressuscitou, restabelecendo sua glória primeira e
deixando a nós o modelo a seguir. Aqui podemos extrair a parte prática de nossa
meditação da Palavra.
6. Paulo nos conduz à compreensão que a
paz que Jesus nos quer oferecer é resultado de uma luta que travamos conosco
primeiramente.
* Uma guerra contínua contra tudo que
na nossa vida não for de Deus: contra a soberba, a sensualidade, o egoísmo, a
superficialidade, a estreiteza de coração.
7. A quaresma já nos situo nesse campo,
pois facilmente esquecemos que a nosso compromisso de andar com Cristo e de
sermos sal e luz, demanda contínua revisão de nosso caminhar.
* Quando deixamos de lutar, traímos os
ideais de nossa fé. O amor que dizemos ter a Deus exige isso de nós.
8. Talvez tenhamos em conta nesse
momento as quedas que continuamente experimentamos ao empreender tal esforço.
Deus já conta com elas. “É inevitável que, ao caminharmos, levantemos poeira”.
* As quedas não são o mais importante,
elas não são necessariamente sinal de fracasso, mas fazem parte de uma vitória
final de Deus, de sua graça que combate conosco.
9. São João da Cruz nos diz que ao
final da vida seremos julgados pelo Amor e o Amor buscará ver em nós as marcas
de nossa luta.
* Tais considerações podem parecer um
tanto piedosas, mas de nada nos adianta a contemplação do mistério de paixão se
não olharmos para nós mesmos e não buscarmos alguma identificação com a Palavra
que nos é dirigida.
10. Toda luta exige treino e alimentação
adequada. Na oração e nos sacramentos encontraremos a força necessária para
seguirmos adiante.
* Morreremos lutando, combatendo o bom
combate, como diz Paulo. Deixemos a avaliação da caminhada para Deus; guardemos
conosco a certeza de sua misericórdia, que é eterna.
Pe. João Bosco
Vieira Leite