5º Domingo da Quaresma – Ano C

(Is 43,16-21; Fl 3,8-14; Jo 8,1-11).

1. Nossa liturgia da palavra se abre com esse texto de Isaias e sua tentativa de animar o povo exilado, recender a esperança e fazê-los saber que Deus não os esqueceu. Enquanto eles recordam as maravilhas do passado e de certo modo cobram por elas, o profeta lhes revela que a proposta de Deus é sempre nova, e precisamos estar abertos a esse seu modo de agir.

2. O retorno será poeticamente maravilhoso. Mas não é tanto dessa novidade que a liturgia quer nos falar, mesmo estando tão próximos da páscoa. A novidade estará no agir de Jesus no evangelho, é para ela que o texto nos prepara; o Deus que faz novas todas as coisas nos convida a rever os parâmetros de julgamento que carregamos.

3. Antes de passarmos ao prato principal oferecido nessa mesa da palavra, acolhemos o testemunho de Paulo sobre a novidade que foi Jesus em sua vida. Já um pouco mais maduro, Paulo analisa seu processo de mudança de pensamento, mesmo não sendo ainda perfeito, para abraçar o ensinamento proposto por Jesus e a salvação que nele encontrou. Nesse processo nada é simples, Paulo se lança para o novo que se apresenta em sua vida.

4. Se foi para nós uma surpresa a imagem de Deus que Jesus nos ofereceu na parábola do filho pródigo, que diremos dessa cena que poderia também ter sido escrita por Lucas? Esta página do evangelho foi alvo de muitas discussões sobre certos princípios morais de nossa sociedade, como a insinuar uma moral conjugal desleixada. Menos ainda que o filho mais novo da parábola, não se percebe nas palavras dela qualquer arrependimento.

5. Apresentam a Jesus apenas a mulher que foi surpreendida em adultério. Quem esteve com ela não aparece. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Imaginemos os ultrajes a que foi submetida até chegar à presença de Jesus. Certamente a levam até ele por causa de sua fama de misturar-se aos pecadores e certamente na intenção de medir seus princípios morais.

6. Ainda que a vida sexual dos outros sempre nos foi fonte de curiosidade, ela não passa de um joguete nos planos contra Jesus, nas mãos daqueles pretensos puritanos. A maneira como Jesus reage a pergunta deles os deixa um tanto inseguros. Talvez Jesus não tenha escrito nada no chão, talvez só estivesse ganhando tempo ou quiçá lembrasse nossa humilde condição do pó de onde saímos. Mesmo assim nos arvoramos a sermos melhores que os outros...

7. Jesus se coloca do lado da mulher e resolve enfrenta-los. Com uma única frase responde de maneira criativa às muitas palavras dos fariseus, penetrando-lhe bem fundo no coração. Jesus os desmascara. Eles sabem que, em sua longa vida, não ficaram sem pecados. A hipocrisia deles é colocada às claras e, envergonhados, vão se afastando.

8. De repente eles estão a sós. Diz santo Agostinho: “Dois ficaram para trás, a miserável e a misericórdia, a coitada e aquele que tem um coração para a coitada”. Jesus se dirige a ela, tirando-a daquele embaraço. Não faz questão de que ela se confesse culpada. Apenas pergunta por seus acusadores.

9. Um peso cai do seu coração em sua resposta. Jesus a perdoa e a encoraja a não pecar mais. Jesus não está desculpando o seu comportamento, pede-lhe que não volte a pecar. Ele lhe transmite a confiança que ela o fará, que é capaz de viver de outra forma. Transmite-lhe confiança e otimismo para o caminho futuro.

10. Esse ano da misericórdia, e essa cena do evangelho nos diz que temos muito ainda a aprender. Sobre esse desejo mórbido de comentar e divulgar os erros e desacertos dos outros. De desferir nossos juízos; de rapidamente condenar os outros esquecidos de nós mesmos. Quanto mais tempo vivemos, mais pecamos. Ninguém é totalmente sem culpa. Ninguém.




Pe. João Bosco Vieira Leite