4º Domingo da Quaresma – Ano C

(Js 5,9a.10-12; Sl 33[34]; 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32)

1. Estamos nos aproximando da celebração da Páscoa e a liturgia nos apresenta esse texto em que o povo, depois da travessia do deserto, celebra outra vez a Páscoa. Um memorial da libertação e dos dons de Deus. Cada domingo é para nós um memorial dessa Páscoa de Jesus e nossa. Na travessia que fazemos, a Eucaristia é nosso alimento celeste. Um dia, ele também cessará para nós, pois de Páscoa em Páscoa, queremos chegar a Páscoa definitiva, a plena posse de tudo aquilo que desde o batismo nos foi prometido: a vida plena em Deus.

2. Na linha dessa mesma proximidade celebrativa da Páscoa, é de Paulo a exortação e o convite à reconciliação com Deus. É função da Igreja proclamar essa necessidade não apenas ritual, mas vital. Permitir que a nossa mente e o nosso coração se abram para o dom que lhe é oferecido. É o mesmo apelo que o papa Francisco dirige a nós nesse ano da misericórdia e nada melhor que a parábola da misericórdia por excelência.

3. Um texto que particularmente abre um leque de indagações e dar-lhe um título não é fácil. Há a história de dois filhos, da relação entre eles e da relação de ambos com o pai. Há um pai que está no centro da história, deve lidar com os dois filhos para ajuda-los a lidar com a dinâmica do amor, da misericórdia, que deveria reger a nossa relação com Deus e com os outros.

4. São muitas as lacunas na narrativa que nos obriga a preenchê-las com o nosso ponto de vista ou com aquilo que vai em nosso coração. O que mais assusta na parábola é o senso de justiça que parece falhar no trato desse pai com os seus filhos. Na realidade eles representam aqueles com quem Jesus faz refeição e aqueles que os criticam. 

5. Na decisão de partir do filho mais jovem se delineia o respeito que Deus tem pela liberdade humana, tanto quanto deveríamos ter em relação aqueles que amamos, por mais difícil que isso seja. Às vezes se parte não só pelo direito a liberdade ou pelo desejo de aventura. Às vezes se busca a paz em situações de conflito, às vezes, para crescer, amadurecer, é preciso tomar distância.

6. Mas parece que ao nosso jovem faltou o equilíbrio necessário; nem sempre estamos prontos para partir, particularmente se não medimos as consequências de nossos atos. É impossível saber se havia um sério arrependimento ou a necessidade falou mais alto. O pai não se importa com nada disso, porque ele ama aos dois filhos. Só o amor ou bem pode resgatar quem está perdido, dirá Jesus.

7. Essa atitude do pai pode dar um nó em nossa cabeça, se pensamos em quem está certo, se agir de maneira irresponsável dá no mesmo... A parábola não faz tais afirmações, mas nos leva a refletir nas situações trágicas que nos cercam. O que parece uma festa pode acabar em prantos...

8. Não deveríamos ficar na torcida para que Deus faça justiça, mas alentar a esperança de que ele, de alguma forma, recupere seus filhos. Como na história, há muitas coisas que nos escapam... A dificuldade do filho mais velho é entrar nessa dinâmica do pai, que vê para além dos simples fatos e nos convida a comungar do seu desejo de recuperar, não de condenar.

9. O filho mais velho, às vezes fala por nós, em outras, nos sentimos o caçula que deu um passo em falso e precisamos de aconchego. O que importa é que não fiquemos de fora desse amor que Deus tem por nós. A parábola pode não ter um final para nós, que ainda nos posicionamos pró ou contra a atitude do pai; isso é um problema nosso; Deus continua amando e muito preocupado em salvar, oxalá pensássemos como ele...



Pe. João Bosco Vieira Leite