Quinta, 11 de fevereiro de 2016


(Dt 30,15-20; Sl 01; Lc 9,22-25) 
Depois das cinzas.

A liturgia da palavra do tempo quaresmal é composta por textos diversos que em sua maioria tem um caráter penitencial. Alguns giram em torno de alguns temas específicos, como este de hoje: trata-se da escolha que o povo de Deus deve fazer antes de entrar na terra prometida; escolher a vida é escolher a Deus, no sentido que Ele é o autor e o protetor da vida. Não nos é permitido tirar ou atentar contra a vida, seja a nossa ou a dos outros. Cuidar da vida tem nuances diversas como nos propõe a Campanha da Fraternidade desse ano com relação ao planeta em que vivemos e as vidas que nele vivem que precisam ser cuidadas. Para completar a reflexão o salmo 01 nos afirma a felicidade de quem segue ao Deus da vida, comparando a uma árvore que na beira da torrente nunca secará. O tempo quaresmal nos propõe rever nossas escolhas.
E por falar em escolha, a palavra de Jesus a seus discípulos sobre a cruz do seguimento aponta para uma atitude de entrega da própria vida ao movimento da vida. Quem, em demasia, se guarda para si mesmo, se preserva dos envolvimentos da dinâmica do viver e conviver, vai perdê-la. A vida é um dom, e todo dom se enriquece a medida que desenvolvemos o que lhe é próprio: é próprio da vida dar-se, é próprio da vida servir. Peçamos ao Senhor a coragem de permitir que a nossa existência se enriqueça de sentido no seguimento a Jesus na descoberta contínua de sua vontade, como fez a Virgem a quem damos o título de Lurdes nesse dia.

Catequese litúrgica: A imposição das cinzas no início da quaresma tem sua origem na liturgia penitencial dos séculos III e IV, onde havia um caráter público do processo penitencial. A penitência pública é anterior à organização da quaresma. A quaresma foi vista como o tempo mais próprio para a comunidade dedicar sua oração e seus cuidados aos catecúmenos e penitentes. A imposição das cinzas como rito de entrada passou a vigorar no século IX e X, mas não era comum a toda a Igreja, somente no final da Idade Média (1453) o rito da imposição das cinzas passou a ser abertura da quaresma e um símbolo penitencial de arrependimento. O significado original da imposição das cinzas está na sua origem bíblica (Mt 11,21; Jo 3,6s): sinal de reconhecimento do pecado e da miséria humana diante de Deus. Mais tarde, a imposição das cinzas passou a ser sinal também da vida transitória de todos nós nesta terra. As cinzas impostas neste tempo costumam provir da queima das palmas e ramos do Domingo de Ramos que sobraram do ano anterior, e assim sempre estamos ligados ao mistério pascal. Esmagando nosso orgulho, vencendo nosso egoísmo, vivendo de maneira humilde, no despojamento e na pobreza, chegaremos à vitória da ressurreição. Construiremos em nós vida nova. A cor desse tempo quaresmal é o roxo.


Pe. João Bosco Vieira Leite