(Ex 3,1-8a.13-15; Sl 102[103]; 1Cor 10,1-6.10.12; Lc 13,1-9)
1. A história de Moisés tem um lugar
especial na história do povo de Deus. É uma vocação que vai amadurecendo ao
longo de uma existência. Salvo das águas, e mesmo criado no palácio do faraó,
sabia a que povo pertencia; ver seu povo escravo o levou a matar para defender,
e a fugir para sobreviver.
2. É do meio de toda essa experiência
que enfim, Deus se revela a Moisés e lhe dá as diretrizes do caminho que deve
seguir: Ele era como uma chama que nunca se extinguiu do seu coração. A
narrativa é teologicamente densa, pois também trata do modo como Deus se
revela: a sarça que queima sem se consumir, o modo de estar na presença de
Deus, o nome de Deus.
3. O “Eu sou” de Deus mantém a sua
atualidade no presente, sem desconectá-lo do passado ou do futuro. Para hoje,
ontem e amanhã, como Deus se revela? Para Moisés, Ele sempre foi o Libertador,
aquele que se identificava com os anseios do seu coração. Ao longo da Bíblia
ele será descoberto como Pai, mãe, esposo, rei, pastor, guia, aliado...
4. Esse ano somos chamados a
descobri-lo sob o manto da misericórdia com que nos envolve em seu amor. Para
sermos misericordiosos como Ele. Cada experiência de Deus que fazemos está
relacionada como aquilo que devemos ser também para os outros. Moisés também
foi chamado de libertador.
5. Na esteira da experiência de Moisés,
Paulo cita o evento do êxodo e da caminhada no deserto e como muitos acabaram
por não entrar na terra prometida. É possível perder-se no caminho, não
entender bem quem é Deus. Paulo lê cada elemento do êxodo sob o simbolismo
cristão e adverte do risco de não entendermos exatamente o que Jesus Cristo nos
propõe.
6. Essa falta de compreensão das coisas
pode nos fazer perplexos com a vida como aqueles que vão anunciar a Jesus as
últimas “manchetes”. Que fazer quando nos sentimos saturados de tantas
situações injustas? Desabafamos e daí? Será que algum gesto mais drástico ou violento
poderia resolver? A palavra de Jesus quer nos oferecer algumas pistas.
7. Para a mentalidade da época, não
existe castigo sem culpa; certamente tratava-se de pecadores... a menção a
Pilatos talvez arrancasse da boca de Jesus um posicionamento político. Jesus
não perde a serenidade nem pronuncia palavras imprudentes. Não relaciona tais
mortes aos pecados dessas pessoas. Acrescenta mais um fato e convida a
reflexão.
8. Muitas pessoas são vítimas de
fatalidades, poderia ser qualquer um, diz Jesus, mas esses fatos podem ser
lidos a partir da necessidade de conversão que a vida nos sugere. Ele não está
fugindo do assunto, apenas conduz o olhar dos seus ouvintes para uma realidade
maior e melhor que a simples murmuração ou a violência a uma estrutura opressora
que desde Pilatos se vem mantendo em muitos lugares.
9. A mudança de mentalidade é a única
esperança de que depois de Pilatos, é possível um governante melhor. Que a
violência não é a melhor saída. Que Deus não está punindo ninguém; que
desastres acontecem, mas Deus não é indiferente ao que nos acontece, que de um
mal poderá tirar algo bom.
10. Que Deus é paciente, nos revela a
parábola da figueira, mas não podemos adiar continuamente as mudanças
necessárias em nossa vida. A liturgia da quaresma quer nos dizer que esse é um
tempo favorável para empreendermos um caminho de conversão. Para que não
morramos do mesmo jeito, sem ter tentado ou buscado sermos melhores.
Pe. João Bosco Vieira Leite